quarta-feira, 24 de abril de 2013

Gazeta do Povo. Curitiba. "Para Romano, isso é natural, uma vez que as autoridades costumam punir os delitos de pessoas das classes mais baixas, enquanto fazem vista grossa para crimes de pessoas das classes altas.". Uma boa síntese do que penso.

País do “jeitinho”

Brasileiros acreditam ser fácil descumprir a lei

Pesquisa da FGV mostra que percepção sobre o cumprimento de regras no Brasil é baixo. Índice se apresenta mais elevado entre as pessoas de renda mais baixa
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Publicado em 24/04/2013 | Chico Marés, com agências 

Os brasileiros acreditam que “é fácil” descumprir a lei no Brasil. Pesquisa da Fundação Getúlio Vargas (FGV), que mede a percepção do cumprimento de leis no país, mostra que 82% dos brasileiros pensam dessa maneira. Ainda de acordo com o levantamento, 54% não veem muitas razões para seguir a lei. “Esses dados parecem indicar que a obediência às leis no Brasil ainda exige uma justificativa”, observa a coordenadora da pesquisa, a professora Luciana Gross Cunha. 

Certeza de impunidade
Maioria da população admite cometer pequenos delitos

A pesquisa da Fundação Getúlio Vargas (FGV) mostra que a maioria da população considera errado descumprir a lei, mas, mesmo assim, comete alguns pequenos delitos. Infrações com menor chance de serem repreendidas pelas autoridades são as mais cometidas.

Os pesquisadores questionaram os entrevistados sobre dez pequenas infrações do cotidiano, desde incomodar vizinhos com barulho a cometer pequenos furtos. Mais da metade dos entrevistados disse ter cometido duas delas: atravessar fora da faixa de pedestre e comprar DVDs e CDs piratas (72% e 60%, respectivamente). Uma fatia considerável dos entrevistados também incomodou vizinhos, estacionou em local proibido, jogou lixo no chão ou dirigiu alcoolizado.

O estudo também revela que 79% dos brasileiros acreditam que no país se usa o chamado “jeitinho” sempre que possível. Ainda assim, 74% concordou que todas as pessoas devem seguir a lei, memo que descorde com ela. 

Na avaliação do filósofo e professor de Ética e Ciência Política da Unicamp Roberto Romano, as características identificadas pela pesquisa não tratam de um traço comum específico do brasileiro. De acordo com ele, as leis existem justamente para prevenir os atos nocivos à sociedade, que são, de fato, cometidos pelos seres humanos. Sem um trabalho de mudança de costumes, as leis não são seguidas. Ele critica também a ideia do “jeitinho brasileiro” – em sua opinião, um mito que diminui a população brasileira e prejudica o desenvolvimento do país.

A pesquisa avaliou também o índice de percepção do cumprimento de leis de acordo com renda e escolaridade das pessoas. Segundo os dados levantados, as pessoas mais pobres e com menos escolaridade apresentam um índice mais elevado do que outros segmentos. Para Romano, isso é natural, uma vez que as autoridades costumam punir os delitos de pessoas das classes mais baixas, enquanto fazem vista grossa para crimes de pessoas das classes altas.

Estudo

Os dados fazem parte do Índice de Percepção do Cumprimento da Lei (IPCL Brasil), lançado pelo Centro de Pesquisa Jurídica Aplicada da Escola de Direito de São Paulo. Esse índice visa medir o grau de percepção do brasileiro sobre o respeito às leis e às ordens de autoridades, a partir de um questionário sobre o comportamento dos cidadãos e sobre suas opiniões a respeito do cumprimento das leis. A primeira sondagem foi realizada no último trimestre do ano passado e no primeiro trimestre deste ano, com 3,3 mil entrevistas, em nove estados da federação.