segunda-feira, 28 de maio de 2012

O Povo jornal do Ceara

ANÁLISE 27/05/2012

Dependência da União está na raiz do problema

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A concentração de influência na esfera federal de poder está na raiz das distorções que se verificam no processo definição das candidaturas a prefeito no Brasil, afirma o professor de Ética da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), Roberto Romano.

Segundo ele explica, devido ao fato de o Governo Federal concentrar a arrecadação da maioria dos impostos do País e ser o central principal do poder político, os personagens que possuem maior trânsito e maior influência na esfera federal de poder tornam-se mais influentes nas eleições municipais. “É por isso que vemos em muitos estados os governadores interferindo e influenciando as eleições municipais, pois são personagens mais próximos ao governo federal”, explica o professor.

Romano lembra que os municípios, em geral, dependem de recursos oriundos do tesouro nacional e, por isso, os prefeitos precisam fazer a costura política com quem tem mais acesso ao Palácio do Planalto.

Falta de projetos

Para o cientista político Francisco Moreira Ribeiro, da Universidade de Fortaleza (Unifor), as distorções na definição das candidaturas a prefeito são agravadas pelo fato de que, na sua avaliação, sequer os segmentos de oposição possuírem projetos mais consolidados para a cidade.

Segundo ele, pela ausência até de um projeto de oposição, a discussão sobre as eleições torna-se “meramente eleitoreira” e é neste cenário que se definem as candidaturas pelo País afora. (Pedro Alves)

Falta cidade ao debate

Força dos critérios eleitorais, especialmente as pesquisas de intenção de voto, relegam a plano secundário aspectos de maior interesse do cidadão
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Candidaturas legitimadas pelos diversos setores da sociedade, inclusive pelos movimentos sociais, definidas no contexto da proposição de soluções para os problemas da cidade e, se possível, aprovadas por meio de processos democráticos no âmbito dos partidos políticos. Especialistas ouvidos pelo O POVO possuem visões diferentes sobre as distorções que corrompem o processo de escolha dos candidatos a prefeito, mas concordam que é preciso pensar em critérios menos eleitorais para a definição das candidaturas ao Poder Executivo municipal.

Com partidos políticos menos “oligarquizados”, lembra o professor de Ética da Universidade de Campinas (Unicamp), Roberto Romano, poderíamos ter decisões que passassem pelo crivo dos movimentos sociais e que considerassem a opinião de líderes comunitários. Mas hoje, os partidos ainda funcionam sob a égide de seus “donos”, conforme pontua Adriano Oliveira, cientista política e professor da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE). O vereador Carlos Mesquita (PMDB), por exemplo, foi muito sincero sobre o assunto: “Nós, do PMDB, delegamos todas as decisões sobre as eleições para o nosso presidente e senador Eunício Oliveira. Ele que vai decidir os rumos do partido”.

Oliveira e o também cientista político Francisco Moreira Ribeiro, da Universidade de Fortaleza (Unifor), concordam que a discussão de programas e projetos voltados para os problemas da cidade precisam fazer parte do processo de definição das candidaturas. “Muitas vezes, só se começa a debater a cidade na campanha eleitoral, a partir de julho, o que é uma distorção. O debate já era para estar acontecendo, agora na pré-campanha”, diz Oliveira.

Qualificação

Ainda segundo o cientista político, a qualificação pessoal do candidato nem precisa ser observada. Ele lembra que dificilmente existirá alguém qualificado para resolver os problemas de uma cidade em seus diversos setores. “Torna-se mais importante a construção de uma equipe técnica competente para compor o secretariado”, diz.

Mas na lógica atual de construção dos candidatos, a composição do secretariado também fica comprometida por causa dos compromissos políticos que geralmente são firmados em nome da candidatura, segundo avalia Romano. Ele aponta que os candidatos construídos no atual sistema que chegam à vitória tornam-se, em geral, prefeitos fragilizados por causa da divisão do poder, a partir da distribuição política das pastas da gestão. (Pedro Alves)

Por quê
ENTENDA A NOTÍCIA

A fragilidade dos partidos, como estruturas orgânicas, servem à ação de líderes que terminam impondo seus interesses na hora das grandes decisões. Por exemplo, quando se trata de definir a presença nas disputas eleitorais. strução de uma candidatura 27/05/2012

O primeiro erro dos partidos

A forma de definição dos candidatos ajuda a entender situações como a que o fortalezense assiste hoje, com aliados do porte de Cid e Luizianne tentando impor nome do candidato
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O candidato à Prefeitura de Fortaleza que, à primeira vista, pode ser um dos mais fortes na disputa de outubro, com apoio de PT, PSB e PMDB, está sendo escolhido por meio de uma briga entre o grupo político do governador Cid Gomes (PSB) e da prefeita Luizianne Lins (PT). Um não aceita o candidato indicado pelo outro. Mas, e a cidade? O tensionamento que já chegou aos ouvidos do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) deixa exposto em Fortaleza uma característica do ambiente político que tem alcance nacional, segundo especialistas ouvidos pelo O POVO.

A definição das candidaturas a prefeito, no âmbito dos partidos políticos, considera mais a vontade pessoal de figuras poderosas, interesses políticos de grupos influentes e seus objetivos eleitorais do que propriamente as necessidades da cidade e de sua população. Um quadro que deixa a população à revelia das decisões importantes. “Preocupa-se muito com os nomes, mas sem uma discussão ideológica e propositiva sobre os problemas da cidade. (...) Isso não leva a nada”, avalia o cientista político Francisco Moreira Ribeiro, professor da Universidade de Fortaleza (Unifor).

Luizianne e Cid estão em uma quebra de braço para decidir quem será o candidato da possível aliança mas, o que se vê em jogo, é o interesse eleitoral (o desejo de poder) que se verifica de um lado e de outro da disputa. “Não há diálogo, os nomes (candidatos), geralmente são colocados seguindo uma ordem vertical de poder dentro dos partidos”, responde o professor de Ética da Universidade de Campinas (Unicamp), Roberto Romano. O cientista político Adriano Oliveira, da Universidade de Recife (UFPE), acrescenta que, muitas vezes, são as pesquisas eleitorais que definem os nomes que concorrerão.

Nos discursos dos partidos, as candidaturas são definidas com base na experiência dos possíveis candidatos, a democracia interna do partido – sempre consultado antes das decisões -, as qualificações pessoais dos nomes escolhidos e o conhecimento da cidade. Na prática, alguns nomes entre os atuais pré-candidatos só estão no páreo por causa da força eleitoral que possuem, da visibilidade que conquistaram no exercício de suas funções ou das bênçãos que recebem de nomes influentes na política. O resultado disso, segundo Romano, é a perda de legitimidade das candidaturas. Nas próximas páginas, O POVO apresenta o modelo ideal desenhando por especialistas e mostra como acontece formalmente as definições nos partidos.
 Porquê

ENTENDA A NOTÍCIA

A briga aberta entre os líderes do PT e PSB, às vésperas do processo sucessório, se explica pelo quadro político distorcido do País, especialmente quando se olha para os partidos. Briga-se por nomes antes de discutir programas e prioridades.

O tempo
As discussões acabam sendo feitas de última hora, sem interesse de fazê-las chegar ao conjunto dos filiados. Assim, por exemplo, é que raramente se usa a prática da prévia como instrumento de escolha

Plano
Raros são os casos em que um programa consistente de governo é definido antes da campanha. O tema nunca está na prioridade dos partidos.  
Visão
Nem sempre cobra-se do pré-candidato o seu pensamento sobre a cidade, no caso da eleição municipal. Uma falha que começa nos debates partidários internos

O líder
É o vínculo que define, muitas vezes, o perfil do candidato. Quanto mais fiel ao líder, mais chances de vir a ser o escolhido em grande parte das situações