terça-feira, 29 de maio de 2012

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Segundo turno refina campo das opções, afirmam analistas
28 de maio de 2012 06h27


Gonçalo Valduga
Neste ano, 82 dos 5.564 municípios brasileiros terão possibilidade de segundo turno nas eleições, cinco a mais em relação a 2008. No âmbito municipal, muitos criticam o fato de o segundo turno intensificar jogos políticos e a busca por alianças, desfavorecendo a credibilidade do processo eleitoral. No entanto, analistas políticos consultados pelo Terra afirmam que os municípios têm muito mais a ganhar.

Para o cientista político Roberto Romano, professor de Ética da Universidade de Campinas (Unicamp), o segundo turno será sempre positivo ao estimular a concorrência e aprofundar o conhecimento do eleitor sobre o candidato. "Ele ajuda a refinar o campo das opções. Geralmente os municípios com mais de 200 mil eleitores são mais sofisticados do que aqueles comandandos no cabresto", afirma.

No contexto histórico, o segundo turno passou a ser reivindicado no cenário eleitoral brasileiro pela União Democrática Nacional (UDN) - partido conservador fundado em oposição ao governo Getúlio Vargas - na década de 1940. Na época, os udenistas contestavam o primeiro turno, alegando que não havia maioria absoluta no resultado. Essa experiência histórica pesou para que a Constituição de 1988 o legitimasse.

Segundo Romano, alguns prefeitos obtêm um poderio maléfico para a máquina pública. "Carentes de recursos federais, os municípios estão sempre inadimplentes. O administrador com amigos poderosos pode suprir parte dos problemas da cidade, principalmente o de obras, tomando total controle do poder", sustenta.

Problema grave no processo eleitoral brasileiro, os municípios se tornam "cartórios" das disputas nacionais, tangendo o eleitor a votar em grupos hegemônicos. É quando, na opinião de Romano, a legitimidade do segundo turno ganha importância. "A tendência é: quanto maior a população, mais complexa a rede de informações será. Os eleitores têm a chance de combater os equívocos éticos dos governantes", considera.

Do ponto de vista do cientista político Paulo Kramer, professor da Universidade de Brasília (UnB), as pequenas cidades tendem à bipolaridade. "Sempre há duas oligarquias políticas brigando pelo poder. Todos tomam partido de um lado ou de outro. O segundo turno sempre será adequado neste cenário", analisa. Em contraponto, Ricardo Caldas, especialista em ciência política, não vê o aumento da influência do prefeito como prejudicial. É natural que ele se torne um ator mais importante com a representatividade do município. "Quanto mais ele se destaca, mais ele pode trazer recursos e iniciativas para a cidade", afirma.