quinta-feira, 29 de abril de 2010
General, general ...
Fonte: primeira página do The New York Times, 27/4/2010.
Com uma manchete antológica, “We Have Met the Enemy and He Is PowerPoint” [“Nós encontramos o inimigo e ele é o PowerPoint”], Elisabeth Bumiller relata em reportagem no The New York Times de ontem a piada que o general Stanley A. McChrystal, o líder das forças norte-americanas e da NATO no Afeganistão, fez ao observar, no último verão, o slide de PowerPoint que, querendo mostrar a complexidade da estratégia militar norte-americana, revelou-se, sem querer, um enorme prato de spaguetti: “When we understand that slide, we’ll have won the war” [“Quando nós entendermos esse slide, nós venceremos a guerra”]. Genial! O único problema dessa piada é ela errar o alvo, aliás, prática useira e vezeira dos bombardeiros controlados a mais de 10 mil quilômetros de distância por controle remoto – videogame -, de uma base militar em Nevada, a uma hora de Las Vegas, e do quartel-general da CIA, em Langley, onde jovens soldados pilotam virtualmente os aviões de combate Predators e Reapers, cujas bombas, não virtuais, estraçalham e dizimam milhares de civis inocentes em zonas tribais do Paquistão e confins do Afeganistão – não há imprensa por lá para registrar essas atrocidades. O problema aí não é o PowerPoint. É verdade que há um Conteúdo Manifesto presente em jogo que é a babaquice de uma razão que, através de técnicas e metodologias importadas dos cursos sofisticados, “chiques” de Administração, os famigerados “MBAs”, tenta transportar para a guerra aquilo que supostamente “deu certo” no mundo dos negócios – perfeito, aliás, esse casamento entre guerra e negócios! Sai das melhores universidades americanas a NATA intelectual que coordena a guerra – fato já presente na Alemanha nazista: os inventores dos campos de concentração nazistas foram os doutores egressos das melhores universidades da Alemanha! Ao contrário da afirmação de Goya, não é o sono da razão que produz monstros, é o sonho! Porém, o que preocupa é o Conteúdo Latente da piada do general. Ele acredita piamente que essa guerra poderá ser ganha, quando de há muito ela está perdida. O general ri do PowerPoint quando deveria chorar por não conseguir responder a única questão séria dessa piada: o que os Estados Unidos continuam fazendo por lá? Essa pergunta, nunca presente no filme ganhador do Oscar de 2010, o horrível e ridículo “Guerra ao Terror”, um incrível manifesto pró-guerra, cujo final é a síntese dessa América que não é mais América – o “herói”-soldado-operário padrão retorna para o exterior pensando estar salvando o interior de sua pátria de vinte marcas de sucrilhos. Que isso tenha saído da cabeça e das mãos de uma mulher não deixa de causar espanto. Podem falar o que quiserem de Avatar, mas essa canalhice ele não contém. Assim, o general de Cristal rachado ri enquanto seus comandos em ação continuam matando gente inocente lá onde o diabo perdeu as botas. Esse Patton de opereta acredita que vai ganhar a guerra. Senhor general Big Mac, o problema não é o PowerPoint. O problema é como explicar que a maior democracia do mundo mantenha funcionando um campo de concentração chamado Guantánamo, “open” vinte e quatro horas por dia, e faça uma guerra de ocupação, “delivery”, uma guerra de espoliação, uma guerra de genocídio vinte e quatro horas por dia – deve ser da moral protestante esse fascínio pelo trabalho sem parar - contra o povo assassinado do Afeganistão e o povo desmembrado do Iraque. Quando as respostas para essas perguntas não podem ser ditas, senhor general, por vergonha ou medo, é hora de todo homem honrado se revoltar e lutar contra. Faça isso, senhor general. Com PowerPoint, twitter, blog, facebook, msn, google, um dia os Estados Unidos da América voltarão a ser uma democracia. Eu luto para isso, senhor general.
Com uma manchete antológica, “We Have Met the Enemy and He Is PowerPoint” [“Nós encontramos o inimigo e ele é o PowerPoint”], Elisabeth Bumiller relata em reportagem no The New York Times de ontem a piada que o general Stanley A. McChrystal, o líder das forças norte-americanas e da NATO no Afeganistão, fez ao observar, no último verão, o slide de PowerPoint que, querendo mostrar a complexidade da estratégia militar norte-americana, revelou-se, sem querer, um enorme prato de spaguetti: “When we understand that slide, we’ll have won the war” [“Quando nós entendermos esse slide, nós venceremos a guerra”]. Genial! O único problema dessa piada é ela errar o alvo, aliás, prática useira e vezeira dos bombardeiros controlados a mais de 10 mil quilômetros de distância por controle remoto – videogame -, de uma base militar em Nevada, a uma hora de Las Vegas, e do quartel-general da CIA, em Langley, onde jovens soldados pilotam virtualmente os aviões de combate Predators e Reapers, cujas bombas, não virtuais, estraçalham e dizimam milhares de civis inocentes em zonas tribais do Paquistão e confins do Afeganistão – não há imprensa por lá para registrar essas atrocidades. O problema aí não é o PowerPoint. É verdade que há um Conteúdo Manifesto presente em jogo que é a babaquice de uma razão que, através de técnicas e metodologias importadas dos cursos sofisticados, “chiques” de Administração, os famigerados “MBAs”, tenta transportar para a guerra aquilo que supostamente “deu certo” no mundo dos negócios – perfeito, aliás, esse casamento entre guerra e negócios! Sai das melhores universidades americanas a NATA intelectual que coordena a guerra – fato já presente na Alemanha nazista: os inventores dos campos de concentração nazistas foram os doutores egressos das melhores universidades da Alemanha! Ao contrário da afirmação de Goya, não é o sono da razão que produz monstros, é o sonho! Porém, o que preocupa é o Conteúdo Latente da piada do general. Ele acredita piamente que essa guerra poderá ser ganha, quando de há muito ela está perdida. O general ri do PowerPoint quando deveria chorar por não conseguir responder a única questão séria dessa piada: o que os Estados Unidos continuam fazendo por lá? Essa pergunta, nunca presente no filme ganhador do Oscar de 2010, o horrível e ridículo “Guerra ao Terror”, um incrível manifesto pró-guerra, cujo final é a síntese dessa América que não é mais América – o “herói”-soldado-operário padrão retorna para o exterior pensando estar salvando o interior de sua pátria de vinte marcas de sucrilhos. Que isso tenha saído da cabeça e das mãos de uma mulher não deixa de causar espanto. Podem falar o que quiserem de Avatar, mas essa canalhice ele não contém. Assim, o general de Cristal rachado ri enquanto seus comandos em ação continuam matando gente inocente lá onde o diabo perdeu as botas. Esse Patton de opereta acredita que vai ganhar a guerra. Senhor general Big Mac, o problema não é o PowerPoint. O problema é como explicar que a maior democracia do mundo mantenha funcionando um campo de concentração chamado Guantánamo, “open” vinte e quatro horas por dia, e faça uma guerra de ocupação, “delivery”, uma guerra de espoliação, uma guerra de genocídio vinte e quatro horas por dia – deve ser da moral protestante esse fascínio pelo trabalho sem parar - contra o povo assassinado do Afeganistão e o povo desmembrado do Iraque. Quando as respostas para essas perguntas não podem ser ditas, senhor general, por vergonha ou medo, é hora de todo homem honrado se revoltar e lutar contra. Faça isso, senhor general. Com PowerPoint, twitter, blog, facebook, msn, google, um dia os Estados Unidos da América voltarão a ser uma democracia. Eu luto para isso, senhor general.