A FOGUEIRA DAS VAIDADES!
Todas às vezes, ao assistir à TV Senado ou à TV Câmara, quando vejo um senador ou um deputado aproximar-se da tribuna, para realizar seu pronunciamento, fecho meus olhos da face. Abro então, os olhos da alma. Naquele instante, ilustre parlamentar, não enxergo apenas a figura humana, formada de carne, osso, cabelo, pele, órgãos internos e pêlos tudo isto protegido por uma vestimenta. Descortinam-se a cada palavra, a cada frase, a cada ideia, a cada protesto proferido pelo parlamentar, as qualidades que formam o espírito daquele homem público. Ética, firmeza de caráter, imparcialidade no julgar, sentimento cívico, cidadania, amor à Constituição, respeito à nação, experiência política, comprometimento com os anseios do povo, trajetória profissional ilibada, responsabilidade, altivez, altruísmo, cultura, defensor da verdade, partidário da justiça, inimigo do fisiologismo e da corrupção, combatente ferrenho do nepotismo e, acima de tudo, sincero, honesto, trabalhador, um exemplo para todos os brasileiros. Estas qualidades são perceptíveis com os olhos da alma e, quando amalgamadas, formam o verdadeiro e puro espírito do homem público, espírito este que, então se reveste do corpo humano, corpo este que se eleva ao panteão político orgulhosamente carregado pelo povo, que se representa pelos milhares, milhares e milhares de votos dos cidadãos que, se harmonizam, com as propostas e com os sentimentos daquele parlamentar. Entretanto, um súbito estrondo nos toma de sobressalto, obrigando-nos a enxergar a realidade novamente com os olhos da face. E então, quando o homem público condiciona seu voto a um cargo em alguma estatal, sua firmeza de caráter se esvai. Quando o homem público pratica o fisiologismo, sua ética se corrói. Quando o homem público malversa o erário, desrespeita a nação. Quando o homem público abraça a corrupção, seu comprometimento com os anseios do povo, se torna mentira descarada. Quando o homem público faz uso do nepotismo, rasga a Constituição. Quando o homem público alicia o judiciário, seu partido passa a ser o da vergonha. Quando o homem público não vota assuntos de interesse do povo, seu sentimento cívico, sua cidadania e sua responsabilidade, se putrefazem. Quando o homem público mente, sua altivez, seu altruísmo e sua defesa da verdade, desaparecem. Quando um homem público nega a educação ao povo, mostra do que é feita sua cultura. Quando um homem público torna particular o que público é, deixa de ser honesto, trabalhador, sincero e não merece ser exemplo para ninguém. Finalmente o que resta? Resta apenas aquele corpo humano vazio, inerte, quase desfalecido parado sobre aquela gigantesca montanha de votos. Estes votos então, serão transformados em combustível, que alimentará a fogueira inquisitória, onde aquele que não soube servir aos propósitos maiores de uma política ética terá sua carne queimada e, não mais ouviremos os brados retumbantes de um pronunciamento político verdadeiramente justo. Ouviremos apenas aqueles horrendos gritos de desespero de alguém que, pouco a pouco, se vai consumindo na fogueira do esquecimento, do desprezo, em sua própria fogueira de vaidades."
Darcio Barzan Junior, elbarzan@gmail.com
São Paulo