Internacional
publicado em 08/10/2012 às 18h06:
ANÁLISE-Eleições municipais não sacramentam grandes vitoriosos
Por Jeferson Ribeiro
BRASÍLIA, 8 Out (Reuters) - O
resultado das urnas na disputa municipal não foi definitivo para apontar
políticos ou partidos vitoriosos, apesar deles confirmarem o PMDB como
"rei" das prefeituras ou mostrarem um grande avanço do PSB. A
complexidade do quadro político nacional impede uma conclusão nessa
linha seja olhando os números gerais ou casos específicos, disseram
especialistas.
Avanços como o do PT, que mesmo sob o fogo intenso
do julgamento do mensalão no Supremo Tribubal Federal (STF), conseguiu
eleger mais prefeitos do que em 2008, são relativos porque a disputa
pela prefeitura de São Paulo tem um peso extra que pode definir se a
estratégia foi realmente vitoriosa.
O PT passou de 558 eleitos para 624 no primeiro turno.
O
mesmo vale para o PSDB, que muitos analistas políticos acreditavam que
perderia bastante terreno nos municípios por conta do governo federal
petista ser bem avaliado. Os tucanos elegeram 683 prefeitos até agora,
ante 784 em 2008.
O partido se manteve como terceira maior força
nos municípios, mas, como o PT, o seu desempenho só poderá ser medido
efetivamente após o segundo turno em São Paulo.
Para o professor
David Fleischer, da Universidade de Brasília, a disputa em São Paulo é
que determinará qual partido teve melhor desempenho porque "até agora é
tudo muito relativo. Tem que ver como vai ficar no final".
Fleischer
e os outros analistas apostam também que a campanha eleitoral em São
Paulo será muito dura e o mensalão será uma arma usada de forma
constante pelo PSDB.
"Esse tema vai ter mais peso no segundo turno. No segundo turno é ataque um contra um", avalisa Fleisher.
PSB E PSD MOSTRAM FORÇA
O resultado das urnas também revelou o crescimento de dois partidos com histórias bem diferentes: PSB e PSD.
O
primeiro, comandado pelo governador de Pernambuco, Eduardo Campos,
elegeu 416 prefeitos até agora, ante 314 eleitos em 2008. Esse salto deu
musculatura à legenda mas ainda não é suficiente, segundo os analistas,
para impulsionar uma candidatura própria à Presidência da República.
"O
PSB surge como uma promessa de vitorioso, mas não vitorioso em termos
absolutos", avaliou o cientista político da Unicamp, Roberto Romano.
Para
ele, o crescimento do PSB ainda é pouco hegemônico e o atrelamento do
partido ao projeto do PT representa uma limitação às ambições de Campos.
"Ele
(Campos) se cacifou junto ao eleitorado. Conquistou mais alguns metros
de terreno em suas ambições legítimas. Mas comprou adversários
vingativos. Essa humilhação que ele impingiu ao Lula vai ser cobrada",
previu.
Romano se refere à vitória acachapante do candidato de
Campos à prefeitura de Recife, Geraldo Júlio, sobre o senador petista
Humberto Costa, imposto pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e
pelo comando nacional do PT. Costa ficou em terceiro na disputa.
Cientista
político e diretor do Instituto de Pesquisas e Projetos Sociais
(Inpro), Benedito Tadeu Cesar concorda que o resultado dessas eleições
ainda não deixam os socialistas em condições de terem um projeto
nacional próprio.
"O PSB pode fazer com que o Eduardo Campos alce
voo sozinho, o que vai ser um equívioco porque (ele) não tem estrutura
partidária", avaliou Cesar.
Já o PSD, partido fundado no ano
passado pelo prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab, teve um avanço
inegável, ainda mais para uma legenda principiante, que só conseguiu
garantir o tempo de TV para sua candidaturas e os recursos do fundo
partidário depois da disputa eleitoral já em curso.
Em sua primeira eleição, o PSD elegeu 491 prefeitos e se tornou a quarta força política no comando das prefeituras.
Na
avaliação dos analistas, isso garante ao partido um futuro promissor
para as eleições de 2014, quando esses prefeitos podem impulsionar uma
bancada de deputados forte na Câmara dos Deputados.
Essa é a
fórmula de sucesso usada pelo PMDB, partido com maior número de
prefeitos há décadas. Nessa eleição, os peemedebistas conseguiram vencer
a eleição em 1.025 municípios. Em 2008, eles comandavam 1.199
prefeituras.
"É uma qualidade dele e um defeito dos demais
partidos. O PMDB distribui os mandos nas suas federações oligárquicas
sem provocar os rachas que têm no PT e no PSDB", argumentou Romano.
Segundo ele, isso faz com que mesmo quando tem uma pequena queda o PMDB consegue compensar essas derrotas em algumas cidades.
DILMA x AÉCIO
Se
para Campos o resultado das urnas pode ser considerado esperançoso para
projetos políticos mais ambiciosos, o virtual candidato do PSDB à
Presidência em 2014, o senador Aécio Neves, não tirou tanto proveito
dessas eleições na avaliação dos analistas.
Ele garantiu a
reeleição do prefeito Márcio Lacerda (PSB) em Belo Horizonte, numa
disputa que o colocou frente à frente com a presidente Dilma Rousseff,
mas não conseguiu impor uma derrota acachapante ao candidato petista,
Patrus Ananias, lançado na última hora.
O PT só lançou a
candidatura de Patrus depois de se desentender com Lacerda, que
descumpriu um acordo com os petistas pela coligação proporcional na
capital mineira, e Dilma participou ativamente na construção da aliança
com o PMDB em BH.
"Ele protegeu o território dele. Mas cometeu
erros... ele vai precisar de votos nacionais, foi muito primitivamente
provinciano. Se ele for mesmo candidato à República isso vai custar
caro", avaliou Romano fazendo referência às declarações do tucano de que
Dilma não deveria interferir na eleição mineira, porque não fez
carreira política no Estado.
Já o diretor do Inpro disse que Aécio ficou "ficou encapsulado em BH em Minas Gerais".
O
desempenho da presidente, porém, divide os analistas. A atuação
discreta dela nas disputas municipais evitou que ela recebesse rótulos
de vitória ou derrota, mas ela também pode ter perdido uma oportunidade
de ampliar sua presença política.
"Se fosse para dar uma nota se 1
a 10, eu daria 5. Ela não cometeu erros graves, mas não jogou bem com
as peças que tinha", avaliou Romano.
Para o diretor do Inpro,
Dilma teve "uma atuação estratégica correta". E em Belo Horizonte,
apesar de seu candidato ter saído derrotado, ela conseguiu ajudar o PT a
ocupar um espaço e "não deixou flanco aberto para o Aécio e o PSDB".
Romano
acredita que Dilma pode colher outra vantagem se "não virar arroz de
festa" no segundo turno: terá uma base aliada menos irritada com sua
intervenção na disputa municipal.
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