6.4.2009
| 9h03m
Comentário
A nossa matrioshka
Sabe a matrioshka, também conhecida como babuska, aquele tradicional brinquedo russo constituído por uma série de bonecas postas umas dentro das outras?
Pois o Senado é uma gigantesca matrioshka. Com uma diferença em relação à matrioshka comum: esta costuma esconder, em média, seis bonecas.
Ninguém faz a mínima idéia sobre o número de pequenos grandes escândalos que o Senado esconde.
Quantos deles foram parcialmente expostos até aqui desde a descoberta do escândalo pai de todos os escândalos – o do pagamento de quase R$ 7 milhões a 3.800 funcionários por horas extras não trabalhadas durante o recesso do Congresso em janeiro último?
Foram cinco? Oito? Mais de 10? Perdeu a conta? Eu perdi.
A desvantagem da descoberta de tantos em período de tempo tão curto é que os mais antigos tendem a cair no esquecimento.
Quem ainda discute a espantosa cifra de 181 diretorias criadas só para aumentar a renda de funcionários privilegiados?
Ao se ver forçado a extinguir dezenas de diretorias de uma vez, o Senado preferiu anunciar que na verdade elas não passavam de 38. Nenhuma foi pelo ralo até agora.
Na semana passada, foi pelo ralo o cargo do funcionário que resolveu levantar os gastos ilimitados dos senadores com celulares. Quer números?
Gracinha! São secretos.
Tasso Jereissati (PSDB-CE) trocou bilhetes aéreos que recebeu do Senado por dinheiro vivo. E com ele fretou jatinhos.
Outros senadores se apressaram a dizer que fizeram a mesma coisa - tudo legal, autorizado pelo Diretor-Geral do Senado.
Legal não foi.
Você pode fazer com seu dinheiro particular tudo o que a lei não proibir. Mas com dinheiro público só pode fazer o que for permitido por lei.
A troca por dinheiro de bilhetes aéreos comprados com dinheiro público não é autorizada por lei alguma.
Quem infringiu a lei foi o Diretor-Geral do Senado. Jereissati e outros senadores infringiram a ética.
Menos mal? Pois sim. Tão ruim quanto.
Há que se investigar e dar tempo ao tempo para que a nossa matrioshka assuma suas reais proporções.
Ela voltou a crescer no último sábado com o registro da proliferação de comissões destinadas a cuidar de tudo, de nada ou de qualquer coisa – da afinação do coral do Senado ao processo de paz na Colômbia.
Funcionário designado para tais organismos costuma ser gratificado. Ninguém é de ferro. Um dinheirinho extra só faz mal a quem paga impostos.
A nossa matrioshka cresceu mais ainda ontem com a revelação feita pelo O GLOBO de que o Senado inflacionou o número de beneficiados com plano de saúde. E por que?
Para ocultar que é dele o maior custo individual com plano de saúde.
À Comissão de Orçamento do Congresso, o Senado informou que pagava serviços médicos e odontológicos de um total de quase 42 mil pessoas, entre funcionários e seus dependentes.
Se fossem 42 mil, o custo unitário ficaria abaixo de R$ 1.500,00. Como de fato são 23,6 mil, o custo é de R$ 2.607,43.
O gasto médio do Executivo, Legislativo e Judiciário é de menos de R$ 635,00 por beneficiário. Ou seja: 24% do que o Senado estima gastar.
A Comissão de Orçamento é formada por senadores e deputados.
O Senado cometeu a proeza de enganar ele mesmo, a Câmara e o governo responsável pela elaboração do orçamento da União.
Quer parar por aqui?
Está enojado de ler novamente sobre o lixo acumulado por aquela que foi considerada no passado a Casa mais respeitável do parlamento?
Sente um certo formigamento nos braços?
Passa-lhe pela cabeça a insana idéia de que a saída seria fechar o Congresso e jogar a chave no lixo?
Você está errado. Não é por aí. Jamais será.
A saída é votar melhor da próxima vez. E da próxima. E sempre.