“Em alguns lugares do mundo
existem ainda povos e rebanhos, mas não entre nós (…) aqui só existem
Estados. Estado? O que é isto ? Abri os ouvidos e lhes falarei da morte
dos povos. O Estado é o mais frio dos monstros frios. Ele é frio mesmo
quando mente; eis a mentira que sai de sua boca: ´Eu, o Estado, sou o
povo’. Mentira. Os criadores formaram os povos e desenrolaram sobre suas
cabeças uma fé e um amor; eles serviram a vida. Mas os destruidores
puseram armadilhas para a multidão, é o que eles chamam Estado; eles
puseram sobre suas cabeças uma espada e cem apetites. Se ainda existe um
povo, ele nada compreende do Estado e o odeia como um pecado contra a
moral e o direito. (…) Cada povo tem seu idioma do bem e do mal e o povo
vizinho não o entende. Mas o Estado sabe mentir em todas as linguas do
bem e do mal e em tudo o que ele diz, mente e tudo o que possui, roubou.
Tudo nele é falso; ele morde com dentes falsos, até suas entranhas são
falsas. ( ) O Estado é o lugar onde todos estão intoxicados, bons e
máus, onde todos se dissolvem (…) onde o lento suicidio de todos é
chamado ´vida´. (…) Vede estes superfluos: eles adquirem riquezas e
apenas se tornam mais pobres. Eles querem o poder (Macht) e, antes, a
alavanca do poder, muito dinheiro —esses impotentes! Vede como eles
sobem, estes macacos ágeis. Eles sobem uns sobre os outros e se fazem
mutuamente cair na lama e no abismo. Todos querem ganhar o trono. Com
frequência é a lama que está sobre o trono, e não raro o trono está
plantado na lama. Todos loucos…seu idolo fede, este monstro frio; eles
também fedem, os idólatras…”.
(Assim falava Zaratustra, citado no final do artigo anterior, sobre a Mentira e a razão de Estado).