domingo, 21 de abril de 2013
Enfim, justiça!
Carandiru: resultado do júri é marco civilizatório
por Josias de Souza
Houve um tempo em que o horror chamava menos atenção do brasileiro do
que um chumaço de algodão na paisagem do pólo sul. Despertava menos
interesse do que um biquíni fio dental nas areias de Ipanema. Súbito, em
1992, no massacre do Carandiru, a PM paulista executou 111
presidiários. E o país se chocou com a quantidade.
Embora respirassem, os presos do Carandiru não passavam de abstrações.
Eram narizes sem rosto. Eram acidentes genéticos. Eram nada. Eliminados
em conta-gotas, como de hábito, feneceriam despercebidos. Com a
carnificina, renasceram de forma espetacular. Vieram à luz em meio às
trevas. Atravessados pelas balas da PM, morreram. E, com a morte,
ganharam vida. Obtiveram uma visibilidade hedionda.
A repentina notoriedade dos presos levou-os à vitrine. De respente,
estavam no telejornal do horário nobre, nas manchetes dos jornais, no
topo das revistas… Dali para as folhas da denúncia do Ministério Público
foi um pulo. O ritmo de tartaruga paraplégica do Judiciário retardou o
julgamento. Porém…
Na madrugada deste domingo (21), com mais de duas décadas de atraso, o Tribunal do Júri condenou
23 policiais pelo assassinato de 13 dos 111 eliminados. Somadas, as
penas chegam a 156 anos para cada um. A coisa é ainda provisória. Há
outros PMs por julgar. Ninguém foi em cana. Virão agora os recursos. Um,
dois, três, sabe-se lá quantos! No fim das contas, pode não dar em
nada. Mas o júri condenou!
Num país que celebra o bordão segundo o qual bandido bom é bandido
morto, jurado condenando policial que passou presidiário nas armas não é
pouca coisa. É uma espécie de marco civilizatório. A plateia mal se
refez da surpresa da condenação de 25 poderosos no julgamento do
mensalão e já é submetida a mais essa dose de inusitado. Mantido o
ritmo, o Brasil corre o risco de virar uma nação.