domingo, 5 de abril de 2009

Que se vayan todos!!!!

COMENTÁRIO: É tentador em demasia recordar, diante de " notícias" velhas como a que segue abaixo, a passagem da cantiga popular : " Se gritar pega ladrão, não fica um meu irmão!". E não fica mesmo. Estamos passando perigosamente dos limites nos quais era decente dizer, antes de enumerar as façanhas dos nossos políticos, alguma coisa sobre as " exceções honrosas". Não há honra, nem exceção. Salvo o permanente estado de exceção a nós imposto pelos que usufruem do excepcional foro privilegiado. Enquanto o STF (e não vejo mais nenhum setor que possa mudar o caso) não proclamar inconstitucional o dito desaforo privilegiado, a dança com nossos dinheiros será retomada. Ou alguém tem dúvidas de que o dinheiro da " Camargo Correia" tem sua fonte nos nossos bolsos?

Maravilha é o uso do eufemismo, pelos jornalistas que não querem ou não podem enunciar a coisa tal como ela é realmente (ah, louco Raul Seixas, " eu não preciso ler jornais, mentir sozinho eu sou capaz, não quero ir de encontro ao azar..."). Não, não me refiro à fala políticamente calhorda, dita " correta". A cumplicidade no assalto à respublica, no texto abaixo, foi embelezada com uma ridícula "boas relações". Todos tem boas relações com a Camargo e demais empreiteiras. Ou seja, todos estão no rol dos que recebem nosso dinheiro, por mediação nada santificada das empreiteiras.

Esta situação é velhíssima. Ela remonta, pelo menos, ao governo não ditatorial de Vargas. A primeira estrada asfaltada do país, trecho Juiz de Fora/Rio, Juiz de Fora/ São Paulo, era semeada de curvas mortais, que devoraram milhares de seres humanos. Quando foi refeita, diminuiram horas de trajeto. Quanto mais kilometros cobertos, mais lucro para as empreiteiras. No governo Juscelino brotou a grande mina de ouro para as empresas " capitalistas", que passaram a mamar sem nenhuma restrição nas tetas do governo (cito Delfim Netto, o quase sequestrado pela Sra. Dilma Roussef, nossa futura líder...) com abertura de estradas sem fim, Brasilia e otras cositas más. As ditas empresas " capitalistas" (o capital é nosso, portanto, elas seriam no máximo agenciadoras, mas no Brasil impera o eufemismo) dominaram os generais (sim, os mesmos que berravam contra a corrupção e o comunismo acabaram impotentes diante de uns e agora enxergam, com raiva, outros no Planalto, se preparando para sentar na cadeira presidencial) e foram as donas do governo Sarney, do " governo" Collor e nada perderam de seu poder de fogo sob o manto do grão tucanato.

Em suma: certa feita o grande sábio José Genoino disse que o PT estava no governo, mas não tinha o poder. Santa verdade! O poder está nas mãos dos bancos, das empreiteiras, etc. Os senadores e deputados são apenas e tão somente funcionários das ditas empresas. Nada mais. Funcionários? Sou muito generoso, serviçais ou servos seria mais exato. É sempre assim: arrogância contra a opinião pública, a imprensa que não se vende de maneira total, contra o cidadão " comum" escorchado por impostos que nada trazem de volta.

Estamos no limite, dizia acima, a partir do qual não existem mais " honrosas exceções". e quando o fato ocorre, foram ultrapassados os limites da certeza : o Legislativo, ou mesmo todas as instituições do Estado de Direito, deixam de ser prezadas pela cidadania. Larápios não merecem respeito, nem devem ser obedecidos, salvo sob a coação das armas. É exatamente o que ocorre no Brasil. Sem as armas, os tiranos do Congresso e de outros setores do Estado já teriam sido expulsos.

Se existem exceções secretas no Legislativo, elas que iniciem já, e rápido, uma campanha real de mudanças rumo à seriedade honesta. Enquanto tal coisa não ocorrer, estamos em estado de rebelião nascente. E todos sabem o que brota de rebeliões, no desespero : a ditadura espera, logo alí na esquina. E tal ocorrência não agrada quem pensa com prudência e rigor.

Vergonha, triste Brasil.

RR




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São Paulo, domingo, 05 de abril de 2009



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Base e oposição descartam CPI sobre Camargo Corrêa
55% dos congressistas atuais receberam doações legais de construtoras, segundo o TSE


Para líder de partido aliado, CPI sobre a Camargo seria "destampar uma panela de pressão'; oposicionista diz que haveria "efeito dominó"


KENNEDY ALENCAR
RANIER BRAGON
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Em conversas reservadas com a Folha, deputados e senadores governistas e da oposição disseram que não há a menor chance de criação de uma CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito) para investigar a empreiteira Camargo Corrêa, alvo da Operação Castelo de Areia, da Polícia Federal.

As empreiteiras deram contribuições financeiras legais para 55% dos atuais congressistas, segundo dados fornecidos ao TSE (Tribunal Superior Eleitoral) -sem contar eventuais doações ilegais.

Um líder de partido aliado ao governo disse que investigar a Camargo Corrêa equivaleria "a destampar uma panela de pressão". Um deputado da oposição afirmou que poderia haver um "efeito dominó" -começar a investigar a Camargo Corrêa e chegar a outras empresas.

Há também interesses específicos dos aliados do presidente Lula em jogar contra uma CPI. A Camargo Corrêa, segunda empreiteira com maior receita líquida no país, tem boa relação com o PT e com a ministra Dilma Rousseff (Casa Civil), potencial candidata à Presidência em 2010.

Além disso, a construtora participa de várias obras do PAC (Programa de Aceleração do Crescimento), sendo vista como uma parceira do governo para tocar investimentos do pacote de obras de Lula para tentar mitigar efeitos negativos da crise econômica.

Os dois tucanos presidenciáveis, os governadores José Serra (SP) e Aécio Neves (MG), também são apontados como políticos que possuem boas relações com a empreiteira. A Camargo Corrêa foi a maior doadora individual da campanha de Serra à Prefeitura de São Paulo, em 2004, com R$ 1 milhão. Aécio foi o quarto político que mais recursos recebeu das empresas do grupo em 2006, com R$ 379 mil.

Do lado do governo, pesa ainda outro fator para evitar a CPI. O Palácio do Planalto avalia que o estrago político da Operação Castelo de Areia já foi feito e atingiu a oposição, sobretudo o DEM, partido que faz críticas mais incisivas à administração petista.

Um dos articuladores do Planalto no Congresso disse que o Ministério Público Federal e a Justiça Federal, ao destacarem supostas irregularidades no financiamento eleitoral para partidos de oposição (PPS e DEM), atingiram partidos que incomodam o governo. Numa CPI, o governo teria mais a perder, porque, até agora, o PT tem se mantido preservado nos desdobramentos da Operação Castelo de Areia.

Como o governo Lula tem maioria ampla na Câmara e maioria numérica no Senado, dificilmente uma CPI prosperará, ainda mais sem entusiasmo da oposição. A ideia de uma CPI para investigar relações da Camargo com a Petrobras, aventada pela oposição, é vista pelo Planalto como um blefe.


Doações da Camargo

A Camargo Corrêa fez apostas em políticos com posições vitais no Congresso. Trinta e seis dos atuais 513 deputados e 81 senadores receberam em 2006 -ano das últimas eleições para o Congresso- doações da Camargo Corrêa ou de empresas controladas por ela. O foco foi em políticos que integraram ou integram a cúpula do Congresso, sejam governistas ou de oposição.

Entre os destinatários das doações, nove ocupam cargos de comando no Congresso, dois são ex-presidentes da Câmara e dois, dirigentes partidários.

A Camargo Corrêa é uma das maiores doadoras de recursos para candidatos a cargos públicos. Ela controla, é coligada ou tem participação em 27 empresas dos ramos de engenharia, construção, siderurgia, calçado, têxtil, entre outros, de acordo com a estrutura societária apresentada em seu site.

Em 2006, as doações diretas das empresas que controla feitas a candidatos ou a comitês financeiros somaram R$ 16,7 milhões, valor que teve acréscimo de pelo menos R$ 6,3 milhões doados naquele ano a PT, DEM e PSDB (doações somente no nome da Camargo Corrêa), que geralmente repassam esses recursos para os candidatos.


Petistas e tucanos

Entre as doações feitas diretamente (sem passar pelos caixas dos partidos), o hoje secretário-geral do PT, José Eduardo Cardozo (SP), recebeu R$ 160 mil. O líder do partido no Senado, Aloizio Mercadante (SP), recebeu R$ 200 mil. O líder da bancada petista na Câmara, Candido Vaccarezza (SP), R$ 90 mil.

Os ex-presidentes da Câmara Arlindo Chinaglia (PT-SP), com R$ 210 mil, e Aldo Rebelo (PC do B-SP), com R$ 250 mil, também foram beneficiários das doações. Na época, Aldo era o presidente da Câmara. O atual ocupante do cargo, Michel Temer (PMDB-SP), recebeu R$ 50 mil.

Entre a oposição, estão na lista deputados tucanos como Paulo Renato (SP) e Edson Aparecido (SP), que receberam R$ 100 mil cada um. O presidente do DEM, Rodrigo Maia, obteve doação de R$ 50 mil.

Também em 2006, a Camargo Corrêa doou R$ 3,5 milhões para o comitê de reeleição do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Ao comitê do candidato tucano à Presidência, Geraldo Alckmin, foram R$ 785 mil.

Nas últimas eleições, as de 2008 (para prefeitos e vereadores), o grupo Camargo Corrêa diz ter doado R$ 23,9 milhões a partidos políticos e candidatos.