Na verdade o diplomata citado no meu comentário (Sérgio Duarte Queiroz - Alto Representante para as Questões de Desarmamento nas Nações Unidas) está aposentado e é hoje funcionário da ONU. Infelizmente, perdi a maior parte da sua exposição. O diplomata a quem me refiro no comentário é o Ministro Santiago Irazabal Mourão - Chefe da Divisão de Desarmamento e Tecnologias Sensíveis do Ministério das Relações Exteriores - MRE.
Ontem consegui assistir boa parte da transmissão do Seminário sobre a revisão do TNP promovido pela CRE do Senado. Sigo com as minhas impressões e com breve relato. Ressalvo que houve sim intervenções fundamentadas em argumentos sólidos, embora discutíveis. Mas no geral, falando com franqueza, o Seminário foi bem fraquinho.Frustrante. Esperava mais. A meu ver, no tocante a novas informações nada foi apresentado. Ainda estou sem saber muito bem no que de fato consiste o protocolo adicional do TNP que o governo brasileiro recusa-se a assinar. Com base em argumentação retórica, os palestrantes mostraram-se bons discípulos de Gorgias e apoiaram a posição do governo brasileiro contrária à adesão ao Protocolo Adicional e expressa no Plano de Defesa Nacional de 2008. Chegou-se, por exemplo, ao absurdo de justificar a não-adesão pela desconfiança de que as assim chamadas “inspeções intrusivas” serviriam de pretexto para espionagem industrial. Francamente, além do ridículo da argumentação, considerei o argumento um insulto a AIEA.Infelizmente, não houve voz discordante em relação ao que nos interessa diretamente. Isto é, se o Brasil de fato almeja ser exportador de urânio enriquecido para fins pacíficos e beneficiar-se do desenvolvimento mundial da tecnologia nuclear (com todo o respeito e reconhecimento ao trabalho dos nossos cientistas, sou realista quanto à real capacidade brasileira de levar a bom termo a pesquisa teórica e de aplicação da tecnologia nuclear à margem da comunidade internacional), então por que resistir de modo tão irracional à hipótese de pautar-se pelas normas definidas pela comunidade internacional no protocolo adicional ao TNP? Enfim, em nenhum momento se perguntou no Seminário se o País, ao não aderir ao Protocolo Adicional, não estaria criando um problema completamente desnecessário em assunto tão sensível á comunidade internacional.
A unanimidade dos “não-vira-latas” pela não-adesão deve ter deixado a plateia feliz e orgulhosa. O viés ufanista e "nacionalisteiro" marcou retórica e cansativamente a sua presença durante todo o Seminário.Pesquisadores ligados à universidade repetiram as fastidiosas arengas do “outro mundo possível” e do “caráter imperialista do TNP”. Muita retórica ruim e pouca informação relevante. As melhores e mais proveitosas intervenções partiram dos diplomatas e funcionários brasileiros nas agencias internacionais. Para se ter uma ideia do despreparo dos nossos cientistas sociais, o embaixador Santiago Duarte Queiroz teve que explicar e corrigir de maneira muito didática o significado do conceito de salvaguarda presente nos tratados assinados pelo Brasil. Chegou-se ao cúmulo de sugerir que o Tratado de Trateloco teria sido uma armação do imperialismo americano. O embaixador Sérgio precisou novamente intervir para lembrar que, apesar de ter sido assinado no México, o tratado foi iniciativa da diplomacia brasileira, no contexto da crise dos mísseis em Cuba nos anos 60.Nada ouvi (não pude assistir na íntegra, mas vi a maior parte) sobre o perigo real que significam a segunda geração de países detentores de armamento nuclear (hipótese do uso da bomba em conflitos regionais) e o acesso a artefatos nucleares por organizações terroristas.
PS.: As observações do professor e Paulo R. Almeida no post “(2040) Pausa para uma pequena reflexão sobre o Brasil - Andrei Pleshu” [07/04/2010] são certeiras e aplicam-se bastante ao que pude assistir durante o Seminário.
http://diplomatizzando.blogspot.com/2010/04/2040-pausa-para-uma-pequena-reflexao.html
PS’.: Os últimos acontecimentos nesse campo puseram a nu o isolamento do governo brasileiro em sua posição acintosamente pró-Irã. Imagino que Lula não irá à cúpula nuclear convocada por Obama para a próxima semana armado com a retórica do estilingue e da falta de moral.Quando Hillary esteve no Brasil, a secretária não conseguiu obter apoio do governo brasileiro para uma nova rodada de sanções contra o Irã.
Mas na CRE do Senado (06/04/2010), Celso Amorim deu mostra que acusou o golpe, relativizando na Comissão o que antes eram afirmativas peremptórias:"O Irã tem que demonstrar flexibilidade. Ele também não pode se isolar", disse Amorim. [eu observo: portanto, o governo brasileiro não vai mais apoiar a intransigência do Irã. Parece que finalmente os nossos itamaratecas aprenderam a lição, depois da sucessão de erros na questão hondurenha].O ministro brasileiro disse ainda que o governo brasileiro irá aplicar as sanções comerciais ao Irã se essa for a decisão do Conselho de Segurança da ONU."Se houver sanções, mesmo que a gente não concorde com elas, isso vai afetar a cooperação econômica do Brasil com o Irã", disse Amorim."Temos dito isso a eles com clareza. Espero que eles vejam que é necessário negociar", acrescentou.