A Câmara e a moral dos gomos de lingüiça
“As coisas vão acontecendo de acordo com os acontecimentos. E o que se exige agora é isso: uma disciplinação da emissão de passagens. Agora, diante dos fatos novos, vamos fazer uma nova reunião para discutir esse assunto".
Essa fala magnífica é do presidente da Câmara, Michel Temer (PMDB-SP). Ele está se referindo à “disciplinação” das passagens aéreas, sabem? E, como a gente vê, a moral vigente é um verdadeiro work in progress: as coisas vão acontecendo de acordo com os acontecimentos.
Isso me lembra uma piada da infância, vinda lá do mato. Talvez só faça sentido para caipiras como eu. O sujeito quer ser confessar, mas o velho padre da vila, já cego, está doente e só atende em sua casa. O pecador encontra o velhinho acamado. Ajoelha-se diante do leito do confessor e nota que, num armário ao lado, há um recipiente cheio de lingüiça. Começa a confissão:
- Padre, roubei um gomo de lingüiça...
- Tá bom, meu filho, tá perdoado. Reze três Ave-Marias!
- Padre, roubei outro gomo de lingüiça...
- Não tem importância, então reze quatro...
- Padre, roubei mais um gomo de lingüiça...
- Meu filho, por que você não me diz de uma vez quantos gomos de lingüiça você roubou?
- Porque eu não sei quantos gomos há na bacia, padre.
É isso aí. A fala de Temer revela a moral dos gomos de lingüiça. Será, assim, tão difícil dizer o que pode e o que não pode ser feito com as passagens aéreas? O tal deputado Fábio Faria — chamado deliciosamente pela imprensa de “ex de Adriane Galisteu”, elevou a farra ao sublime. O valente usou dinheiro da Câmara para levar os atores Kayke Brito, Stephany Brito e Samara Felippo para a micareta de Natal, em dezembro de 2007. A Câmara arcou com o custo, ainda, de sete viagens de Galisteu e de uma da mãe da apresentadora. Um amigo de Faria, Carlos Torreli, foi para os EUA e espetou a conta no erário. O deputado, honestíssimo, devolveu o dinheiro à Casa — menos aquele referente às passagens de Galisteu. Segundo diz, eles eram “companheiros”. Quem diria! Galisteu estava casada, e o mundo das celebridades não sabia! O caso de Fábio Faria foi encaminhado à Corregedoria.
Qual a dificuldade em disciplinar a questão quando não se está pensando em garantir uma mamata? Parlamentares que não são de Brasília deveriam ter direito a quatro passagens de ida e volta a seus estados. Ponto final. E só os próprios poderiam usar o benefício. "Mas e os familiares?" Ora, farão como os brasileiros comuns: andarão de avião se puderem pagar por isso. “Mas e as obrigações partidárias?” Que sejam pagas pelo partido.
O resto é moral dos gomos de lingüiça.
Essa fala magnífica é do presidente da Câmara, Michel Temer (PMDB-SP). Ele está se referindo à “disciplinação” das passagens aéreas, sabem? E, como a gente vê, a moral vigente é um verdadeiro work in progress: as coisas vão acontecendo de acordo com os acontecimentos.
Isso me lembra uma piada da infância, vinda lá do mato. Talvez só faça sentido para caipiras como eu. O sujeito quer ser confessar, mas o velho padre da vila, já cego, está doente e só atende em sua casa. O pecador encontra o velhinho acamado. Ajoelha-se diante do leito do confessor e nota que, num armário ao lado, há um recipiente cheio de lingüiça. Começa a confissão:
- Padre, roubei um gomo de lingüiça...
- Tá bom, meu filho, tá perdoado. Reze três Ave-Marias!
- Padre, roubei outro gomo de lingüiça...
- Não tem importância, então reze quatro...
- Padre, roubei mais um gomo de lingüiça...
- Meu filho, por que você não me diz de uma vez quantos gomos de lingüiça você roubou?
- Porque eu não sei quantos gomos há na bacia, padre.
É isso aí. A fala de Temer revela a moral dos gomos de lingüiça. Será, assim, tão difícil dizer o que pode e o que não pode ser feito com as passagens aéreas? O tal deputado Fábio Faria — chamado deliciosamente pela imprensa de “ex de Adriane Galisteu”, elevou a farra ao sublime. O valente usou dinheiro da Câmara para levar os atores Kayke Brito, Stephany Brito e Samara Felippo para a micareta de Natal, em dezembro de 2007. A Câmara arcou com o custo, ainda, de sete viagens de Galisteu e de uma da mãe da apresentadora. Um amigo de Faria, Carlos Torreli, foi para os EUA e espetou a conta no erário. O deputado, honestíssimo, devolveu o dinheiro à Casa — menos aquele referente às passagens de Galisteu. Segundo diz, eles eram “companheiros”. Quem diria! Galisteu estava casada, e o mundo das celebridades não sabia! O caso de Fábio Faria foi encaminhado à Corregedoria.
Qual a dificuldade em disciplinar a questão quando não se está pensando em garantir uma mamata? Parlamentares que não são de Brasília deveriam ter direito a quatro passagens de ida e volta a seus estados. Ponto final. E só os próprios poderiam usar o benefício. "Mas e os familiares?" Ora, farão como os brasileiros comuns: andarão de avião se puderem pagar por isso. “Mas e as obrigações partidárias?” Que sejam pagas pelo partido.
O resto é moral dos gomos de lingüiça.