sábado, 18 de abril de 2009

Quem mente, mesmo?

Esta entrevista recente ao jornal O Globo, me trouxe o incômodo de ser chamado de "mentiroso" por José Dirceu. Após áspera troca de artigos, no Correio Popular de Campinas, o político petista baixou um pouco a guarda. Só gostaria de ver a face luzidia de Dirceu, com a novas de seus ex-pares (que o cassaram por falta de decoro, credo!) que brincam de roubar o nosso bolso, e "institucionalizam" o furto, concedendo privilégios à sua prole, como se estivéssemos (mas na verdade, eles tem razão, pois estamos) no Antigo Regime, antes da Revolução Francesa e de outras Revoluções democráticas. Que se vayan todos, é só o que se pode dizer. E vale, inclusive e sobretudo, para os santos do PSOL, os profetas da honestidade que agora entram, com todas as honras, para o rol da ex-querda.Eles se juntam a policiais e nadam nos privilégios. Que a terra lhes seja leve.

RR


09 de abril de 2009 | Atualizada às 22h34m
/ Caderno A / Política Nacional /

Entrevista -Roberto Romano

Publicada: 08/02/2009

Texto: Flávio Freire (da Agência Globo)

SÃO PAULO - A avalanche de denúncias contra o deputado Edmar Moreira (DEM-MG), eleito 2º secretário e corregedor da Câmara há uma semana, fez lembrar ao professor de Ética e Filosofia da Unicamp,Roberto Romano, um artigo que escrevera durante os trabalhos da Assembleia Nacional Constituinte, intitulado “O prostíbulo risonho”. Tratava das negociações e práticas “fisiológicas” conduzidas pelo Centrão, o bloco suprapartidário comandado pelo então presidente da República, José Sarney. O texto valeu a Romano um processo judicial. As lembranças do Centrão também se avivaram com a eleição de Sarney para presidente do Senado, e de Michel Temer para o comando da Câmara. Para Romano, o PMDB que se fortalece hoje no Congresso é a mesma “federação de oligarquias” dos anos 80, que terá agora um campo de manobra que deve levar à política chantagista contra o governo. O candidato que se aliar ao partido em 2010, diz, levará vantagem. Mas pagará um preço.

O Globo: O senhor acha que o episódio envolvendo o novo Corregedor da Câmara, Edmar Moreira (DEM-MG), é um reflexo da impunidade que paira sobre o Congresso?

Roberto Romano: No período do Centrão (bloco suprapartidário que atuou durante a Assembleia Nacional Constituinte), escrevi certo artigo que me valeu um processo na Justiça, movido por uma liderança parlamentar. O título do artigo era o seguinte: “O prostíbulo risonho”. O caso do corregedor que burla o Fisco, não paga o governo pelo INSS de seus funcionários e ainda ostenta o título de “corregedor” é mais do que triste. É uma comédia de erros. O pior é ter aquele personagem o apoio de lideranças petistas, as antigas monopolizadoras da ética na política. Se o povo olhasse as mãos dos que confeccionam nossos ordenamentos legais, o cidadão que paga impostos apelaria, de imediato, para o controle sanitário.

AG: O que o senhor acha do fortalecimento do PMDB, que ganhou as presidências da Câmara e do Senado?

Romano : O PMDB é uma federação de oligarquias e nele os ganhos e perdas, em termos táticos ou estratégicos, dificilmente são distribuídos de maneira igual. Eu diria que saiu vitoriosa a facção com o perfil do franciscanismo político (a política do “é dando que se recebe”), a que imperou com o Centrão, no qual a fisiologia atingiu seu ponto mais lamentável. Não saíram vencedores (os senadores) Jarbas Vasconcelos, Pedro Simon e outras lideranças peemedebistas cuja origem se aproxima de Ulysses Guimarães e de outros estadistas. Se o PMDB é um organismo sempre tenso, devido aos interesses conflitantes dos oligarcas que o dividem, as presidências do Senado e da Câmara servem mais para garantir um campo de manobra, um balcão onde o Executivo será chantageado com exigências de cargos, ou bajulado, tendo em vista os mesmos cargos, recursos.

AG: Até que ponto é possível acreditar que o governo será chantageado pelo PMDB?

Romano: Os governos civis, desde o começo da fase democrática que substituiu os militares, são chantageados de todos os modos pelo PMDB. Aquela federação oligárquica ostenta um amplo know how e tem patente no assunto.

w AG: Há quem considere a eleição de José Sarney e Michel Temer para o comando do Congresso uma volta ao passado. Qual sua avaliação?

Romano : No caso de Sarney é um claro retorno ao Centrão, acrescido de adversários oligárquicos, como Fernando Collor. Um adendo lamentável: na época do Centrão, o PT pregava a ética política radical e, mesmo, moralista. É daquele período o slogan que rezava serem todos os demais partidos “farinha do mesmo saco” e que o PT seria o único diferente. Hoje, o PT entra e joga alegremente sua farinha no saco da política “realista”. O passado, no plano senatorial, voltou.

AG: Qual pode ser o peso do PMDB no processo eleitoral, já que 2010 será uma eleição sem Lula como candidato?

Romano : O PMDB, sendo uma federação oligárquica, tem bases fortes em todo o país. Se um dos candidatos conseguir o apoio do PMDB de uma das regiões, conforme a densidade populacional e eleitoral da região, ele terá vantagem manifesta sobre os demais. Uma hipótese: se o PSDB escolher Serra (o governador paulista, José Serra) e Aécio (o governador de Minas, Aécio Neves) for levado a entrar para o PMDB, várias regiões estão, de imediato, perdidas para Serra. No caso de Dilma Rousseff (chefe da Casa Civil), caso ela queira apoio de oligarcas desta ou daquela região, sabe que a conta a ser paga, antes das eleições, é salgada.

AG: Que avaliação faz do Congresso que optou por manter nomes da velha política?

Romano :
Se existe legislatura abaixo de qualquer expectativa positiva, podemos falar da atual. Assuntos de interesse coletivo, como a crise na economia, os problemas de ciência e tecnologia, a segurança pública, a saúde etc., passam ao largo dos debates no Congresso.

AG: A oposição se fortalece ou não com a eleição de Temer e Sarney, lembrando que o próprio PSDB rachou?

Romano : Com certeza, o PSDB saiu enfraquecido no episódio. A seguir ocorreu outra ruptura grave no partido, na disputa pela liderança na Câmara. O PSDB só poderá atenuar a perda e as futuras sangrias de poder se praticar uma política interna baseada em diálogo e democracia. Se imitar procedimentos do PMDB ou do PT atual, prejudicará a candidatura de seu político com mais condições de disputar a Presidência.