Dilmês castiço – Editorial / O Estado de S. Paulo (21/4/13)
Já
se tornou proverbial a dificuldade que a presidente Dilma Rousseff tem
de concatenar ideias, vírgulas e concordâncias quando discursa de
improviso. No entanto, diante da paralisia do Brasil e da desastrada
condução da política econômica, o que antes causaria somente riso e
seria perdoável agora começa a preocupar. O
despreparo da presidente da República, que se manifesta com frases
estabanadas e raciocínio tortuoso, indica tempos muito difíceis pela
frente, pois é principalmente dela que se esperam a inteligência e a habilidade para enfrentar o atual momento do País.
No
mais recente atentado à lógica, à história e à língua pátria, ocorrido
no último dia 16/4, Dilma comentava o que seu governo pretende fazer em
relação à inflação e, lá pelas tantas, disparou: "E eu quero adentrar
pela questão da inflação e dizer a vocês que a inflação foi uma
conquista desses dez últimos anos do governo do presidente Lula e do meu
governo". Na ânsia de, mais uma vez, assumir para si e para seu chefe, o
ex-presidente Luiz Inácio da Silva, os méritos por algo que não lhes
diz respeito, Dilma, primeiro, cometeu ato falho e, depois, colocou na
conta das "conquistas" do PT o controle da inflação, como se o PT não
tivesse boicotado o Plano Real, este sim, responsável por acabar com a
chaga da inflação no Brasil. Em 1994, quando disputava a Presidência
contra Fernando Henrique Cardoso, Lula chegou a dizer que o Plano Real
era um "estelionato eleitoral".
Deixando
de lado a evidente má-fé da frase, deve-se atribuir a ato falho a
afirmação de que a inflação é "uma conquista", pois é evidente que ela
queria dizer que a conquista é o controle da inflação. Mas é justamente
aí que está o problema todo: se a
presidente não consegue se expressar com um mínimo de clareza em relação
a um assunto tão importante, se ela é capaz de cometer deslizes tão
primários, se ela quer dizer algo expressando seu exato oposto, como
esperar que tenha capacidade para conduzir o governo de modo a debelar a
escalada dos preços e a fazer o País voltar a crescer? Se o distinto
público não consegue entender o que Dilma fala, como acreditar que seus
muitos ministros consigam?
A
impulsividade destrambelhada de Dilma já causou estragos reais. Em
março, durante encontro dos Brics em Durban (África do Sul), a
presidente disse aos jornalistas que não usaria juros para combater a
inflação, sinalizando uma opção preferencial pelo crescimento do Produto
Interno Bruto (PIB), Em sua linguagem peculiar a tala foi a seguinte:
"Eu não concordo com políticas de combate à inflação que olhem a questão
da redução do crescimento econômico. (...) Então, eu acredito o
seguinte: esse receituário que quer matar o doente, ao invés de curar a
doença, ele é complicado. Eu vou acabar com o crescimento no país? Isso
está datado, isso eu acho que é uma política superada". Imediatamente, a
declaração causou nervosismo nos mercados em relação aos juros futuros,
o que obrigou Dilma a tentar negar que havia dito o que disse. E ela,
claro, acusou os jornalistas de terem cometido uma "manipulação
inadmissível" de suas declarações, que apontavam evidente tolerância com
a inflação alta - para não falar da invasão da área exclusiva do Banco
Central.
O
fato é que o governo parece perdido sobre como atacar a alta dos preços
e manter a estabilidade a duras penas conquistada, principalmente com
um Banco Central submisso à presidente. Por razões puramente eleitorais,
Dilma não deverá fazer o que dela se espera, isto é, adotar medidas
amargas para conter a escalada inflacionária. Lançada candidata à
reeleição por Lula, ela já está em campanha.
Num desses discursos de palanque, em Belo Horizonte, Dilma disse, em dilmês castiço, que a inflação já está sob controle, embora todos saibam que não está.
"A inflação, quando olho para a frente, ela está em queda, apesar do
índice anualizado do ano (sic) ainda estar acima do que nós queremos
alcançar, do que nós queremos de ideal", afirmou. E completou: "Os
alimentos também começaram a registrar, mesmo com todas as tentativas de
transformar os alimentos no tomate (sic), os alimentos começaram uma
tendência a reduzir de preço". Ganha um tomate quem conseguir entender essa frase.