Setor financeiro resiste a Dilma, mas aponta fragilidades de Aécio e Campos
‘Estado’ ouviu 10 influentes integrantes do mercado sobre os principais personagens políticos do País que se articulam para disputar a eleição presidencial
21 de abril de 2013 | 22h 41
Julia Duailibi e Sonia Racy, de O Estado de S. Paulo
A lua de mel que o mercado financeiro viveu com o
governo do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva dissipou-se na gestão
da presidente Dilma Rousseff. A atual política econômica tornou-se alvo
de críticas do setor que, a um ano e meio da eleição, mostra
preferência pelos nomes do senador Aécio Neves (PSDB-MG) e do governador
de Pernambuco, Eduardo Campos (PSB).
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O Estado conversou com dez influentes integrantes do mercado, entre
os quais banqueiros, economistas de instituições financeiras, operadores
e donos de fundos de investimento. Com o compromisso de não se
identificarem, eles traçaram um diagnóstico convergente sobre a gestão
Dilma. Emitiram, ainda, opiniões sobre a sucessão do ano que vem e os
demais presidenciáveis.
Apesar da resistência à presidente e, especificamente, ao ministro da
Fazenda, Guido Mantega, os integrantes do mercado avaliam que Dilma
vencerá a eleição. E no 1.º turno. Aécio e Campos já buscam aproximação
com o mercado, tradicional financiador de campanhas. Neste ano, os dois
se reuniram com donos de bancos e gestores de fundos. Dilma, que manteve
pouco diálogo com o setor nos dois primeiros anos de mandato, acatou
conselho de Lula e, a partir de janeiro, começou a conversar com
banqueiros no Planalto.
Dilma desperta mais restrição no mercado que Lula. Após anos de
desconfiança mútua, o petista começou a mudar o paradigma em 2002,
quando prometeu honrar os contratos por meio da Carta ao Povo
Brasileiro. "Lula foi fantástico para pobres e ricos. Dilma, nem para
ricos nem para pobres, que estão vendo a inflação corroer salários",
disse o dono de um fundo de investimento.
A conjuntura econômica no governo Lula favoreceu a relação. Na sua
gestão, contou com cenário externo favorável, que, aliado a uma política
de aumento real do salário mínimo e de ampliação dos mecanismos de
transferência de renda, permitiu crescimento econômico. Lula manteve
integrantes do governo FHC na equipe, e o presidente do Banco Central,
Henrique Meirelles, era executivo de banco.
Dilma recebeu um real valorizado de R$ 1,65 por dólar e assiste à
queda no preço das commodities. Além da conjuntura, há o estilo: com ela
haveria menos diálogo e mais resistência à iniciativa privada e
interferência no BC. Na semana passada, a taxa de juros aumentou 0,25
ponto porcentual e foi para 7,5%, após declarações polêmicas da
presidente sobre o tema que afetaram o mercado.
"A imagem de Dilma está em processo de deterioração galopante no
mercado. Ela dá sinais conflituosos, interfere na economia com mão
pesada e não tem agenda de reformas", afirmou o diretor de um banco
estrangeiro. Segundo um operador, Dilma não deve falar sobre juros, pois
"descredencia" o Banco Central. Para um investidor, a presidente tem
uma visão contrária à iniciativa privada ao tentar, por exemplo,
diminuir as taxas de retorno dos investidores.
A posição de integrantes do mercado é ponderada por alguns
acadêmicos. Para Francisco Lopreato, da Unicamp, a mudança no patamar de
juros na gestão Dilma está por trás da insatisfação. "Você tem que
tirar um pouco o doce da boca da criança e, provavelmente, eles vão
chorar mesmo."
Em 2011, primeiro ano de gestão Dilma, o BC inaugurou quedas
sucessivas na Selic, estreando a primeira em agosto, quando foi de 12,5%
para 12%. "Alexandre Tombini ( presidente do BC) não é tão market
friendly. Meirelles deixava mais claro o passo que iria tomar. Agora, a
relação mudou. Ficou mais incerta", disse Lopreato.
"A presidente fez mudanças importantes na economia, todas elas,
aliás, reclamadas por amplos segmentos empresariais: redução dos juros,
estabilização cambial, redução do custo da energia, desoneração da folha
de pagamentos, investimento em infraestrutura em parceria com o setor
privado etc. Como em qualquer mudança, há sempre interesses
contrariados, mas creio que são minoritários", disse Ricardo Carneiro,
diretor do Banco Interamericano de Desenvolvimento.
Reuniões. Apesar das críticas a Dilma, o mercado já
"precifica" a eleição de 2014. "Como ela vai ganhar no primeiro turno,
deve minguar o financiamento para os outros candidatos. Ninguém vai por
dinheiro sabendo que o candidato vai perder", afirmou o dono de um fundo
de investimento.
Aécio desperta a confiança do setor em relação à condução da
economia. "Ele é música para os ouvidos do mercado. Ele é visto como o
resgate da agenda de FHC. É mais ortodoxo", disse o economista de um
banco estrangeiro.
Há resistências, porém, sobre seu modo de vida. "Ninguém acredita
que, de fato, queira ser presidente. Sua vida pessoal é incompatível com
a vida pública. E sua atuação como senador é uma piada", disse o
diretor de um banco estrangeiro. "Não sei se aguenta ser presidente, com
uma rotina dura. Parece ficar dividido entre isso e abrir mão da sua
vida atual", disse o dono de um fundo de investimentos.
Campos ainda é visto como uma incógnita, mas que suscita interesse.
"A opinião dele não está clara, mas não há rejeição do mercado a ele",
declarou o banqueiro brasileiro.
"Campos tem história em Pernambuco, está com discurso muito alinhado,
aberto a ouvir. É uma luz no fim do túnel, uma alternativa a Dilma",
disse o diretor do banco estrangeiro. "Ele não é a primeira opção de
ninguém que conheço, mas é definitivamente uma opção", afirmou o
economista.