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Frases
Roberto Romano, professor de Filosofia da Unicamp, tentou explicar na
revista Veja desta semana, aquele nojo da foto do ex-presidente Lula
com o senhor Paulo Salim Maluf – que ele atacou a vida inteira –
utilizando Nietzsche: “Eles querem o poder e, antes, muito dinheiro, a
alavanca do poder. Todos eles almejam ganhar o trono. Com freqüência, é a
lama que está sobre o trono, e não raro o trono está plantado na lama”.
Supla, o músico, filho do senador Eduardo Suplicy, preferiu falar sobre
o pai, um político honesto. Supla disse: “Ele segue muito o partido. Eu
já teria mandado todo mundo para aquele lugar. Eu conheço esses caras
desde pequeno. O único por quem eu boto a mão no fogo é o meu pai, que
tem três ternos e dirige um Ford Ka”. As frases são muitas. Sobre esse
nojo, mais um patrocinado pelo messias, as frases multiplicam-se. Os
senhores intelectuais do PT calaram-se. Espero que tenha sido de
vergonha.
Chega uma hora que é preciso ter vergonha na cara. Mas falar
em frases, todos os escritores, por exemplo, têm frases separadas em sua
obra que fazem um conceito sobre as coisas. Meu amigo escritor e
jornalista investigativo, professor da USP, Cláudio Tognolli, coleciona
frases dos escritores que lê, seja romance, ensaio, poemas. Sempre
separa frases que têm vida própria fora do livro. Nélson Rodrigues, por
exemplo, suas frase são fulminantes, utilizadas para várias situações:
“Não se apresse em perdoar. A misericórdia também corrompe”, “O
brasileiro, quando não é canalha na véspera, é canalha no dia seguinte”,
“Só o inimigo não trai nunca”, “Só o rosto é indescente. Do pescoço
para baixo, podia-se andar nu”. Uma frase que considero antológica é do
meu amigo poeta Rubens Jardim, que me disse duas vezes. O poeta Péricles
Prade tem uma editora em Santa Catarina. Ele pediu que o Rubens Jardim
escrevesse a história da “Catequese poética”, do poeta Lindolf Bell, já
falecido, da qual Rubens Jardim participou como um dos poetas mais
importantes. Rubens Jardim recusou a idéia dizendo o seguinte: “Eu sou
poeta, não sei escrever”. Essa é uma frase para se pensar muito. É
definitiva, absolutamente definitiva.
No que me diz respeito, uma amiga
separou dezenas frases que têm vida independente tiradas de alguns
livros meus. É uma coisa incrível. As frases são colocadas dentro de um
romance, de um poema e assumem vida sozinhas. Lembrei-me agora de uma
beleza para mim especial, de T.S. Eliot, faz parte de um poema. Em
tradução literal, é mais ou menos assim: “Abril é o mais cruel de todos
os meses, mas ainda estamos em março”. Outro exemplo, Jorge Amado: “Não
se pode dormir com todas as mulheres do mundo, mas deve-se fazer
esforço”. De Érico Veríssimo: “A vida começa todos os dias”, “Ninguém é o
que parece, nem Deus”. Os meus 19 leitores percebem que eu comecei a
falar da cena cínica da semana passada e, de repente, fui entrando em
assuntos literários. Mas, na verdade, iniciei este texto para falar do
nojo, do que certas pessoas são capazes de fazer. Também tenho uma frase
para esse tipo de situação, que é a seguinte: “Tem gente que, pelo
poder, é capaz de matar a mãe na véspera do Natal”. Infelizmente é assim
mesmo.
Olho-me no espelho para ver os ferimentos e as decepções, o
espanto, a vontade de fugir. E de repente digo-me uma frase que
guardarei com cuidado: “Ou eu dou um jeito na vida ou a vida ainda dará
um jeito em mim”.
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