Blog do Pannunzio
Política, economia, cultura segundo o jornalista Fábio Pannunzio
Rudá Ricci: Erundina, a última petista
Erundina deixou todos petistas constrangidos. Fez o
que qualquer petista histórico faria. O PT dos anos 1980, não este
pragmático, sem cor, sem cheiro, sem forma. Praticamente matou a
candidatura de Haddad. Só uma reviravolta para colocar a militância
engajada (da zona leste e sul) na rua.
Os pragmáticos, do PT e PSB, estão furiosos e jogam a culpa na escolha
do nome da ex-prefeita. Não se importam com programa ou ideologia. Se
importam com vitória, com cálculo de votos. Assim, pautados pela
popularidade, se tornam conservadores, fiéis escudeiros do status quo,
justamente porque não querem mudanças fundamentais, mas apenas se
tornarem populares. Um atalho para a construção da hegemonia gramsciana.
Em Gramsci, havia diálogo e costura de múltiplos interesses. Mas o
pragmatismo petista de hoje é rebaixado. Não procura costurar interesses
a partir de um programa. Faz o contrário: constrói seu programa a
partir do cálculo de força eleitoral. Cede. Se rebaixa. Na verdade, não
se preocupa com programa algum. Eleito, administra e sai a cata de
programas que tenham algum sentido estatal-desenvolvimentista, o que
sobrou do modo petista de governar. Aquele modo petista, mesmo difuso e
confuso, tinha uma inspiração de transformação social, plasmada no
slogan “inversão de prioridades”. O participacionismo, outra marca do
início dos governos petistas, foi abruptamente abandonado. O motivo
parece óbvio: não há como abrir a participação dos de baixo se os
cálculos eleitorais exigem acordos com as elites coronelistas de sempre.
Erundina é a última petista. O que deve incomodar profundamente os caciques do PSB e do PT.
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RUDÁ RICCI: Erundina, a última petista.