As
eleições municipais de 2012 demonstram que dinheiro não é tudo na
corrida eleitoral. Em 11 capitais, candidatos a prefeito que arrecadaram
menos do que adversários lideram as pesquisas de intenção de votos. Os
dados são da segunda parcial de prestação de contas dos candidatos, que
abrange o período de 6 de julho a 6 de setembro, divulgada pelo Tribunal
Superior Eleitoral (TSE). O levantamento levou em conta as pesquisas do
Instituto Ibope, entre 13 de setembro e 1 de outubro.
A primeira colocação de
candidatos com receitas inferiores a concorrentes ocorre em São Paulo
(SP), Salvador (BA), Porto Alegre (RS), Curitiba (PR), Florianópolis
(SC), Natal (RN), Maceió (AL), Teresina (PI), Porto Velho (RO), Goiânia
(GO) e Campo Grande (MS).
Juntas, as 11 cidades
representam 16,4 milhões dos quase 31 milhões de eleitores que irão às
urnas nas capitais neste domingo (7/10). Em todo o país, mais de 140
milhões de eleitores devem comparecer às urnas para escolher prefeitos e
vereadores dos 5.564 municípios brasileiros.
Segundo o cientista
político Roberto Romano, da Universidade de São Paulo (USP), a parcial
de prestação de contas ainda reflete o quadro do favoritismo de alguns
candidatos no início do processo eleitoral. Os doadores ainda estavam
aguardando que alguns líderes nas pesquisas que, no início da corrida
eleitoral, não eram considerados favoritos se consolidassem como
candidatos confiáveis antes de depositarem suas doações. “Para o doador,
a eleição é um investimento muito arriscado. Se você investe em um
candidato e este perde, você tem um prejuízo muito grande”, afirma.
Romano aponta que a
demora por parte dos doadores em escolher o candidato no qual investir é
natural, já que é quase impossível prever como o eleitorado irá se
comportar. “A opinião dos eleitores é manipulável até certo ponto pela
propaganda política, que exige muito dinheiro. Mas, na realidade, é um
dado imprevisível. Como [o jurista italiano Norberto] Bobbio dizia, o
processo eleitoral precisa ser entendido como um jogo, quase uma
loteria, em que é muito difícil você prever matematicamente os
resultados. A opinião do eleitorado é sujeita a mil influências:
problemas de ordem local, nacional e, até mesmo, internacional”,
explica.
São Paulo
O caso mais relevante é o
da capital paulista, onde o líder das pesquisas, Celso Russomanno
(PRB), é o quinto colocado em arrecadação e recebeu apenas R$ 870 mil.
Os outros dois principais concorrentes, José Serra (PSDB) e Fernando
Haddad (PT), arrecadaram valores significativamente superiores. A
campanha do tucano já recebeu cerca de dez vezes o valor arrecadado por
Russomanno: nada menos do que R$ 8,1 milhões. Já o petista possui a
campanha mais cara destas eleições municipais, com mais de R$ 10
milhões.
À frente de Russomanno em
arrecadações ainda estão Gabriel Chalita (PMDB) e Paulinho da Força
(PDT). O candidato pemedebista é somente o quarto colocado nas pesquisas
(10%), mas já arrecadou R$ 5,1 milhões, quase seis vezes o valor
recebido pelo candidato do PRB. Já o pedetista, com apenas 1% das
intenções de voto, recebeu quase R$ 1,2 milhão.
Romano explica a evidente
preferência dos doadores pelos candidatos de maior relevância nacional.
“Quando você pensa no mercado eleitoral como um investimento, você tem
muita desconfiança na ‘mercadoria’. Hipoteticamente, é muito mais seguro
aplicar no Haddad, que tem a fiança do governo federal. Ou no Serra,
que, além de ter a própria carreira política, conta com o apoio do
Palácio dos Bandeirantes (sede do governo paulista). Ou até mesmo no
Chalita, candidato do PMDB. O Celso Russomanno é um aventureiro, além de
ser praticamente um desconhecido na política, não tem nenhum apoio
significativo e é de um partido pequeno”, afirma.
Porto Velho
A capital onde há a maior
discrepância entre receita e intenção de voto é Porto Velho (RO). O
líder das pesquisas é Lindomar Garçon (PMDB), com 29% das intenções de
voto, mas o pemedebista é apenas o sexto em arrecadação, com menos de R$
25 mil para a sua campanha.
Por outro lado, o líder
em arrecadação, Mario Português (PPS), que ocupa a segunda coloção na
intenção dos votos (17%), recebeu R$ 931 mil para campanha. A quinta
colocada nas pesquisas e segundo lugar em termos de receita, Fátima
Cleide (PT), arrecadou R$ 878,6 mil. Já o terceiro colocado nas
pesquisas, Mauro Nazif (PSB), é o quarto em arrecadação: quase R$ 290
mil.
Para o cientista político
da USP, o fenômeno que explica tamanha discrepância entre as doações e
as intenções de voto é a incapacidade dos grandes partidos políticos de
atender as demandas dos eleitorados. “Os partidos políticos brasileiros
foram de tal modo burocratizados e oligarquizados que não conseguem mais
cumprir com suas funções. Esse núcleo burocrático fechado não dá conta
de atender a todas as exigências do processo eleitoral. Como não há a
capacidade efetiva da máquina partidária de atender e mobilizar as
massas, sempre sobra grande quantidade de eleitores, que passam a
procurar outras formas de expressão e buscam candidaturas alternativas.
Essa é a hora dos candidatos heterodoxos, que estão fora do controle dos
grandes partidos”, aponta.
Outras capitais
Em Salvador, o favorito
dos eleitores é Nelson Pellegrino (PT), com 34% das intenções de voto e
R$ 1,6 milhão arrecadado. Logo atrás, com 31%, está ACM Neto (DEM), dono
de receita três vezes superior: R$ 4,8 milhões.
Quem lidera, com sobras,
em Curitiba é o filho do apresentador Ratinho, com 35% das intenções de
votos. Ratinho Júnior (PSC), porém, é o segundo colocado em arrecadação:
R$ 1,6 milhão. O líder em receita é o atual prefeito da capital
paranaense, Luciano Ducci (PSB), que conta com apoio de 28% dos
entrevistados e já arrecadou três vezes o valor do adversário, R$ 4,8
milhões.
A comunista Manuela
D’ávila (PC do B) é a líder em arrecadação em Porto Alegre, com R$ 1,5
milhão, mas corre o risco de perder a eleição já no primeiro turno para o
atual prefeito da capital gaúcha, José Fortunati (PDT). Fortunati,
apesar de liderar com folga, é apenas o segundo colocado em receita: R$
1,2 milhão.
Já em Goiânia, o primeiro
lugar das pesquisas, com 41% das intenções de voto, é do petista Paulo
Garcia, que já recebeu R$ 313 mil. Num distante segundo lugar, com 11%,
vem o líder em arrecadação, Jovair Arantes (PTB), cuja campanha já tem
R$ 558 mil em receitas.
Empate técnico
Em quatro capitais –
Fortaleza (CE), Rio Branco (AC), João Pessoa (PB) e São Luís (MA) –, há
empate técnico na liderança entre candidatos que receberam valores
significativamente diferentes.
Na capital maranhense,
por exemplo, empatados nas primeiras posições nas pesquisas estão João
Castelo (PSDB) e Edivaldo Holanda Jr (PTC). O tucano lidera por pouco as
intenções de voto e recebeu cinco vezes o valor do seu adversário em
receitas para a campanha: R$ 1,6 milhão contra menos de R$ 325 mil.
Já nas 11 capitais restantes, o líder em arrecadação é também o primeiro colocado nas pesquisas.
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