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Política, economia, cultura segundo o jornalista Fábio Pannunzio
Golpe transforma concursos públicos em cabides de emprego
Dez milhões de brasileiros participam de concursos
públicos a cada ano. E uma quantidade incalculável deles está sendo
passada pra trás. O programa “Fantástico” mostrou uma reportagem que
mostra o golpe que transforma concursos em cabides de emprego. A fraude
beneficia parentes e assessores de políticos em todo o país.
O “Fantástico” apurou que em todos os estados do Brasil e no Distrito
Federal, os ministérios públicos investigam algum tipo de fraude em
concursos públicos. Só na Bahia, foram 36 casos de irregularidades. Em
Mato Grosso do Sul, as questões de um concurso foram copiadas de uma
prova feita antes no Pará. E, no Maranhão, um analfabeto foi aprovado
graças ao esquema montado por um secretário municipal, parente dele.
A maior parte das fraudes acontece nos concursos municipais. Prefeitos e
vereadores contratam uma empresa para organizar a prova e indicam os
candidatos que eles querem ver aprovados. A reportagem denunciou as
prefeituras de Novo Barreiro e Itati, no Rio Grande do Sul, e as
empresas Inova, Ascom, DP, Lógica, RCV. O esquema é montado por
prefeitos e vereadores, que contratam empresas para organizar a prova e
indicam os candidatos que eles querem ver aprovados.
Em Novo Barreiro, no Rio Grande do Sul, aconteceu um caso curioso: uma
mulher, que tentou se beneficiar da fraude, mas acabou reprovada,
resolveu denunciar o prefeito.
- Ele chegou lá na minha casa e falou assim: ‘os meus eu tinha que
deixar bem. Eu fiz o concurso dessa maneira porque eu não ia fazer um
concurso para passar qualquer um’ – lembra.
Ela também acusou o prefeito de vender o gabarito das provas e,
posteriormente, cobrar dos candidatos o valor como desconto no salário.
O prefeito Flavio Smaniotto não quis comentar a acusação.
- De dez, eu consigo aprovar 3 – disse um dos sócios da Inova, empresa
que aplica provas, ao repórter do “Fantástico” que se passava por um
negociador. Em outro momento, o repórter questionou o preço a ser
cobrado pela indicação de oito candidatos a um representante da empresa
Lógica.
- Para cada candidato indicado, eles pedem R$ 5 mil – disse o homem.
No entanto, ele afirmou que o preço pode ser negociado. Em outro
momento, ele pediu “alguma coisa por fora” para “valer a pena”, que
seriam R$ 3 mil depositados diretamente em sua conta pessoal.
A fiscal de um concurso em Itati, no Rio Grande do Sul, notou que vários
candidatos entregaram a prova quase em branco e mesmo assim foram
aprovados. É a oficialização do cabide de empregos:
- O perfil que nós identificamos é sempre de alguma forma ligado ao
administrador. Ou por laços de parentesco, ou por afinidade partidária,
político-partidária, ou até mesmo quem já presta serviços ao Executivo –
explica o promotor de Justiça Mauro Rockembach.
Trinta e oito candidatos foram indiciados na cidade, mas a maioria deles continua a ocupar os cargos conseguidos irregularmente.