quarta-feira, 17 de outubro de 2012

MARCHA MUNDIAL DAS MULHERES

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MARCHA MUNDIAL DAS MULHERES
BOLETIM DE ENLACE


Volume 14 – Número 3 – Agosto 2012
INTERNACIONAL
Jovens feministas de 12 países de reúnem no acampamento na Romênia:
O segundo Acampamento de Jovens
Feministas da Europa ocorreu em
Moroieni, Romênia, entre os dias 6 e 16
de agosto de 2012. Estiveram presentes
mais de 50 jovens mulheres de 12 países
e territórios: Romênia, País Basco,
Turquia, Catalunha, França, Armênia,
Itália, Alemanha, Noruega, Galícia,
Portugal e Suíça. Jovens feministas do
Brasil e do Chile também vieram para
reforçar nosso movimento.
As participantes realizaram várias oficinas sobre temas
como ataques contra o aborto, feminicídio e crimens de
honra, sexo seguro, autodefesa, política lésbica, as
mulheres e o meio ambiente, mulheres, a militarização
e a paz, e lutas radicais contra a violência sexual. Nas
assembléias
gerais,
organizamos
nosso
cotidiano,
conversamos
sobre uma
agenda comum
de lutas
comuns, e
sobre a agenda da MMM, como a campanha européia
contra a dívida e a austeridade.
No sábado, 11 de agosto, fizemos uma manifestação no
centro de Targoviste (fotos), que incluiu espetáculos,
batucadas e representações diferentes países
presentes. Jovens ativistas da MMF, no Quênia,
Filipinas e Tunísia não puderam estar no acampamento
porque lhes foi negado o visto. Denunciamos, então, a
“Europa-fortaleza” e seu regime de imigração, que
favorece o tráfico de mulheres para servir sexualmente
aos homens e a super exploração do seu trabalho.
“Afirmamos que nós, jovens feministas da Europa e do
mundo, estamos trabalhando para destruir esse
sistema, superar preconceitos e trabalhar em nossas
sociedades, que hoje são influenciadas por ideologias
racistas e patriarcais, para encontrar novas maneiras
com as quais os seres humanos possamos viver livres
da violência e da opressão”.
Editorial
Na construção do nosso movimento, buscamos maneiras de concretizar a relação entre a dimensão internacional e
local. Este boletim compartilha várias experiências nesse sentido. Uma das estratégias é fortalecer a dimensão
regional a partir do nosso debate e articulação, como é o caso do Acampamento de Jovens da Europa e o Encontro
Américas. Outra é construir espaços regionais de articulação de movimentos sociais e, ao mesmo tempo, expresar
neles os posicionamentos da MMM e estabelecer relações com novos grupos e outros países.
Esse é o caso da participação da MMM na Cùpula dos Povos da África do Sul e do Conselho do Fórum Social Mundial
na Tunísia, com ampla presença do Mundo Árabe. Também buscamos criar laços entre países de diferentes regiões,
a partir da solidariedade e de lutas comuns. A resistência aos ataques contra os direitos reprodutivos das mulheres
acontece na Galícia e nas Filipinas. A denúncia contra a energia nuclear por seus riscos ambientais e à saúde
mobilizou nossas companheiras no Japão. Enquanto isso, na Rio+20, entre as denúncias contra as falsas soluções à
crise climática, uma das palavras de ordem da MMM foi “Violência não! Nem no lar, nem nuclear!”. Seguimos
tecendo novas pontes de resistência e solidariedade.
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BOLETIMDE ENLACE
ÁFRICA
Ações se centram na indústria extrativa e violência contra as mulheres
A MMM participou de uma grande marcha dos povos
realizada no dia 16 de agosto, simultânea à reunião dos
chefes de Estado da Comunidade para o
Desenvolvimento da África do Sul (SADC, em Inglês),
em Maputo, capital de Moçambique. Entre suas pautas
estava principalmente a luta contra a indústria
extrativa e a violência contra as mulheres. Esses foram
temas tratados também na Cúpula dos Povos
simultânea à SADC.
A MMM também se articulou com várias associações
regionais para discutir a adoção de um manifesto e
uma agenda política da smulheres frente à SADC. Um
seminário nacional realizado no dia 10 de agosto
debateu esse tema e identificou anseios como o de
transformar em realidade os 50 por cento da
participação das mulheres em todas as áreas da
economia, a paridade de gênero nas instituições, nos
processos e observatórios eleitorais e nos Conselhos
Consultivos, assim como a necessidade de mais acesso a
recursos econômicos e ao crédito.
ASIA-OCEANIA
Lutas históricas das mulheres: por seus direitos reprodutivos e
sociedades livres de energia nuclear
Quando o 8º Encontro Internacional ocorreu em
Manila, Filipinas, em novembro de 2011, uma das
grandes lutas que apoiamos foi pela aprovação do
projeto de lei de saúde reprodutiva (RH bill) no
Congresso das Filipinas. A medida em que
marchávamos no calor abrasador, gritávamos com
nossas companheiras de Filipinas que fosse apoiada
essa lei para que as unidades do governo local (LGU em
Inglês) se encarregassem de garantir o acesso aos
serviços de saúde reprodutiva, especialmente as
mulheres pobres e com deficiência. A lei prevê a
adequada atenção obstétrica e neonatal, incluindo em
situações difíceis como as complicações pós-aborto, e
estabelece o ensino de educação sexual apropriada
segundo a idade no ensino formal e não formal.
Porém, a Igreja Católica manifestou uma forte oposição
à aprovação da lei durante a última década, utilizando
as missas dominicais como plataforma para sua
campanha anti-RH. Mais recentemente, a Conferência
de Bispos Católicos de Filipinas (CBCP em Inglês)
advertiu aos professores das escolas católicas, dizendo
que “contradizem a doutrina católica”, depois de 192
professores de um colégio jesuíta assinarem uma
declaração de apoio ao projeto de lei RH. A Marcha
Mundial das Mulheres das Filipinas realizou uma
declaração de apoio aos professores do lugar,
invocando a liberdade acadêmica. Um obstáculo
importante aprovado foi o voto majoritário da Câmara
de Representantes, no dia 6 de agosto, para fazer
emendas ao projeto de lei. Enquanto isso, os senadores
homens seguem demonizando os gurpos de mulheres
que apoiam o projeto de lei RH, ainda que senadoras
estejam pressionando pela sua aprovação imediata.
Já em Toquio, Japão, a Marcha Mundial das Mulheres se
juntou a milhares de pessoas que exigiam “Sayonara,
Nukes” (“Adeus, energia nuclear”) no dia 16 de julho,
frente à reativação de um reator nuclear. Somando em
torno de 170.000 participantes, essa foi considerada a
maior manifestação depois da tragédia nuclear de
Fukushima, ocorrida em 11 de março de 2011. A grande
mobilização denunciou a máfia que ganha muito
dinheiro com as centrais nucleares, e afirmou que não
há sentido em insistir em uma energia que só serve a
poucos, especialmente nas zonas urbanas, ao custo da
vida de muitas outras pessoas.
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BOLETIMDE ENLACE
AMÉRICAS
Nas ruas, contra as corporações mineiras e o golpismo
A MMM e e outros
movimentos sociais
do Perú seguem
mobilizados contra o
projeto de mineração
CONGA (da empresa
Yanacocha) na região
Cajamarca, no norte
do país. Em 31 de
maio, a população da
região começou uma
paralisação por tempo
indeterminado, e desde então tem sido violentamente
reprimida com golpes, insultos, prisões e
encarceramento. A violenta tentativa de fragilizar e
criminalizar a resistência não teve resultado e os
protestos continuaram. No dia 29 de junho, com
palavras de ordem como “as mulheres se uniram, as
minas se foderam” (“Las mujeres se unieron, las minas
se jodieran”, no original), milhares de mulheres
mostraram sua oposição ao projeto, que ameaça os
recursos hídricos e os contamina, e por isso põe em
risco sua sobrevivência e a de suas famílias, assim como
seus meios de subsistência (plantas, animais, terras).
Os protestos em solidariedade à população do norte se
repitiram em todo país. No dia 1 de julho, a MMM de
Lima saiu às ruas na Jornada de Luta e Mobilização,
marcada também por paralisações regionais. Nessa
ocasião, a MMM exigiu uma investigação das
circunstâncias e responsabilidades dos
acontecimentos, expressou o apoio à luta em defesa da
água, da terra, do território e do modo tradicional de
produção e consumo de alimentos. A MMM exigiu
novamente ao governo de Ollanta Humala que respeite
os Direitos Humanos de todo o povo, e que suspenda o
estado de emergência e pare com a repressão.
A resistência ao golpismo no Paraguai foi outro tema
central para a MMM na América. No dia 22 de julho, o
presidente legitimamente eleito pelo povo em 2008,
Fernando Lugo, foi
destituído depois de
um juízo (juicio)
polítco, caracterizado
como um Golpe de
Estado Parlamentar,
com apoio massivo dos
meios de comunicação
vinculados à oligarquia
local e a corporações.
Em nosso continente já
vimos algo muito
similar acontecer há exatos três anos, em Honduras.
Somamo-nos à solidariedade internacional às mulheres
e ao povo paraguaio atacados em seu processo de
construção democrática, e chamamos as Coordenações
Nacionais da MMM a expressar sua solidariedade e
apoio à resistência pacífica do povo paraguaio com
ações que exijam principalmente o NÃO
reconhecimento de Federico Franco como Presidente a
República, porque ele usurpou o cargo, manipulando a
Constituição Nacional do Paraguai, atropelando a
institucionalidade democrática instaldada desde 2008.
Clique aqui para ler todo o chamado da MMM.
Guatemala organiza o III Encontro Regional Américas
Entre os dias 31 de agosto e 2 de setembro, delegadas de 15 Coordenações Nacionais da MMM no continente se
encontrarão na Cidade Guatemala para debater o contexto da região, nossos objetivos como movimentos, nossa
organização, e para definir ações frente a isso. Discutiremos como dar seguimento às decisões do 8º Encontro
Internacional nas Filipinas, e em particular a organização das 24 horas de ação feminista ao redor do mundo.
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BOLETIMDE ENLACE
EUROPA
Avançam os preparativos para a campanha contra a austeridade
A reunião da
Coordenação
Européia ocorreu
em Romans,
França, entre os
dias primeiro e 3
de junho, com a
participação das
Coordenações
Nacionais (CNs) de
nove países. Além da discussão sobre a organização do
segundo acampamento de jovens feministas, a reunião
avançou nos preparativos da Campanha Européia
contra a dívida e a austeridade. Outros temas da
reunião foram o seguimento da República Democrática
do Congo e as 24 horas de ação feminista.
Foi lembrado que a campanha será lançada no dia 4 de
outubro, e terá uma ação comum no dia 17 de outubro,
terminando no dia 8 de março. Outra data chave
durante a campanha será o 10 de dezembro, cuando
nós da MMM organizaremos 24 horas de ação
feminista ao redor do mundo. Nesse dia, as européias
terão como tema principal a saúde. Também foi
definido o slogan da campanha como um todo: “A
dívida dos governos é com as mulheres, não com os
bancos. Marchamos por uma vida digna e sustentável”.
Entre as diversas ações já realizadas nos marcos da
campanha, há um vídeo com o testemunho de
mulheres eu m protesto feminista anti-austeridade
impulsionada pela CN de Portugal. A campanha é
construída em aliança com outros movimentos sociais
e organizações como a CADTM. Um primeiro passo foi
a construção do documento sobre a situação das
mulheres de diferentes países da Europa, como
resultado das respostas políticas dadas á crise, onde
reivindicamos nosss direitos e nossas alternativa.
Clique aqui para ler o texto provisório. Mais detalhes
da campanhã serão divulgados em breve.
Clique aqui para ver mais imagens da reunião.
Galegas marcham pelo direito ao aborto livre e gratuito
Frente ao anúncio do governo do Partito Popular de
reformar a atual Lei orgânica 1/2010 de saúde sexual e
reprodutiva e de interrupção voluntária da gravidez, a
Marcha Mundial da sMulheres, junto a outras
organizações,
movimentos e coletivos
de mulheres na Galícia,
iniciaram a campanha
“Decidir nos faz livres”
(“Decidir fainos libres”,
no original).
Desde o dia 7 de agosto,
cada terça-feira à oite,
as mulheres se
concentram frente ao
Marco (Vigo), para
tornar visível seu total
desacordo com as
restrições à atual Lei de
Borto. “Nós mulheres não descansaremos até que as
poucas conquistas que obtivemos nos últimos anos não
sejam mais passíveis de alteração, e até que sejam
internalizados pelos governos presentes e futuros
como algo normalizado e fundamental de uma
sociedade democrática e igualitária”, afirmam.
Em seu manifesto, as mulheres exigem ser tratadas
como pessoas, e não como úteros, e, por isso, defendem
o direito a decidir sobre seus corpos e maternidade,
não só na Galícia, mas em odo o mundo. “Se não
podemos decidir, não somos livres”.
Clique em:
http://www.feminismo.info/webgalego/campanas/34
2-decidir-fainos-libres.html para ler mais (em Galego).
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BOLETIMDE ENLACE
ORIENTE MÉDIO-MUNDO ÁRABE
Tunisianas alertas em defesa de seus direitos: articulações da MMM no
mundo árabe continuam.
No dia 13 de agosto, milhares de mulheres tomaram as
ruas de várias cidades da Tunísia, inclusive em
pequenos povos, para defender seus direitos. As
organizações feministas tunisianas celebrarão o 56º
aniversário da promulgação do Código de Estatuto
Pessoal (Code de Statut Personnel) e exigiram a
retirada de um projeto de artigo da Constituição que
evoga a complementaridade, e não a igualdade, entre
os sexos. O artigo aprovado pela Comissão de Direitos e
Liberdades da Assembléia Constituinte abre a porta
para o questionamento do direitos das mulheres a
trabalhar, uma vez que a idéia de complementaridade
poderia ser interpretada como o trabalho das mulheres
no interior do lar, e o dos homens fora. O artigo
proposto também pode abrir espaço para o tema da
moogamia. As mulheres enfrentam a proibição de
organizar manifestações na avenida Bourguiba, na
Capital Tunisiana, e em todo o país, devido a sua
resposta, nas ruas, contra as graves ameaças aos
direitos das mulheres tunisianas e às liberdades em
geral. As restrições que estão se instalando
gradualmente sobre as liberdades, em função do
respeito à moral, aos valores sagrados e a ordem
pública. As mulheres também expressaram sua
solidariedade para com os protestos que aconteceram
em Sidi Bouzid, o berço da revolução na Tunísia, e em
outros lugares e que pedem soluções para o
desemprego, os cortes de energia elétrica e a pobreza.
“Todos e todas cantavam uma só palabra de ordem:
igualdade entre os sexos. Estamos orgulhosas e isso é o
que nos dá ainda mais força para continuar a luta”, diz
Fathia Hizem, da MMF na Tunísia.
A MMM no mundo árabe
Na ocasião da Assembléia Preparatória para o Fórum
Social Mundial (FSM) e da reunião do Conselho
Internacional do FSM, realizadas, entre os dias 12 e 17
de julho, em Monastir, Tunisia, tivemos a oportunidade
de encontrar e conversar com companheiras da
Mauritânia, Argélia, Sahara Ocidental, Iraque, Iêmen e
Marrocos sobre sua participação na MMM. Segundo
Douad Mahmoud, membra do nosso Comitê
Internacional, a idéia é de criar e consolidar até seis
Coordenações Nacionais (CNs) na região até o final de
setembro (lembrem-nos de que Mauritânia já é muito
ativa), e, logo, organizar uma reunião regional. Através
da mediação de companheiras da Palestina, a idéia é
reestabelecer contatos com associações feministas na
Jordânia. O Fórum Social Mundial Palestina Livre (ver
artigo específico) é outro momento chave de
mobilização para a MMM junto às mulheres árabes.
ALIANÇAS E MOBILIZAÇÕES
FSM Palestina Livre: estratégias de solidariedade como prioridade
Desde o início do ano, movimentos sociais, associações
e frentes de solidariedade com a Palestina no Brasil e
no mundo trabalham na mobilização e preparação do
Fórum Social Mundial Palestina Livre, que acontecerá
entre os dias 28 de novembro e 1º de dezembro de 2012,
em Porto Alegre, Rio Grande do Sul (Brasil). Os
objetivos do Fórum são:
1. Mostrar a força da solidariedade com os chamados
do povo palestino e a diversidade de iniciativas e ações
cujo objetivo é promover a justiça e a paz na região.
2. Criar ações efetivas para garantir a
autodeterminação palestina, a criação de um Estado
Palestino com Jerusalém como sua capital, e o
cumprimento dos direitos humanos e do direito
internacional para:
a) Acabar com a ocupação isaraelense e a colonização
de todas as terras árabes, e também para desmantelar o
Muro;
b) Garantir os direitos fundamentais das e dos cidadãos
árabe-palestinos de Israel à igualdade plena;
c) Implementar, proteger e promover os direitos das e
dos refugiados palestinos para regressar a seus lares e
propriedades, como estipula a Resolução 194 da ONU.
3. Ser um espaço de discussão, intercãmbio de idéias,
estratégias, e planificação com o fim de melhorar a
estrutura da solidariedade.
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BOLETIMDE ENLACE
O Fórum se organizará ao redor de cinco eixos:
- Autodeterminação e direito ao retorno;
- Direitos humanos e legislação internacional;
- BDS (boicote, desivestimentos e sanções) e estratégias
de luta;
- Por um mundo sem muros e sem racismo;
- Outras formas de resistência e movimentos sociais.
Além de conferências centrais sobre os cinco eixos,
anteriores, a programação do encontro prevê
atividades autogestionadas e uma grande mobilização
no dia 29 de novembro, para marcar o Dia
Internacional de Solidariedade à Palestina.
Nós, da MMM, participamos ativamente do Comitê
Organizador brasileiro e de sua secretaria, e
começamos desde agora os preparativos de uma
atividade atogestionada de mulheres no evento. Frente
às várias dificuldades de acesso a recursos, trabalhamos
pela construção do Fórum com forte caráter militante.
As incrições ao evento estarão disponíveis a partir de
setembro (organizações e atividades) e outubro
(individuais).
Clique aqui para ler a convocatória na íntegra.
Para mais informações sobre o FSMPL, visitar a página
na internet: http://www.wsfpalestine.net/
Mobilização, característica da nossa presença na Cúpula dos Povos na
Rio+20
Com uma delegação com mais de 700 mulheres de 15 estados, além de mulheres da Argentina, Chile, Cuba, Filipinas, França,
Honduras, Moçambique e Peru, a MMM marcou presença nas ruas e nos debates da “Cupúla dos Povos por Justiça Social e
Ambiental: contra a mercantilização da vida e da natureza e em defesa dos bens comuns”, entre 15 e 23 de Junho.
A nossa presença no Rio de Janeiro foi marcada pela mobilização, pelas ações nas ruas, consideradas pelo movimento social
como a melhor forma de romper o cerco midiático e dialogar sobre nossas propostas com a população em geral, com pessoas não
organizadas e com trabalhadoras e trabalhadores formais e informais da cidade.
E foi assim que, no dia 18 de junho, com o slogan
Mulheres contra a mercantilização de nossos corpos,
das nossas vidas e da natureza!, iniciamos a jornada de
mobilizações em uma manifestação organizada por
nós, da MMM e mulheres de movimentos mistos e
outras organizações feministas. A marcha reuniu mais
de 10 mil pessoas e foi o primeiro grande momento em
que transmitimos nossa mensagem para toda a
sociedade: é necessário construir a igualdade e
erradicar a violencia contra as mulheres para superar o
modelo capitalista, patriarcal, homofóbico e rascita,
traduzido hoje na economia verde.
“Temos que superar esse modelo, mas para isso temos
que superar a divisão sexual do trabalho, que não
reconhece nosso trabalho como trabalho, que diz que
temos que fazê-lo por amor ou pela culpa que
carregamos. Estamos exigindo o reconhecimento do
trabalho das mulheres, que a divisão sexual do trabalho
deixe de existir também no trabalho produtivo”,
enfatizou Nalu Faria, da MMM, no ato final da
manifestação, no Largo da Carioca.
“A questão não é somente sobre sustentabilidade
ambiental, mas de construir outro modelo de produção
e consumo que garanta condições de igualdade. Para
conseguir isso temos que estar livres de todas as
formas de opressão, pensar não só na harmonia com a
natureza mas também na harmonia entre humanos e
humanas. Isso significa erradicar a violência, que os
homens deixem de estar a serviço do capitalismo,
deixem de nos violentar e assediar. Significa termos o
livre exercício da nossa sexualidade, o direito ao
aborto. Por isso vamos seguir em luta enquanto não
tenhamos construído todas as transformações
necessárias, fortalecendo nossa luta contra o
capitalismo verde e exigindo que nossas demandas
sejam reconhecidas inclusive por nossos companheiros
de luta!”
BNDES – Ao final da caminhada do dia 18, a MMM
realizou uma ação de protesto em frente a uma sede do
Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e
Social (BNDES), pertencente ao Estado Brasileiro e
conhecido por “financiar a exploração sexual das
mulheres”, já que é a principal financiadora dos
numerosos megaprojetos no país, que causam diversos
impactos ambientais e sociais.
Ao final da ação, quando as mulheres se retiravam do
local, representantes de povos indígenas de diversas
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BOLETIMDE ENLACE
regiões do Brasil apareceram e ocuparam o prédio do
banco. As militantes feministas se uniram ao protesto.
Vários indígenas tentaram entrar por uma das portas
para apresentar suas reclamações e reinvidicações às
autoridades. Depois da corajosa ação direta e de uma
negociação com os seguranças e um porta-voz do
BNDES, um grupo de 12 indígenas entrou para ser
atendido por uma comissão representante do banco.
Veja o vídeo do protesto em frente ao BNDES em:
http://www.radiomundoreal.fm/5636-ellas-alfrente?
lang=es E http://youtu.be/
As mobilizações continuaram diariamente. No início da
noite do dia 19 de Junho, a Batucada Feminista abriu o
ato contra as corporações multinacionais que reuniu
mais de 2.000 pessoas em frente a sede da companhia
mineradora Vale, considerada a pior empresa do
mundo
O ato denunciou também as grandes empresas como
Petrobras, Natura, Bunge, Syngenta, Sousa Cruz,
Monsanto, Shell, Unilever e Pfizer, companhias que se
apropriam e lucram com os recursos naturais de que
deveriam ser de todos. A ação culminou no lançamento
do relatório de insustentabilidade da Vale, realizado
pela Articulação Internacional dos Afetados pela Vale,
que relata os danos e impactos gerados pela empresa
aos recursos de água e energia, à saúde e segurança. Em
Moçambique, por exemplo, mais de 760 famílias foram
deslocadas em 2010, para a expansão dos megaprojetos
de minério da Vale.
Já na tarde do dia 20 de Junho, mais de 80 mil pessoas
se somaram à manifestação que denunciou a farsa da
conferência oficial da Rio+20, dirigida por corporações
transnacionais que controlam os governos nacionais e
que são incapazes de promover a justiça social e
ambiental. Graça Samo, da MMM de Moçambique, nos
convocou para dizermos basta ao capitalismo e ao
neoliberalismo e às corporações como a Vale que
somente aumentam a violência contra as mulheres, a
exploração de nossos povos, a miséria, que roubam
nossos meios de sobrevivência, a comida, as casas e a
esperança: “O que discutem nossos governos na
Rio+20? Qual é a esperança de nossas filhas e filhos se
nossas casas, se nossa economia, se nossas terras,
nossas formas de vida estão sendo destruídas?” Graça
reivindicou que os governos na Rio+20 nos escutem e
que utilizem o poder que dispõem para devolver nossas
liberdades y confirmou que “seguiremos em marcha
até que todas sejamos livres!”
A Via Campesina fez um chamado para que todos os
povos somem esforços, que lutem e denunciem em seus
países e em suas comunidades quem são os grandes
destruidores do meio ambiente e da Terra, os
usurpadores dos recursos naturais dos povos: o
capitalismo, os bancos e as grandes transnacionais
como Monsanto e Cargill.
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BOLETIMDE ENLACE
Na manhã do dia 20, nos somamos à
manifestação contra o desalojamento da
comunidade de Vila Autódromo, símbolo da luta
das comunidades que resistem às ameças de
remoção. Clique aquí para ver o vídeo da
manifestação em http://albatv.org/Gran-jornadade-
movilizaciones-en.html
Plenárias, assembléias, comunicação
Além das mobilizações, as militantes da MMM
participaram como facilitadoras e redatoras nas
plenárias realizadas ao longo dos dias 17 e 18, divididas
em cinco temas:
Plenaria 1 – Direitos, Justiça Social e Ambiental
Plenaria 2 – Em defesa dos bens comuns e contra a
mercantilização
Plenaria 3 – Soberania Alimentar
Plenaria 4 – Energia e indústrias extrativas
Plenaria 5 – Trabalho: Por outra economia e novos
paradigmas de sociedade
Os resultados dessas plenárias sustentaram asembléias
organizadas ao redor de três eixos:
As causas estruturais e as falsas soluções para a crise
(dia 19), nossas soluções (dia 21) e nossas agendas de
luta e campanhas (dia 22). Clique para ler o documento
final das assembléias, que também incorpora o
resultado das plenárias em: castellano, inglés,
portugués.
Plenária 5: Trabalho: Por outra economia
e novos paradigmas de sociedade
Graça Samo, integrante do Comitê Internacional da MMM, fala na
assembleía final (nossas agendas de luta e campanhas).
Acima, jovens da MMM Brasil transmitem ao vivo o
programa “Boteco das Minas”.
Além disso, participamos da iniciativa de cobertura da cúpula
denominada “Convergência de meios de comunicação dos
movimentos sociais”, produzindo artigos, fotos e vídeos ao
longo dos eventos, além de programas de rádio diários (em
castelhano e inglês). Clique para baixar os boletins da
convergência, com artigos produzidos em diferentes idiomas
(mas principalmente em castelhano) em:
http://www.marchemondiale.org/themes/biencommun/Rio20
Veja também a Galeria de Fotos da Convergência:
http://www.flickr.com/photos/convergenciacomunicacion
Nota: Todas as fotos que publicamos sobre a cúpula fazem parte do
arquivo produzido durante a Convergência de meios de comunicação
dos movimentos sociais.
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BOLETIMDE ENLACE
Oficina “Feminismo, agroecología e soberanía alimentar: construindo
um novo paradigma para a vida sustentável”
Entender que o trabalho
realizado pelas mulheres é
algo central na sociedade e
não só uma “ajuda”, “apoio”
ou algo “complementar” é
fundamental para a
construção de uma alternativa
ao modelo de
desenvolvimento capitalista,
racista e patriarcal, que se
mostra hoje na chamada
economia verde. Este foi um
dos aspectos destacados durante a atividade
autogestionada, organizada no dia 16 de Junho pela
Marcha Mundial das Mulheres (MMM), a Via
Campesina (VC), o Grupo de Trabalho das Mulheres da
Articulação Nacional de Agroecologia (ANA), as
mulheres da Coordenadora Andina de Organizações
Indígenas (CAOI), a CONTAG, a Rede de Economia
Feminista (REF), o Movimento de Trabalhadoras Rurais
do Noroeste (MMTR-NE) e o Fórum Brasileiro de
Soberania e Segurança Alimentar (FBSSAN).
A partir da análise e dos depoimentos das mulheres
presentes, se concluiu que o que está sendo chamado
de economía verde é parte de uma história de
mudanças que começaram a acontecer na agricultura
durante a década de 1950 e que a converteram em algo
cada vez mais artificial. Este conjunto de mudanças,
começou com a denomidada “revolução verde”, que se
caracterizou pela expansão do monocultivo, pesticidas
e, mais recentemente, pela chamada biotecnología,
com a produção de sementes artificiais, transgênicos,
produzidos em laboratório
e que rompem os limites
entre as espécies. E este
processo foi acelerado nos
últimos 20 anos, depois da
Eco-92, dando espaço a um
alarmante aumento de
poder das grandes
corporações e das formas
de dominação da natureza.
O impacto do capitalismo
verde é real, mas ao mesmo
tempo há resistência e construção de alternativas a
esse modelo. As mulheres não são passivas, são sujeitos
políticos da história, se mobilizam em grupos e
movimentos de mulheres, constróem redes, participam
das lutas em áreas sujeitas a estes processos e
negociam com os governos. As companheiras
militantes da CAOI, da MMM e da MMC
compartilharam suas experiências de como enfrentam
esse avanço do capital sobre suas vidas e territórios.
Em todas as conversas, se reafirmou a importância da
agroecologia e as possibilidades de sustentar o mundo
com outro tipo de produção e consumo de alimentos,
diferentemente do modelo dominante, que resulta em
impactos sociais e ambientais.
Clique em
http://cupuladospovos.org.br/es/2012/06/feminismoelemento-
central-en-la-construccion-de-lasalternativas-
a-la-economia-verde/ para ler o atigo
completo sobre a atividade.
A luta segue!
Saímos da cúpula com a certeza de termos dado maior
visibilidade à nossa luta e à presença das mulheres,
exercitando novamente nossa capacidade de autoorganização
e reforçando nosso rede de alianças. A luta
contra o capitalismo verde continua, traduzida na luta
contra a mercantilização dos nossos territórios –
nossos corpos, terras, natureza, assim como o
desenvolvimento de nossas alternativas (a soberanía
alimentar, a agroecología, a economía solidária).
Durante a cúpula, avançamos também na luta contra as
corporações e nos somamos à campanha “Liberemos a
ONU da captura empresarial!” e à campanha
“Desmantelemos o Poder Corporativo e Coloquemos
Fim à Impunidade” (clique para ler o chamado)
O Boletim é editado pela Secretaria Internacional da Marcha Mundial das Mulheres, distribuído e-mail. Contatos: Rua Ministro Costa
e Silva, 36 • Pinheiros, São Paulo, SP • Brasil • 05417-080 Tel: +55 11 3032-3243 • Fax: +55 11 3032-3239 • E-mail:
info@marchemondiale.org • Site: http://www.marchamundialdelasmujeres.org
Colaborações nesta edição: Alessandra Ceregatti, Jean Enríquez, Miriam Nobre Tradução e Revisão: Luiza Mançano e Maria Julia
Monteiro
Fotos: Arquivos da MMM, Bruna Provazi, Jessika Martins, blog Dissensus Japan (http://dissensus-japan.blogspot.com.br)
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