Fora das urnas, nomes fortes de partidos contabilizam ganhos e perdas
29 de outubro de 2012 | 0h 44
* EDUARDO CAM - Reuters
Lideranças políticas com influência direta nas
campanhas, mesmo sem ter os nomes na urnas das disputas municipais deste
ano, contabilizam ganhos e perdas com o pleito e a nova configuração
política regional no país a partir de janeiro. O governador de Pernambuco, Eduardo Campo (PSB), contudo, é quem sai
mais fortalecido com os resultados das eleições. Campos nacionalizou seu nome e seu partido, ampliou para o número de
capitais comandadas Pela legenda para cinco --superando o PT e PSDB-- e
espalhou sua influência para além do Nordeste, afirmaram especialistas
ouvidos pela Reuters.
Para o cientista político da Unicamp Roberto Romano, o PSB foi quem
mais teve ganhos neste pleito, por conseguir dobrar sua
representatividade em termos de prefeitos e vereadores."Há uma liderança nacional (Eduardo Campos) que cresce e preocupa
tucanos e petistas. Ele tem condições de fazer alianças que preocupam
eles (PT e PSDB)", disse Romano. Em 2008, o PSB conquistou 310 prefeituras. Agora, chegou a 450,
considerando os resultados deste domingo. E governará cinco capitais,
entre elas Recife, Fortaleza e Belo Horizonte. E em todas essas disputas
teve o PT como adversário.
O ex-presidente Lula, que apostou na renovação e fez o PT
reconquistar o comando da capital paulista com um nome neófito nas
urnas, o ex-ministro da Educação Fernando Haddad, também colheu
dividendos políticos no pleito deste ano. "Mesmo com erro em Recife, quem saiu consagrado é o Lula", disse o
cientista político e diretor do Instituto de Pesquisas e Projetos
Sociais (Inpro), Benedito Tadeu Cesar, argumentando que o ex-presidente
bancou a percepção de que o eleitorado queria mudança em São Paulo. Em Recife, Lula pediu e a cúpula nacional do partido interveio no
diretório local e impôs a candidatura do senador Humberto Costa, que
acabou em terceiro lugar.
Para Romano, o êxito da estratégia de Lula em São Paulo não revela
uma fórmula infalível. "Em São Paulo, pelas condições especialíssimas é
que deu certo", analisou. Já a presidente Dilma Rousseff, que pessoalmente teve modesta
participação nas campanhas municipais, viu quatro dos cinco palanques em
que subiu (Salvador, Campinas, Manuas, Belo Horizonte e São Paulo)
serem derrotados.
Porém, para os analistas, a participação cirúrgica pode ter ajudado a
presidente a irritar pouco sua grande base aliada, que se fragmentou
nas disputas pelo país, principalmente o PSB e o PMDB.
"Ela conseguiu em parte não se transformar em 'cheerleader'
(animadora de torcida) do PT, esteve em Salvador e Campinas e perdeu,
mas não comprometeu sua pessoa com essas vitórias ou derrotas", analisou
Romano.
Já o atual prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab (PSD), apesar de
ter apoiado José Serra, derrotado na capital paulista, sai desta eleição
com um trunfo importante: conseguiu consolidar seu novo partido, o PSD,
em apenas um ano. Além de conquistar 495 prefeituras --entre elas uma capital--, o
partido já tem como certa a promessa de um ministério na Esplanada.
RENOVAÇÃO
O PSDB perdeu a prefeitura de São Paulo --a maior cidade e colégio
eleitoral do País--, mas manteve número semelhante de prefeituras e
capitais em relação à eleição anterior. O partido, que sempre teve
tradição no Sudeste, cresceu no Norte e Nordeste do país.A maior derrota pessoal, segundo os especialistas ouvidos, foi do
tucano José Serra, que perdeu a prefeitura paulistana para Fernando
Haddad. Foi a sua segunda derrota em dois anos --perdeu a corrida à
Presidência da República em 2010 para Dilma. Serra, que já abandonou
dois cargos -- de governador e prefeito -- para tentar outras
candidaturas, aos 70 anos tem contra si a idade e resistências
crescentes em seu partido. Neste domingo, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso afirmou que é hora de o PSDB buscar o novo. "O partido com um todo, o que vai precisar mesmo, é exatamente de
renovação. Há um momento em que as gerações mudam, nós estamos num
momento de mudança de geração. Isso não quer dizer que os antigos
líderes desaparecem, mas quer dizer que eles têm que empurrar os novos
para ir à frente", argumentou FHC a jornalistas depois de votar.
Romano, porém, não acredita que o virtual candidato tucano à
presidência em 2014, o senador Aécio Neves (MG), tenha condições de ser o
condutor da renovação do tucanato. "A derrota do Serra é a derrota do Aécio", disse Roberto Romano sobre
o senador tucano, que consolidou sua supremacia em Minas Gerais, mas
não expandiu seu capital político nacionalmente. "Ele saiu bem, mas foi muito mineiro. Trabalhou muito em silêncio",
disse David Fleischer, cientista político da UnB.
Já o partido que mais contabilizou insucessos foi o DEM --apesar da
importante vitória de ACM Neto em Salvador. "O DEM foi o que mais
perdeu. Perdeu mais de metade dos seus deputados para o PSD e perdeu
muitos prefeitos... Desde 2004 estão descendo a ladeira", disse
Fleischer. Apesar disso, Fleischer não acredita que a legenda deixe de existir nos próximos meses. "Acho que tem muitos políticos do DEM com brios e com a fusão
perderia liderança no novo partido. É mais provável que o DEM continue",
afirmou o cientista político da UnB.
SOBE E DESCE DAS LEGENDAS
Entre os partidos, além de PSB, PSD e PT, os especialistas ressaltam o
"renascimento" do PDT, sigla de origem da presidente Dilma. "Além do crescimento com PSB, continuo insistindo no crescimento do
PDT, que conquistou duas capitais do Sul (Porto Alegre e Curitiba)...
Partido que renasce depois da morte de (Leonel) Brizola", disse Tadeu
César. O PDT conquistou ainda a prefeitura de Natal.
(Edição de Maria Pia Palermo; Raquel Stenzel)