Segundo turno refina campo das opções, afirmam analistas
   
       
  28 de maio de 2012 • 06h27  
 
Neste ano, 82 dos 5.564 municípios brasileiros terão possibilidade de 
segundo turno nas eleições, cinco a mais em relação a 2008. No âmbito 
municipal, muitos criticam o fato de o segundo turno intensificar jogos 
políticos e a busca por alianças, desfavorecendo a credibilidade do 
processo eleitoral. No entanto, analistas políticos consultados pelo Terra afirmam que os municípios têm muito mais a ganhar.
 
Para o cientista político Roberto Romano, professor de Ética da 
Universidade de Campinas (Unicamp), o segundo turno será sempre positivo
 ao estimular a concorrência e aprofundar o conhecimento do eleitor 
sobre o candidato. "Ele ajuda a refinar o campo das opções. Geralmente 
os municípios com mais de 200 mil eleitores são mais sofisticados do que
 aqueles comandandos no cabresto", afirma.
No contexto histórico, o segundo turno passou a ser reivindicado no 
cenário eleitoral brasileiro pela União Democrática Nacional (UDN) - 
partido conservador fundado em oposição ao governo Getúlio Vargas - na 
década de 1940. Na época, os udenistas contestavam o primeiro turno, 
alegando que não havia maioria absoluta no resultado. Essa experiência 
histórica pesou para que a Constituição de 1988 o legitimasse.
Segundo Romano, alguns prefeitos obtêm um poderio maléfico para a 
máquina pública. "Carentes de recursos federais, os municípios estão 
sempre inadimplentes. O administrador com amigos poderosos pode suprir 
parte dos problemas da cidade, principalmente o de obras, tomando total 
controle do poder", sustenta.
 
Problema grave no processo eleitoral brasileiro, os municípios se tornam
 "cartórios" das disputas nacionais, tangendo o eleitor a votar em 
grupos hegemônicos. É quando, na opinião de Romano, a legitimidade do 
segundo turno ganha importância. "A tendência é: quanto maior a 
população, mais complexa a rede de informações será. Os eleitores têm a 
chance de combater os equívocos éticos dos governantes", considera.
 
Do ponto de vista do cientista político Paulo Kramer, professor da 
Universidade de Brasília (UnB), as pequenas cidades tendem à 
bipolaridade. "Sempre há duas oligarquias políticas brigando pelo poder.
 Todos tomam partido de um lado ou de outro. O segundo turno sempre será
 adequado neste cenário", analisa. Em contraponto, Ricardo Caldas, 
especialista em ciência política, não vê o aumento da influência do 
prefeito como prejudicial. É natural que ele se torne um ator mais 
importante com a representatividade do município. "Quanto mais ele se 
destaca, mais ele pode trazer recursos e iniciativas para a cidade", 
afirma.