MERCADANTE LANÇA PRÉ-CANDIDATURA E SE DESENTENDE COM OS FATOS. E UMA HISTORINHA QUE EVIDENCIA O SEU AMOR POR SÃO PAULO
sábado, 24 de abril de 2010 | 6:27
O senador Aloizio Mercadante (PT-SP) lança hoje a sua pré-candidatura ao governo de São Paulo na quadra do Sindicato dos Bancários, em São Paulo. O presidente Lula e Dilma Rousseff, pré-candidata do PT à Presidência, estarão presentes. Um documento com as diretrizes da campanha traz o eixo que pretende orientar o pleito do senador: “Em São Paulo, muito mais poder ser feito”. Trata-se de uma clonagem, com mais palavras e menos eficiência na mensagem, de “O Brasil pode mais”, do presidenciável tucano José Serra.
Mercadante concede entrevista à Folha e ao Estadão neste sábado. Ele realmente é um homem impressionante. Seguem trechos das duas entrevistas em vermelho, com observações minhas em azul.
Estadão - O sr. disse que deixaria a liderança no Senado no episódio dos atos secretos e também recuou. Considera-se instável ou impulsivo?
Mercadante - Não. Nós temos um ex-prefeito (José Serra) que foi no cartório, dizendo que não seria candidato, e disputou o governo. Em política, às vezes, a gente muda de posição. O que jamais as pessoas verão é eu mudar de lado. Achava que os atos secretos tinham que ser investigados com rigor. No entanto, o peso que tem o PMDB na governabilidade levou o governo e o PT a uma outra posição. Fui derrotado. Lula divulgou uma carta pública e disse que achava imprescindível que eu continuasse.
É mentira! Não tem assinatura em cartório coisa nenhuma. Tem uma papelucho vagabundo que Gilberto Dimenstein apresentou para Serra assinar. Mas a população de São Paulo já se expressou a respeito: elegeu o tucano governador no primeiro turno e reelegeu Gilberto Kassab. TODO O MEIO POLÍTICO SABE QUE MERCADANTE QUASE IMPLOROU A TAL “CARTA” DE LULA para que o “irrevogável” fosse “revogável”.
Estadão - O sr. propõe um programa criativo e inovador. Como?
Mercadante - Desde que o PSDB governa nós perdemos participação no PIB e na indústria nacional. Estamos numa situação de colapso no sistema de trânsito e transporte público. Eles não planejaram o futuro, não asseguraram os investimentos em segurança e transporte. Não há saída se você não investir em transporte público. Tudo que eles prometeram de modernização não aconteceu. A situação da educação é desoladora.
Os investimentos públicos triplicaram em São Paulo. É um fato, não uma opinião. Ademais, se há coisa em que Mercadante se esmera, pode-se dizer que é em prejudicar São Paulo. Deu apoio a uma proposta de José Sarney que seria um desastre para o estado. Refresco a sua memória do senador. Vejam que mimo.
O CASO
Sarney (PMDB-AP), então presidente do Senado (2003), conseguiu aprovar na Casa o Projeto de Lei 2.403/03. E o que era ele? Redigido em linguagem hermética e cheio de remissões a artigos, parágrafos e leis dos anos 60, 70, 80 e 90, o texto criava uma nova área de livre comércio no Amapá e promovia o brutal alargamento dos incentivos da Zona Franca de Manaus a cerca de metade do território brasileiro, onde vive 10% da população. Os beneficiários estariam imunes a todos os tributos domésticos e do comércio exterior para produzir qualquer coisa. À época, ninguém nem sabia o tamanho da renúncia fiscal.
O mensaleiro João Paulo Cunha (PT-SP), então presidente da Câmara, tentou votar o projeto, já aprovado no Senado, a toque de caixa porque queria agradar Sarney e estava empenhado na própria reeleição à Presidência da Casa. O texto violava a Lei de Responsabilidade Fiscal e não fora submetido nem mesmo à Comissão de Finanças.
É claro que o Estado mais prejudicado seria São Paulo, o mesmo que fez de Mercadante um de seus senadores. Então líder do governo no Senado, o que afirmou o preclaro, que agora promete mudar o mundo? Foi à tribuna e se disse contrário a projetos que implicassem renúncia fiscal, mas emendou: “O presidente da Casa, o senador José Sarney, autor do projeto, merece ser apoiado em uma idéia que vai gerar desenvolvimento para o Estado do Amapá”. E votou a favor. A favor de Sarney e contra São Paulo e o Brasil! Um monumento à coerência. O projeto acabou rejeitado. VERDADE OU MENTIRA, SENADOR?
SEGURANÇA PÚBLICA
Ainda voltarei a esse assunto para demonstrar o que aconteceu com a segurança pública no país nos anos Lula. Em 12 anos, São Paulo reduziu o número de homicídios por 100 mil habitante em mais de 60%. O estado está em 25º lugar — SIM, LEITOR, É ISSO MESMO — no ranking dos estados em que há mais mortes. Só temos 27. Há 24 estados onde, em relação á população, mata-se mais do que em São Paulo. Se o índice de mortos por 100 mil no Brasil fosse igual ao do estado, 27 mil vidas seriam poupadas todo ano no país. Considerando os números da segurança pública no estado, o que acontece no resto do Brasil e a absoluta desídia do governo Lula nessa área, tratar do assunto com essa ligeireza chega a ser chocante. Boa é a política de segurança pública na Bahia, do petista Jaques Wagner, onde houve um aumento de 48% de homicídios.
EDUCAÇÃO
Sem dúvida, muito mais pode ser feito na área. Mas quem o fará? O PT que sabota o programa de qualificação de professores e que apóia, como fez Mercadante, arruaceiros que queimam livros em praça pública?
FOLHA - Está preparado para ver o episódio dos “aloprados” voltar?
MERCADANTE - Têm coisas na vida que para os amigos você não precisa explicar, para os desconhecidos você deve explicar, na vida pública é melhor ter toda a transparência. E para os adversários não adianta explicar. Inclusive para alguns veículos [de comunicação]. Não adianta.
O braço direito de Mercadante é surpreendido com uma mala de dinheiro para comprar um dossiê falso que buscava desmoralizar a candidatura de José Serra ao governo de São Paulo — o que seria, claro!, bom para o chefe —, e o petista reclama da “incompreensão” dos adversários e de alguns veículos. Eu não tenho dúvida de que ele não teve de explicar nada a seus amigos porque eles certamente tinham entendido tudo, não é mesmo?
FOLHA - Para atacar o candidato tucano, a candidata do PT terá que falar de São Paulo. Isso o ajuda?
MERCADANTE - Ajuda o fato de que estamos muito unificados, ampliamos as alianças, e eles estão muito divididos. O governador interino disse que o Alckmin não é o melhor candidato deles. Isso mostra que há uma tensão. Também com [o prefeito da capital, Gilberto] Kassab [DEM] e mesmo para o Senado não há definição.
Mercadante precisa ajustar seu vocabulário. Não há governador “interino” nenhum em São Paulo. Quanto ao mais, não há dúvida nenhuma, e ele sabe disso. Geraldo Alckmin será candidato ao governo, tendo como vice Guilherme Afif (DEM), e Aloysio Nunes Ferreira vai disputar o Senado. Qual a tensão?
Ah, sim: no Estadão, Mercadante repete a falácia de que os professores tiverem apenas 5% de reajuste Nos últimos cinco anos e volta a prometer laptops aos montes. Em 2006, acenou com os tais laptops de US$ 100, que nem produzidos foram.