quinta-feira, 21 de junho de 2012

Estado


Militância do PT faz abaixo-assinado contra aliança de Haddad com Maluf

'Conheço muitos petistas que vão rever o voto por conta disso', disse autor da petição

21 de junho de 2012 | 12h 55

Ricardo Chapola - estadão.com.br 

SÃO PAULO - Duplamente ressentida, a militância do PT disparou nesta quinta-feira, 21, um abaixo-assinado na internet cobrando do partido a revisão da aliança com o PP, do ex-prefeito Paulo Maluf, selada na última segunda-feira. O acordo custou caro à campanha do pré-candidato petista à Prefeitura de São Paulo, Fernando Haddad, pois levou Luiza Erundina (PSB) a desistir da vice da chapa. Adversária histórica de Maluf, a socialista não engoliu a exposição do ex-presidente Lula, junto a Haddad e ao ex-prefeito no dia da formalização do acordo com o PP. O movimento pretende coletar assinaturas até o dia da convenção, no dia 30, quando pretendem entregá-las ao diretório nacional e aos coordenadores da campanha de Haddad. 


Aliança com o PP descontentou a militância porque também afastou Erundina da campanha - Epitacio Pessoa/AE
Epitacio Pessoa/AE
 
Aliança com o PP descontentou a militância porque também afastou Erundina da campanha
 
No texto, os militantes afirmam que não aceitar o novo aliado de Haddad na disputa municipal e consideram o acordo "um erro político grave". Pedem também um recuo do partido na decisão que classificam de "desastrosa". "Aliança com o PP foi um erro político grave. Maluf é responsável pela destruição do governo Erundina. Nós achamos que essa aliança com o filhote da ditadura é negativa, ela desagrega. Isso fere a nossa história", disse o militante Paulo Mariante, autor do abaixo-assinado, membro da executiva do PT em Campinas.

A justificativa de Haddad em seguir os passos do governo Dilma Rousseff, compondo sua coligação com aliados da base federal, também é contestada pelos militantes na petição. Segundo o texto, o PT aprova uma política de alianças nos conformes do governo federal, mas entendem que isso não seja uma "obrigatoriedade de composição". "No âmbito nacional a influência do Maluf é menor. Querer separar o PP de Maluf em SP soa como ridículo", criticou Mariante.

Mariante afirmou ainda que a perda de Erundina na chapa e, mais ainda, a permanência de Maluf no palanque de Haddad, arriscam as eleições do petista em São Paulo. "Conheço muitos militantes do próprio PT que vão rever o voto", revelou.

Leia a íntegra da petição:

Somos militantes e simpatizantes do Partido dos Trabalhadores e nos dirigimos aos Diretórios Municipal e Estadual de SP e Nacional do PT, bem como ao pré-candidato a Prefeito de SP, Fernando Haddad e ao ex-Presidente Lula, tendo em vista os fatos mais recentes envolvendo a preparação da disputa eleitoral municipal da Capital paulista.

Sabemos da importância da derrota do campo neoliberal em SP, liderado pelo bloco PSDB/DEM/PPS/PSD, para que o projeto democrático e popular liderado pelo PT retome a direção da administração municipal e sejam desenvolvidas novamente as políticas públicas e sociais que foram o grande diferencial de nossos governos com Luíza Erundina (1989/1992) e Marta Suplicy (2001/2004), e destruídas sucessivamente por Maluf, Pitta, Serra e Kassab. E temos certeza de que a aliança dos setores democráticos e populares encabeçada por Fernando Haddad tem plenas condições de alcançar êxito nesta disputa.

Infelizmente, quando começávamos a comemorar a aliança do PT com o PSB tendo como candidata a Vice-Prefeita a companheira Luíza Erundina, fomos informados de que o PT acertaria a coligação também com o PP de Paulo Maluf, o que foi confirmado no dia 18/06/2012, numa reunião cujo registro para a imprensa é o de uma foto que gostaríamos de nunca ter visto: Lula, Haddad e Maluf.

O IV Congresso do PT aprovou uma política de alianças cuja referência é a base de apoio ao Governo Dilma, e a proibição de coligações com PSDB, DEM e PPS, mas aquele é o limite máximo para as alianças, e não uma "obrigatoriedade" de composição. Portanto, ainda que o PP esteja na base de apoio do Governo Dilma, não haveria nenhum motivo para que isso "impusesse" à Direção do PT - seja Nacional, Estadual de SP e Municipal da Capital - uma busca de alianças com o malufismo.

Maluf é um inimigo histórico da classe trabalhadora e do povo, do PT e dos socialistas. Tanto faz se o partido no qual navega se chama ARENA, PDS, PPB ou PP, pois suas ideias e ações sempre se caracterizaram pelo autoritarismo, truculência, corrupção, favorecimento às elites e destruição de políticas sociais. Não por acaso, o próprio "filhote da ditadura" - como o denominava Leonel Brizola - se gaba de ser o criador da ROTA - o ápice da letalidade policial de SP. 

Na Prefeitura de SP, Maluf (1993/1996) e seu afilhado e sucessor Celso Pitta (1997/2000) destruíram as boas iniciativas em políticas sociais do Governo do PT liderado por Luíza Erundina, e alastraram pela administração os desmandos e a corrupção - tais como a "máfia dos fiscais", as obras "hiperfaturadas".

Além do puro eleitoralismo - e o "precioso" tempo na TV da propaganda gratuita - e oportunismo político, nada há que justifique uma coligação do PT com o PP de Paulo Maluf. Alianças, em geral, são justificadas com a finalidade de "agregar", de "somar", com grupos que mesmo diferentes têm algo em comum. O que temos em comum com o malufismo? O que nos identifica - por mínimo que seja - com o "filhote da ditadura", herdeiro da ARENA e do PDS dos generais-ditadores.

Apelamos às direções do PT (municipal e estadual de SP e nacional), e aos companheiros Fernando Haddad e Lula, para que recuem dessa decisão desastrosa rejeitando a aliança com o PP de Maluf, por uma coligação que viabilize uma campanha de esquerda na perspectiva de construção de um governo de renovação para a Prefeitura de São Paulo, sob a liderança de Fernando Haddad e partidos aliados do campo democrático e popular.