quarta-feira, 3 de outubro de 2012

Contas Abertas. O jornalista me põe na USP, quando na verdade sou da Unicamp. Fora tal coisa, o texto merece leitura, não por mim, mas pelos dados, muito reveladores.

















03/10/2012
Eleições 2012: maior arrecadação não garante liderança em capitais
Filipe Marques
Do Contas Abertas

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As eleições municipais de 2012 demonstram que dinheiro não é tudo na corrida eleitoral. Em 11 capitais, candidatos a prefeito que arrecadaram menos do que adversários lideram as pesquisas de intenção de votos. Os dados são da segunda parcial de prestação de contas dos candidatos, que abrange o período de 6 de julho a 6 de setembro, divulgada pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE). O levantamento levou em conta as pesquisas do Instituto Ibope, entre 13 de setembro e 1 de outubro.
A primeira colocação de candidatos com receitas inferiores a concorrentes ocorre em São Paulo (SP), Salvador (BA), Porto Alegre (RS), Curitiba (PR), Florianópolis (SC), Natal (RN), Maceió (AL), Teresina (PI), Porto Velho (RO), Goiânia (GO) e Campo Grande (MS).

Juntas, as 11 cidades representam 16,4 milhões dos quase 31 milhões de eleitores que irão às urnas nas capitais neste domingo (7/10). Em todo o país, mais de 140 milhões de eleitores devem comparecer às urnas para escolher prefeitos e vereadores dos 5.564 municípios brasileiros.
Segundo o cientista político Roberto Romano, da Universidade de São Paulo (USP), a parcial de prestação de contas ainda reflete o quadro do favoritismo de alguns candidatos no início do processo eleitoral. Os doadores ainda estavam aguardando que alguns líderes nas pesquisas que, no início da corrida eleitoral, não eram considerados favoritos se consolidassem como candidatos confiáveis antes de depositarem suas doações. “Para o doador, a eleição é um investimento muito arriscado. Se você investe em um candidato e este perde, você tem um prejuízo muito grande”, afirma.
Romano aponta que a demora por parte dos doadores em escolher o candidato no qual investir é natural, já que é quase impossível prever como o eleitorado irá se comportar. “A opinião dos eleitores é manipulável até certo ponto pela propaganda política, que exige muito dinheiro. Mas, na realidade, é um dado imprevisível. Como [o jurista italiano Norberto] Bobbio dizia, o processo eleitoral precisa ser entendido como um jogo, quase uma loteria, em que é muito difícil você prever matematicamente os resultados. A opinião do eleitorado é sujeita a mil influências: problemas de ordem local, nacional e, até mesmo, internacional”, explica.

São Paulo

O caso mais relevante é o da capital paulista, onde o líder das pesquisas, Celso Russomanno (PRB), é o quinto colocado em arrecadação e recebeu apenas R$ 870 mil. Os outros dois principais concorrentes, José Serra (PSDB) e Fernando Haddad (PT), arrecadaram valores significativamente superiores. A campanha do tucano já recebeu cerca de dez vezes o valor arrecadado por Russomanno: nada menos do que R$ 8,1 milhões. Já o petista possui a campanha mais cara destas eleições municipais, com mais de R$ 10 milhões.

À frente de Russomanno em arrecadações ainda estão Gabriel Chalita (PMDB) e Paulinho da Força (PDT). O candidato pemedebista é somente o quarto colocado nas pesquisas (10%), mas já arrecadou R$ 5,1 milhões, quase seis vezes o valor recebido pelo candidato do PRB. Já o pedetista, com apenas 1% das intenções de voto, recebeu quase R$ 1,2 milhão.

Romano explica a evidente preferência dos doadores pelos candidatos de maior relevância nacional. “Quando você pensa no mercado eleitoral como um investimento, você tem muita desconfiança na ‘mercadoria’. Hipoteticamente, é muito mais seguro aplicar no Haddad, que tem a fiança do governo federal. Ou no Serra, que, além de ter a própria carreira política, conta com o apoio do Palácio dos Bandeirantes (sede do governo paulista). Ou até mesmo no Chalita, candidato do PMDB. O Celso Russomanno é um aventureiro, além de ser praticamente um desconhecido na política, não tem nenhum apoio significativo e é de um partido pequeno”, afirma.

Porto Velho
A capital onde há a maior discrepância entre receita e intenção de voto é Porto Velho (RO). O líder das pesquisas é Lindomar Garçon (PMDB), com 29% das intenções de voto, mas o pemedebista é apenas o sexto em arrecadação, com menos de R$ 25 mil para a sua campanha.

Por outro lado, o líder em arrecadação, Mario Português (PPS), que ocupa a segunda coloção na intenção dos votos (17%), recebeu R$ 931 mil para campanha. A quinta colocada nas pesquisas e segundo lugar em termos de receita, Fátima Cleide (PT), arrecadou R$ 878,6 mil. Já o terceiro colocado nas pesquisas, Mauro Nazif (PSB), é o quarto em arrecadação: quase R$ 290 mil.
Para o cientista político da USP, o fenômeno que explica tamanha discrepância entre as doações e as intenções de voto é a incapacidade dos grandes partidos políticos de atender as demandas dos eleitorados. “Os partidos políticos brasileiros foram de tal modo burocratizados e oligarquizados que não conseguem mais cumprir com suas funções. Esse núcleo burocrático fechado não dá conta de atender a todas as exigências do processo eleitoral. Como não há a capacidade efetiva da máquina partidária de atender e mobilizar as massas, sempre sobra grande quantidade de eleitores, que passam a procurar outras formas de expressão e buscam candidaturas alternativas. Essa é a hora dos candidatos heterodoxos, que estão fora do controle dos grandes partidos”, aponta.

Outras capitais
Em Salvador, o favorito dos eleitores é Nelson Pellegrino (PT), com 34% das intenções de voto e R$ 1,6 milhão arrecadado. Logo atrás, com 31%, está ACM Neto (DEM), dono de receita três vezes superior: R$ 4,8 milhões.

Quem lidera, com sobras, em Curitiba é o filho do apresentador Ratinho, com 35% das intenções de votos. Ratinho Júnior (PSC), porém, é o segundo colocado em arrecadação: R$ 1,6 milhão. O líder em receita é o atual prefeito da capital paranaense, Luciano Ducci (PSB), que conta com apoio de 28% dos entrevistados e já arrecadou três vezes o valor do adversário, R$ 4,8 milhões.

A comunista Manuela D’ávila (PC do B) é a líder em arrecadação em Porto Alegre, com R$ 1,5 milhão, mas corre o risco de perder a eleição já no primeiro turno para o atual prefeito da capital gaúcha, José Fortunati (PDT). Fortunati, apesar de liderar com folga, é apenas o segundo colocado em receita: R$ 1,2 milhão.

Já em Goiânia, o primeiro lugar das pesquisas, com 41% das intenções de voto, é do petista Paulo Garcia, que já recebeu R$ 313 mil. Num distante segundo lugar, com 11%, vem o líder em arrecadação, Jovair Arantes (PTB), cuja campanha já tem R$ 558 mil em receitas.

Veja sobre as outras capitais aqui (link para tabela)

Empate técnico

Em quatro capitais – Fortaleza (CE), Rio Branco (AC), João Pessoa (PB) e São Luís (MA) –, há empate técnico na liderança entre candidatos que receberam valores significativamente diferentes.
Na capital maranhense, por exemplo, empatados nas primeiras posições nas pesquisas estão João Castelo (PSDB) e Edivaldo Holanda Jr (PTC). O tucano lidera por pouco as intenções de voto e recebeu cinco vezes o valor do seu adversário em receitas para a campanha: R$ 1,6 milhão contra menos de R$ 325 mil.
Já nas 11 capitais restantes, o líder em arrecadação é também o primeiro colocado nas pesquisas.