quarta-feira, 17 de abril de 2013

É para tais fins nobres e úteis que existem as universidades públicas. Não são encontradas pesquisas assim, nas privadas, tão queridas pelos apóstolos do mercado livre na hora das investigações.

Baixar versão em PDFCampinas, 08 de abril de 2013 a 14 de abril de 2013 – ANO 2013 – Nº 556

Engenheiro detecta chumbo em tampa
de três marcas de iogurte

Testes feitos no Ital mostram que é alta
a concentração do metal em frascos

Em análises feitas em embalagens plásticas de 900 ml de iogurte de três marcas diferentes comercializadas em supermercados de Campinas foi detectada alta concentração de chumbo nas tampas dos frascos. Os testes foram realizados pelo engenheiro de alimentos Paulo Henrique Massaharu Kiyataka, no Centro de Tecnologia de Embalagem do Instituto de Tecnologia de Alimentos (Ital). Os resultados constam de sua dissertação de mestrado apresentada na Faculdade de Engenharia de Alimentos (FEA). Na avaliação do engenheiro, essas tampas não poderiam ser utilizadas. “Apesar de o contato entre a tampa e o alimento ser mínimo, não há como negar o risco de ocorrer a migração do chumbo para o iogurte, principalmente no manuseio. Um exemplo é o transporte deitado do produto ou estocado de ponta cabeça”, alerta.  

Kiyataka, que realiza este tipo de análise há 13 anos, fez os testes em potes de sorvete de dois litros, e em embalagens de bebidas lácteas de 200 ml e 900 ml para verificar a presença de chumbo, cádmio, mercúrio e arsênio. Uma segunda etapa do trabalho foi verificar a migração dos elementos para os alimentos armazenados nas embalagens estudadas, de iogurte e sorvete, e a migração utilizando um simulante, solução de ácido acético 3%, conforme estabelecido pela da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). 

Nos testes com alimentos e com o simulante, não se observou a migração, exceto nas tampas de frascos de 900 ml de iogurte, que apresentaram uma migração de chumbo para o simulante que representa aproximadamente 0,01% do teor total de chumbo presente nas tampas avaliadas, índice superior ao limite estabelecido pela legislação Anvisa. 

O resultado desperta outra preocupação do engenheiro: a questão ambiental, pois os elementos estudados podem contaminar o meio ambiente por serem tóxicos. Para ele, não existe uma conscientização do consumidor em relação ao descarte deste tipo de material e, se disposto de forma inadequada, pode contaminar solo e água. As embalagens estudadas são feitas de polímero, que é degradado no meio ambiente, mas as substâncias inorgânicas demoram mais para se deteriorar e, com isso, aumenta o risco de contaminação. “Ou seja, o material de embalagem para alimentos deve ser bem especificado, além de ser compatível com o produto acondicionado. Não deve ser uma fonte de contaminação para o alimento e para o meio ambiente, caso seja descartada”, esclarece. 

Ele lembra que o uso de embalagens de polímero para contato com alimentos tem crescido muito nos últimos anos. O consumo de produtos industrializados é o motivo deste aumento, e os contaminantes inorgânicos – tais como os elementos analisados –, cujas maiores fontes são aditivos, podem fazer parte da embalagem e migrar para o alimento. 

Para o autor do estudo, que teve a orientação da professora Juliana Azevedo Lima Pallone, a presença de tampas com alto teor de chumbo é uma falha verificada na indústria de embalagens, na indústria de alimentos e no órgão fiscalizador, demonstrando que o processo de fabricação precisa ser mais bem controlado. 

Segundo o engenheiro, a indústria de alimentos precisa estar sempre atenta à qualidade do material adquirido, uma vez que se trata de acondicionamento de alimentos que serão ingeridos pelo consumidor. Kiyataka alerta também para a necessidade de uma fiscalização mais rigorosa por parte da Vigilância Sanitária. 

“Pelos resultados, notou-se que há o uso de aditivos e substâncias com arsênio, cádmio e, principalmente, chumbo ou matérias-primas contaminadas com esses elementos na produção de embalagem, indicando a necessidade de uma melhor conscientização por parte do fabricante de embalagem e do usuário, fiscalização e uma legislação ambiental”, defende. 

Em sua opinião, é preciso estabelecer limites máximos de contaminantes inorgânicos totais em embalagens, semelhantes aos existentes nos Estados Unidos e na Europa.

Publicação
Dissertação: “Chumbo, cádmio, mercúrio e arsênio em embalagens poliméricas para alimentos por ICP OES”
Autor: Paulo Henrique Massaharu Kiyataka
Orientadora: Juliana Azevedo Lima Pallone
Unidade: Faculdade de Engenharia de Alimentos (FEA)