Turnê mundial do arbítrio
De China a Rússia, passando por Egito e Venezuela, autor visita os regimes autoritários de hoje
10 de junho de 2012 | 3h 10
Lúcia Guimarães - O Estado de S.Paulo
"Grândola, vila morena Terra da fraternidade O povo é quem mais ordena Dentro de ti, ó cidade."
Veja também:
(Primeiros versos de Grândola, Vila Morena, de Zeca Afonso, canção
portuguesa do Alentejo usada como senha para o início da Revolução dos
Cravos em 25/4/1974)
Não está fácil ser um ditador hoje em dia", conclui William J. Dobson
em seu recém-lançado The Dictator's Learning Curve: Inside the Global
Battle for Democracy (A Curva de Aprendizagem do Ditador: Dentro da
Batalha Global Pela Democracia). O jornalista e editor internacional da
revista Slate decidiu cair na estrada há dois anos para investigar a
natureza da ditadura contemporânea. O sonho do repórter é estar no lugar
certo no momento certo e Dobson não pode se queixar: 2011 foi o ano da
Primavera Árabe e da queda de ditadores como Muamar Kadafi e Hosni
Mubarak.
O livro de Dobson é uma turnê internacional pelo autoritarismo que
passa pela China, Rússia, Egito e Venezuela. Ele escreve que os
problemas dos ditadores contemporâneos começaram aos 25 minutos do 25 de
Abril português, em 1974, quando a rádio Renascença de Lisboa começou a
tocar a canção senha para a revolução e disparou um efeito dominó de
derrubadas de regimes no sul da Europa, África, América Latina e no
leste da Ásia. O boom democrático culminou em 2005, quando o mundo tinha
triplicado o número de democracias. Algo mudou naquele ano. Até 2010,
novos golpes militares na Ásia, populismo na América do Sul e
retrocessos em recém-liberadas repúblicas da antiga União Soviética
sinalizaram um declínio da liberdade democrática no planeta. O que
mudou, argumenta Dobson, não foi o desejo coletivo de liberdade política
e econômica. Foi a capacidade de adaptação dos regimes autoritários.
O local do mais recente massacre na Síria já era visto, em poucas
horas, por imagens de satélite, em qualquer smartphone. O ditador
contemporâneo, lembra Dobson, sabe que não pode garantir sua longevidade
à base do genocídio. Por isso, o sírio Bashar Assad é o exemplo usado
pelo autor como o pior aluno da classe. Já que a maioria da população
síria não é nem a favor nem radicalmente contra o regime, ele poderia
ter feito pequenas aberturas, explica Dobson. "Mas Assad seguiu o manual
do ditador do século passado. Foi lento na reação, recorreu à violência
com uma rapidez e intensidade que não vimos nos outros países afetados
pela Primavera Árabe." O exemplo mais bem acabado de totalitarismo
sofisticado é o de Vladimir Putin, que cria até partidos de oposição
para encenar sua farsa de democracia constitucional.
No mês do 20º aniversário do massacre na Praça da Paz Celestial,
Dobson lembra como era difícil imaginar então que o regime que colocou
os tanques na praça estaria tão forte hoje. Os chineses estudaram o
declínio da União Soviética, explica o jornalista. E entenderam que o
isolacionismo era um tiro no pé, que insistir na doutrinação individual
era uma perda de tempo. A barganha chinesa - faça o que quiser na vida
pessoal, busque a prosperidade, mas não questione o monopólio do Partido
Comunista -, funciona.
Em The Dictator's Learning Curve, Dobson revela a extraordinária rede
de militância que une oposicionistas de todos os cantos do mundo e
também o novo negócio da promoção democrática, alimentado por ONG's e
empresários. O autor diz que seu otimismo no fim da viagem não foi
provocado pela justiça da causa democrática, mas pela competência e a
determinação dos oposicionistas que conheceu: "A verdade é que os
protestos de 2011 foram tão potentes porque partiram do povo. No fim das
contas, o público faz a diferença. E, para um ditador, não há nada mais
aterrorizante", conclui. A seguir, a conversa de William J. Dobson com o
Aliás.
Como estudioso do autoritarismo moderno, como você vê Vladimir Putin?
O domínio exercido por Putin transcende
muito o controle econômico. A Constituição russa não é especialmente
autoritária, ela tem várias provisões em comum com as Constituições de
democracias europeias. Putin não chegou aonde está com endurecimento
constitucional. Ele sabe comer as instituições pelas beiradas. Sempre
acreditou na importância da fachada. Quando havia um debate sobre a
legalidade de Putin se candidatar a um terceiro mandato, o então
presidente egípcio, Hosni Mubarak, foi a Moscou e respondeu a um
jornalista: "É claro que Putin deve ficar no poder". Putin não
concorreu, cedeu o cargo a Medvedev e hoje está de volta. E onde anda
Hosni Mubarak? Putin entende da teatralidade do poder. O Kremlin cria
até movimentos de oposição para concorrer contra o regime.
Um personagem proeminente no capítulo 'Inimigos do Estado' é o
famoso advogado chinês Pu Zhiqiang, que defende o artista Ai Weiwei.
Como você vê dois casos recentes de teste do controle chinês - o expurgo
do cacique do Partido Comunista Bo Xilai e a fuga do dissidente cego
Chen Guangcheng?
Quando você observa a extensão da perseguição do regime chinês à sociedade civil, a nova linha de defesa repousa em personagens como esses advogados. São eles que conduzem os cidadãos para apresentar suas queixas, usando como podem o sistema judiciário. Guangcheng é um homem excepcional que enfrentou muita violência, e seus parentes também. Ficou insustentável para ele. Se tivesse conseguido chegar a um acordo com as autoridades para continuar na China, teria sido incrível. Eu acho que elas estão muito felizes com o dissidente em Nova York. Veem a ausência como o caminho mais rápido para a irrelevância. Já o caso do Bo Xilai está ligado a uma luta interna entre as elites chinesas e essa é uma das maiores fontes de apreensão para o regime, porque não há regras claras de sucessão. Lembre que Deng Xiaoping, antes de morrer, escolheu não um, mas dois sucessores, até Hu Jintao. O atual vice-presidente, Xi Jinping, que deve tomar o lugar de Hu no fim do ano, representa o primeiro teste de passagem de poder não planejada pela geração fundadora do partido. Fatos como Bo Xilai grampeando telefone de chefes do partido mostram que sucessões são o pesadelo de regimes autoritários.
Quando você observa a extensão da perseguição do regime chinês à sociedade civil, a nova linha de defesa repousa em personagens como esses advogados. São eles que conduzem os cidadãos para apresentar suas queixas, usando como podem o sistema judiciário. Guangcheng é um homem excepcional que enfrentou muita violência, e seus parentes também. Ficou insustentável para ele. Se tivesse conseguido chegar a um acordo com as autoridades para continuar na China, teria sido incrível. Eu acho que elas estão muito felizes com o dissidente em Nova York. Veem a ausência como o caminho mais rápido para a irrelevância. Já o caso do Bo Xilai está ligado a uma luta interna entre as elites chinesas e essa é uma das maiores fontes de apreensão para o regime, porque não há regras claras de sucessão. Lembre que Deng Xiaoping, antes de morrer, escolheu não um, mas dois sucessores, até Hu Jintao. O atual vice-presidente, Xi Jinping, que deve tomar o lugar de Hu no fim do ano, representa o primeiro teste de passagem de poder não planejada pela geração fundadora do partido. Fatos como Bo Xilai grampeando telefone de chefes do partido mostram que sucessões são o pesadelo de regimes autoritários.
A Venezuela de Hugo Chávez é um caso mais difícil de decifrar
como regime autoritário por causa das percepções diferentes na América
Latina e nos Estados Unidos?
Chávez desafia nossa percepção em qualquer parte do mundo, inclusive nos Estados Unidos, onde tem muitos fãs. Ele é muito competente. Seu regime repousa nas eleições. Quando conversei com membros da oposição venezuelana, ninguém acusou Chávez de roubar votos no dia da eleição. Mesmo que haja uma irregularidade, aqui ou ali, todos concordam que a eleição transcorre em relativa normalidade. O problema são os outros 364 dias do ano, quando ele controla a mídia, usa ilegalmente dinheiro do Estado para financiar sua campanha, controla os militares e intimida a oposição. Aqueles discursos que ele faz em cadeia de TV são únicos como instrumento de acesso ao público. Se juntassem os vídeos de todos os discursos que ele fez, ao longo de dez anos, Chávez passaria 54 dias no ar. É fato que o regime venezuelano não usa a violência, como vimos no Egito. O símbolo do sucesso do Hugo Chávez é uma cédula eleitoral.
Chávez desafia nossa percepção em qualquer parte do mundo, inclusive nos Estados Unidos, onde tem muitos fãs. Ele é muito competente. Seu regime repousa nas eleições. Quando conversei com membros da oposição venezuelana, ninguém acusou Chávez de roubar votos no dia da eleição. Mesmo que haja uma irregularidade, aqui ou ali, todos concordam que a eleição transcorre em relativa normalidade. O problema são os outros 364 dias do ano, quando ele controla a mídia, usa ilegalmente dinheiro do Estado para financiar sua campanha, controla os militares e intimida a oposição. Aqueles discursos que ele faz em cadeia de TV são únicos como instrumento de acesso ao público. Se juntassem os vídeos de todos os discursos que ele fez, ao longo de dez anos, Chávez passaria 54 dias no ar. É fato que o regime venezuelano não usa a violência, como vimos no Egito. O símbolo do sucesso do Hugo Chávez é uma cédula eleitoral.
Na Síria, Bashar Assad é o exemplo do mau aluno do aprendizado do ditador?
Ele é péssimo aluno. Ninguém quer ser a Síria, o país virou um case study de como não agir. O que esses regimes têm em comum é a necessidade de evitar o dia em que o povo se reúna na praça. E, quando chega esse dia, os ditadores acabam se revelando, como no caso de Assad. Mas ele começou a fracassar bem antes do teatro de horrores a que assistimos hoje. Assad foi lento na reação, recorreu à violência com uma rapidez e intensidade que não vimos nos outros países afetados pela Primavera Árabe. Note que ele não ofereceu nenhum tipo de acomodação. Ele parece estar seguindo o manual do pai, Hafez Assad, responsável por um dos maiores massacres no Oriente Médio, a morte de mais de 20 mil pessoas em Hama. É o manual do ditador do século 20, não funciona. A ironia é que a maioria da população síria não é nem a favor nem radicalmente contra o regime. Ele poderia ter feito aberturas para essa população. Ao contrário, quer usar a oposição como exemplo para intimidar a maioria. Não tem um plano, apenas um regime de terror. Outros países, como a Jordânia e a Malásia, foram bons alunos. Nos primeiros dias dos protestos no Egito, o primeiro-ministro malaio, Najib Razak, disse: "O que aconteceu no Cairo jamais vai acontecer na Malásia". Recentemente, classificou um protesto de "sinal de sofisticação e maturidade" do país. Vladimir Putin começou acusando a CIA de fomentar protestos e agora se diz "orgulhoso" dos russos que exercitam seus direitos.
Ele é péssimo aluno. Ninguém quer ser a Síria, o país virou um case study de como não agir. O que esses regimes têm em comum é a necessidade de evitar o dia em que o povo se reúna na praça. E, quando chega esse dia, os ditadores acabam se revelando, como no caso de Assad. Mas ele começou a fracassar bem antes do teatro de horrores a que assistimos hoje. Assad foi lento na reação, recorreu à violência com uma rapidez e intensidade que não vimos nos outros países afetados pela Primavera Árabe. Note que ele não ofereceu nenhum tipo de acomodação. Ele parece estar seguindo o manual do pai, Hafez Assad, responsável por um dos maiores massacres no Oriente Médio, a morte de mais de 20 mil pessoas em Hama. É o manual do ditador do século 20, não funciona. A ironia é que a maioria da população síria não é nem a favor nem radicalmente contra o regime. Ele poderia ter feito aberturas para essa população. Ao contrário, quer usar a oposição como exemplo para intimidar a maioria. Não tem um plano, apenas um regime de terror. Outros países, como a Jordânia e a Malásia, foram bons alunos. Nos primeiros dias dos protestos no Egito, o primeiro-ministro malaio, Najib Razak, disse: "O que aconteceu no Cairo jamais vai acontecer na Malásia". Recentemente, classificou um protesto de "sinal de sofisticação e maturidade" do país. Vladimir Putin começou acusando a CIA de fomentar protestos e agora se diz "orgulhoso" dos russos que exercitam seus direitos.
Você esteve no Egito antes e durante a Primavera Árabe. Esperava que o movimento fosse evoluir para o cenário que temos hoje?
Estou muito preocupado com a trajetória do Egito. Antes da Primavera, a dúvida era se o país ia ter como sucessor de Hosni Mubarak um filho dele ou um militar. Quando os protestos da Praça Tahrir explodiram, os militares entraram em campo para "guiar" o processo. Infelizmente, ainda continuamos com a dúvida: é revolução ou sucessão? Se você voltar a pronunciamentos da era Mubarak e ouvir o que os militares estão dizendo hoje, o teor é basicamente o mesmo. Eles não desmantelaram o aparato de segurança, apenas mudaram o nome. Desde a queda de Mubarak, mais de 10 mil cidadãos receberam sentenças em tribunais militares, mas só dois eram soldados que mataram civis na Praça.
Estou muito preocupado com a trajetória do Egito. Antes da Primavera, a dúvida era se o país ia ter como sucessor de Hosni Mubarak um filho dele ou um militar. Quando os protestos da Praça Tahrir explodiram, os militares entraram em campo para "guiar" o processo. Infelizmente, ainda continuamos com a dúvida: é revolução ou sucessão? Se você voltar a pronunciamentos da era Mubarak e ouvir o que os militares estão dizendo hoje, o teor é basicamente o mesmo. Eles não desmantelaram o aparato de segurança, apenas mudaram o nome. Desde a queda de Mubarak, mais de 10 mil cidadãos receberam sentenças em tribunais militares, mas só dois eram soldados que mataram civis na Praça.
E mesmo nos países considerados sucessos, como a Tunísia,
vemos que surgem outros tipos de questões, como a pressão para as
mulheres cobrirem a cabeça.
O fato é que várias daquelas ditaduras reforçavam o secularismo. Não estou nada surpreso com esse aspecto da mudança. Mas prefiro viver num país que debate o limite entre o secularismo e a religião. É uma discussão que precisa acontecer entre os cidadãos e não ser suprimida.
O fato é que várias daquelas ditaduras reforçavam o secularismo. Não estou nada surpreso com esse aspecto da mudança. Mas prefiro viver num país que debate o limite entre o secularismo e a religião. É uma discussão que precisa acontecer entre os cidadãos e não ser suprimida.
Você menciona a euforia e o temor das mídias sociais, usadas igualmente por movimentos de oposição e regimes autoritários.
Esse é um debate estagnado. Defensores e detratores acabam por se enganar. A tecnologia é uma ferramenta e portanto, neutra. A questão é: quem sabe usar melhor? É claro que, no Egito, as mídias sociais foram um elemento importante da revolução. No livro, eu conto um exemplo do que aconteceu antes, em 2008, quando o mundo não estava prestando atenção. Um pequeno grupo, depois conhecido como 6 de Abril, se organizou em torno do Facebook para convocar uma greve em solidariedade a trabalhadores da indústria têxtil. Foi a primeira vez que os jovens egípcios usaram a tecnologia para divulgar um protesto. O movimento cresceu e atraiu 70 mil pessoas online. O governo se assustou e começou a transmitir, na rede de TV, uma mensagem no pé da tela, mandando os cidadãos não faltarem ao trabalho o dia 6 de abril. Foi tudo que o movimento precisava: propaganda grátis. Quem assistia àquilo e não sabia do protesto ficava não só intrigado, porque trabalhava em todos os outros dias e se irritava com a ordem, como a própria ordem serviu de convocação para mais gente ficar em casa.
Esse é um debate estagnado. Defensores e detratores acabam por se enganar. A tecnologia é uma ferramenta e portanto, neutra. A questão é: quem sabe usar melhor? É claro que, no Egito, as mídias sociais foram um elemento importante da revolução. No livro, eu conto um exemplo do que aconteceu antes, em 2008, quando o mundo não estava prestando atenção. Um pequeno grupo, depois conhecido como 6 de Abril, se organizou em torno do Facebook para convocar uma greve em solidariedade a trabalhadores da indústria têxtil. Foi a primeira vez que os jovens egípcios usaram a tecnologia para divulgar um protesto. O movimento cresceu e atraiu 70 mil pessoas online. O governo se assustou e começou a transmitir, na rede de TV, uma mensagem no pé da tela, mandando os cidadãos não faltarem ao trabalho o dia 6 de abril. Foi tudo que o movimento precisava: propaganda grátis. Quem assistia àquilo e não sabia do protesto ficava não só intrigado, porque trabalhava em todos os outros dias e se irritava com a ordem, como a própria ordem serviu de convocação para mais gente ficar em casa.
E no campo das ditaduras eficazes em reprimir pela tecnologia, como fica a China?
O uso que a China faz da tecnologia é um
exemplo de sofisticação. Veja a maneira como eles conseguem neutralizar a
internet. Reconheço que vai ficando cada vez mais difícil. Um dos
problemas, que descrevo no livro, com a longevidade de um regime, é o
acúmulo de datas simbólicas. Não é só o aniversário recente do massacre
na Praça da Paz Celestial. Em março, eles têm o levante tibetano. Em 4
maio, o levante de 1919. Em 6 de julho, a rebelião étnica de Xinjiang. O
calendário deles vai ficando lotado de datas que o governo quer que o
público ignore. Mas eles são muito bons em separar o clima de
oportunidade econômica da repressão política.
Como uma pessoa criada numa democracia, depois da sua turnê
internacional pelo autoritarismo você adquiriu uma nova apreciação pelo
fato de que, para o cidadão comum, a ditadura é um mundo de nuances?
Sem dúvida, entender isso é um elemento crucial para sobreviver na área cinzenta entre democracia e autoritarismo. Se você é um ditador moderno, fala a língua dos direitos humanos. Patrocina workshops sobre liberdade. Participa de todas as atividades na ONU. Você faz tudo igualzinho à Alemanha e cabe ao povo descobrir a diferença entre viver nesse país e na Alemanha. Ninguém quer ser um brutamontes como a Coreia do Norte. O caso mais fascinante que vamos acompanhar agora é o de Mianmar. Nenhuma ditadura mudou mais no último ano do que a junta que governa Mianmar. Minha teoria é que eles deram uma olhada no que acontecia no mundo e concluíram que iam sair perdedores.
Sem dúvida, entender isso é um elemento crucial para sobreviver na área cinzenta entre democracia e autoritarismo. Se você é um ditador moderno, fala a língua dos direitos humanos. Patrocina workshops sobre liberdade. Participa de todas as atividades na ONU. Você faz tudo igualzinho à Alemanha e cabe ao povo descobrir a diferença entre viver nesse país e na Alemanha. Ninguém quer ser um brutamontes como a Coreia do Norte. O caso mais fascinante que vamos acompanhar agora é o de Mianmar. Nenhuma ditadura mudou mais no último ano do que a junta que governa Mianmar. Minha teoria é que eles deram uma olhada no que acontecia no mundo e concluíram que iam sair perdedores.
Então Mianmar é o 'país pôster' para o aprendizado do ditador?
Sim. Mianmar é novo membro do clube da ditadura moderna.
Sim. Mianmar é novo membro do clube da ditadura moderna.
Há um personagem no seu livro, pouco conhecido das pessoas
comuns, mas famoso entre ditadores: o teórico da resistência não
violenta, Gene Sharp, de Boston. Ele inspirou revoluções, da Sérvia ao
Egito...
Sharp é considerado um dos principais pensadores da não violência, o historiador que explicou a importância do movimento em personagens como Gandhi e Martin Luther King. Nos anos 1980 o trabalho de Sharp atraiu a atenção de um militar americano que estava de licença em Harvard, o coronel Bob Helvey. Ele entendeu que as ideias de Sharp seriam eficazes para derrubar uma ditadura. O último posto de Helvey foi na embaixada americana em Mianmar. Já na reserva, ele começou as palestras que fez aquelas ideias atraírem a atenção da oposição em Mianmar. Mas a obra de Sharp era muito vasta. Foi assim que surgiu a ideia de um manual compacto, de pouco mais de 70 páginas, Da Ditadura à Democracia, que já foi baixado do website dele (www.aeinstein.org) dezenas de milhares de vezes. Está disponível em 26 línguas. Por onde eu passava, encontrava algum ativista que tinha lido Gene Sharp ou citava suas ideias. Sharp explicou a inúmeros movimentos, estratégias de "negar" ou "tomar o poder" de ditadores com campanhas não violentas.
Sharp é considerado um dos principais pensadores da não violência, o historiador que explicou a importância do movimento em personagens como Gandhi e Martin Luther King. Nos anos 1980 o trabalho de Sharp atraiu a atenção de um militar americano que estava de licença em Harvard, o coronel Bob Helvey. Ele entendeu que as ideias de Sharp seriam eficazes para derrubar uma ditadura. O último posto de Helvey foi na embaixada americana em Mianmar. Já na reserva, ele começou as palestras que fez aquelas ideias atraírem a atenção da oposição em Mianmar. Mas a obra de Sharp era muito vasta. Foi assim que surgiu a ideia de um manual compacto, de pouco mais de 70 páginas, Da Ditadura à Democracia, que já foi baixado do website dele (www.aeinstein.org) dezenas de milhares de vezes. Está disponível em 26 línguas. Por onde eu passava, encontrava algum ativista que tinha lido Gene Sharp ou citava suas ideias. Sharp explicou a inúmeros movimentos, estratégias de "negar" ou "tomar o poder" de ditadores com campanhas não violentas.
JORNALISTA E EDITOR INTERNACIONAL DA REVISTA SLATE