domingo, 5 de abril de 2009

Obrigado, Marco Otterco.


Caro Marco Otterco : obrigado pela solidária apreciação do analfabetismo funcional. Eu diria que no país a disfunção chegou ao delírio. Deixemos os delirantes de lado. Quanto à aula do professor, seria bom recordar que Maquiavel, em carta a um amigo, diz que durante o dia, participava da vida comum, cheia de tolices e palavrões. Mas à noite, depois da refeição, vestia suas melhores roupas e se dirigia ao diálogo com os sábios antigos. Sábios falam aos sábios e dos sábios. A tolice desaparece. Claro que O Príncipe é chato! Bom mesmo é ler os slogans acumulados nos livrecos de auto ajuda, bom mesmo é ler Jorge Amado e Paulo Coelho, bom mesmo é descansar a cabeça com o falatório hipnótico dos filósofos do PT e de seus congêneres...

Quanto ao filme 300, o diretor foi assessorado por Victor Davis Hanson, um dos mais brilhantes historiadores da guerra na Grécia e no mundo antigo. Conservador que apoiou Bush (não sem críticas), ele escreveu livros tremendos sobre a guerra grega. Eu o leio há bom tempo, desde o seu clássicoThe Western Way of War: Infantry Battle in Classical Greece. Depois, a cada novo livro, nova surpresa, não raro desagradável, mas sempre sustentada em técnica historiográfica de primeira linha. Vale a pena ler a sua lista de livros, em parte já traduzidos aqui. As formas de luta, as falas, muita coisa em 300 foram sugeridas por ele, de modo a traduzir o pensamento grego com a maior fidelidade possível. É claro que se torna perfeitamente possível enxergar tudo o que é pior em Esparta, mesmo e sobretudo com as noções trazidas por Hanson. Um escrito pungente e que mostra todo o horror daquela cidade Estado, é o livro dePierre Vidal Naquet: Le Chasseur noir: Formes de pensées et formes de société dans le monde Grec. Paris: Maspero, 1981. (The Black Hunter: Forms of Thought and Forms of Society in the Greek World. Trans. Andrew Szegedy-Maszak. Foreword Bernard Knox. Baltimore: Johns Hopkins UP, 1986). O mesmo autor escreveu um livro que serve para a luta contra o antissemitismo que invade a internet e, mesmo, setores universitários, com a " revisão" do Holocausto e outras coisas: Les Assassins de la mémoire (Ed. Le Seuil, 1995).Existe tradução para a nossa lingua. Enfim... cada professor tem o Leônidas merecido...

Victor Davis Hanson:

http://victorhanson.com/


http://pajamasmedia.com/victordavishanson/




Domingo 5 de Abril de 2009

Analfabetismo funcional e a má qualidade da educação no Brasil

A péssima qualidade na educação em nosso país é um mal que perdura anos a fio. Gerações e gerações de analfabetos funcionais aliado com a leitura relegada no Brasil (seja pelo preço caro dos livros, a dificuldade em encontrar obras da literatura clássica mundial nas livrarias ou com traduções minimamente decentes em português, ou mesmo pelos abomináveis livros de auto-ajuda que dominam e infestam as prateleiras das Mega-Stores do país) causam problemas horrendos. No blog CONTRA A RAISON D'ÉTAT do professor Roberto Romano, há um exemplo claro disso, hoje as pessoas não apenas sentem uma enorme dificuldade em ler e interpretar textos, como escutar e compreender uma entrevista, como no post: O fanatismo atacou, eu não soube, agora publico. Há exemplos crassos desse fenômeno, tão nacional.


A coisa está tão ruim que nessa semana, fui convidado a assistir uma aula de pós-graduação em uma faculdade de Campinas. Na aula o professor abusou da linguagem vulgar e palavras de baixo-calão. Fiquei atordoado ao encontrar uma fala tão chula em um ambiente que deveria ser acadêmico. O professor indicou “O Príncipe de Machiavélli” e perguntou quem já havia lido o livro, nenhum dos 48 alunos levantou a mão! O professor confessou que também não havia lido o livro todo, pois o achara ‘chato’. Como indica um livro que não leu e achou chato?
Em certo momento de sua aula, dava exemplo de como um ‘líder’ deve guiar pelo exemplo (era uma pós de Gestão de Pessoas) e utilizou o filme 300 como mote, o intuito do professor era fazer o contraponto entre quem lidera pela confiança que transparece contra quem lidera pela força. Não me contive o interrompi, dizendo que Sparta era uma tirania, onde se pegava os jovens com 7 anos de idade e os entregava à tutela do Estado para que fossem doutrinados como soldados, máquinas de guerra altamente disciplinadas. Obtive como resposta a pérola: “No filme 300, o líder (nem conseguiu citar o nome de Leônidas) liderou pela confiança e obteve a vitória!”. Retruquei: “Mas 300, é baseado em uma obra fictícia de uma Graphic Novel de Frank Miller, que entre outras coisas, escreveu histórias do Batman, por muito tempo. O relato histórico das Thermópilas se encontra em Heródoto. Mesmo assim, o filme mesmo sendo horrendo em todos os sentidos, mostra essa doutrina pelo Estado e que não foi uma vitória, todos morreram, o objetivo de Leônidas e seus homens era atrasar ao máximo o exército Persa, para que as Cidades-Estado gregas pudessem se organizar e rechaçar a invasão.”


O professor se manteve irredutível, seus alunos, mudos sem contestá-lo, me retirei da aula e depois disse ao amigo que havia me pedido para assistir a aula, que realmente o nível de seu professor deixava muito a desejar. Professores como esse é a regra hoje em nosso país, são chamados de mestre na rua, mesmo sem possuir o título. Professores como Roberto Romano, são exceções. Além do mais são perseguidos por dizerem a realidade, ou mesmo, não são compreendidos. O negócio é citar 300 em sala de aula, falar que Machiavélli é ‘um saco’ e descer palavrões quando se ensina.


Me lembro do Pink Floyd, em sua célebre música : “Another Brick In the Wall: Hey, Teacher, leave these kids alone!”