Antissemitismo em Porto Alegre
Roberto Romano
Bispo (do gregoepiskopos , “vigilante”, que deriva de epis keptomai, “observar”) na ordem cristã é o encarregado de estabelecer a ponte entre Deus e os homens. O papa, vigário do Senhor, vigia e defende a comunidade inteira dos fiéis. A função episcopal leva uma pessoa à tarefa de sentinela do sagrado, contra as ameaças do maligno, “leão a rondar a presa": quem “nasce de Deus não peca; mas aquele que foi gerado por Deus guarda-o e o maligno não lhe toca” (1 João 5,18). A hierarquia, no catolicismo, surge da tradição judaica, exposta no Antigo Testamento. Quando Jesus (um judeu) escolhe o líder de sua grei, ele muda o nome de Simão-bar-Jonas (outro judeu). Abrão recebera o nome de Abraão (Gênesis, 17, 5), Jacó foi chamado Israel (Gênesis 32, 28) e temos outros exemplos bíblicos. A mudança de nome indica nova dignidade do escolhido para liderar o povo rumo às sendas seguras. O primeiro pastor universal, Simão-bar-Jonas, teve o nome substituído por Kefas (pedra, na semântica grega) vindo a ser Pedro (Mateus, 16, 18).
A missão de vigiar e proteger os fracos do mundo, osanawin (pobres, humildes, mansos) exige prudência e misericórdia. O próprio Jesus se definiu como anawin e ordenou: “Aprendei de mim que sou manso e humilde de coração” (Mateus 11,29); e também, como consequência, proclamou o Senhor: “Bem-aventurados os pobres em espírito porque deles é o Reino” (Mateus 5,3). Das práticas ensinadas por Ele, algumas se dirigem mais diretamente aos pastores: “Vós sois o sal da terra. Se o sal perde o sabor, com que lhes será restituído o sabor? Para nada mais serve senão para ser lançado fora e calcado pelos homens. Vós sois a luz do mundo. Não se pode esconder uma cidade situada sobre uma montanha, nem acender uma luz sobre o candeeiro, a fim de que brilhe a todos os que estão em casa. Assim brilhe vossa luz diante dos homens para que vejam as vossas boas obras e glorifiquem vosso Pai que está nos céus!”.
Um pastor que não exerce vigilância, não ilumina, não salga, serviria apenas para ser jogado no oblívio dos homens. Mas, infelizmente, não é assim que se passa na Igreja e no mundo. Não raro, a memória dos bons pastores é esmaecida pela recordação dos péssimos, que se uniram aos lobos contra as ovelhas. O mesmo Pedro negou Jesus três vezes. Cristo, para sentir o seu arrependimento e compromisso com a missão redentora, lhe perguntou também três vezes: “Tu me amas?” (João, 21, 15-17). À tríplice resposta positiva, Jesus lhe concedeu o múnus santificado: “Apascenta minhas ovelhas” (João, 21, 17).
A memória de Pedro, de Agostinho e seus pares, repercute em papas como João 23, cuja força e coragem exigiu dos bispos, no Vaticano 2, o reconhecimento da fraternidade com os filhos de Israel. Não foi tarefa leve conseguir tal feito. Muitos pastores ainda retinham no coração e na mente o antissemitismo que incentivou os alemães a colaborar com o genocídio de seis milhões de israelitas. Pouco depois da ascensão nazista, março de 1933, a Igreja Católica alemã, em uníssono com a luterana, convidou os crentes a obedecer o Füher e “a estar à sua disposição de todas as formas” (Eric Voegelin,Hitler e os alemães , São Paulo, Ed. É, 2008, p. 245).
De todas as formas... na guerra e na repressão aos democratas, nos campos de extermínio e nas SS, missão outorgada pelo antipastor que não amava as ovelhas, em especial as judaicas, tidas por ele como indignas da vida. No próximo artigo, falarei o que pretendo com as citações sobre o pastoreio e a missão de vigiar e proteger os fracos. Guarde o leitor o nome de um bispo, o de Porto Alegre, Dom Dadeus Grings. Ele acha que não foram mortos seis milhões de judeus, mas “apenas” um milhão. Santo homem! Analisarei tais falas, mas indico que os justos não estão agindo no instante em que os antissemitas realizam sua obra. Sequer manifestos em prol dos direitos humanos saem em tempo. O domínio é dos que retornam ao ódio anterior ao Vaticano 2, era em que na missa se rezava “pelos pérfidos judeus”.
Bispo (do grego
A missão de vigiar e proteger os fracos do mundo, os
Um pastor que não exerce vigilância, não ilumina, não salga, serviria apenas para ser jogado no oblívio dos homens. Mas, infelizmente, não é assim que se passa na Igreja e no mundo. Não raro, a memória dos bons pastores é esmaecida pela recordação dos péssimos, que se uniram aos lobos contra as ovelhas. O mesmo Pedro negou Jesus três vezes. Cristo, para sentir o seu arrependimento e compromisso com a missão redentora, lhe perguntou também três vezes: “Tu me amas?” (João, 21, 15-17). À tríplice resposta positiva, Jesus lhe concedeu o múnus santificado: “Apascenta minhas ovelhas” (João, 21, 17).
A memória de Pedro, de Agostinho e seus pares, repercute em papas como João 23, cuja força e coragem exigiu dos bispos, no Vaticano 2, o reconhecimento da fraternidade com os filhos de Israel. Não foi tarefa leve conseguir tal feito. Muitos pastores ainda retinham no coração e na mente o antissemitismo que incentivou os alemães a colaborar com o genocídio de seis milhões de israelitas. Pouco depois da ascensão nazista, março de 1933, a Igreja Católica alemã, em uníssono com a luterana, convidou os crentes a obedecer o Füher e “a estar à sua disposição de todas as formas” (Eric Voegelin,
De todas as formas... na guerra e na repressão aos democratas, nos campos de extermínio e nas SS, missão outorgada pelo antipastor que não amava as ovelhas, em especial as judaicas, tidas por ele como indignas da vida. No próximo artigo, falarei o que pretendo com as citações sobre o pastoreio e a missão de vigiar e proteger os fracos. Guarde o leitor o nome de um bispo, o de Porto Alegre, Dom Dadeus Grings. Ele acha que não foram mortos seis milhões de judeus, mas “apenas” um milhão. Santo homem! Analisarei tais falas, mas indico que os justos não estão agindo no instante em que os antissemitas realizam sua obra. Sequer manifestos em prol dos direitos humanos saem em tempo. O domínio é dos que retornam ao ódio anterior ao Vaticano 2, era em que na missa se rezava “pelos pérfidos judeus”.