Manifesto contra posturas racistas, homofóbicas e o desrespeito com as jovens na V Conferência da Mulher de Maringá
Viemos
a público manifestar nossa indignação contra algumas posturas racistas,
homofóbicas e contra o desrespeito com as jovens militantes feministas
presentes na V Conferência da Mulher de Maringá, que aconteceu nos dias
08 e 09 de junho de 2013.
A
Conferência foi avaliada por algumas lideranças de movimentos de
mulheres como uma das piores que aconteceram nesta cidade. Quem esteve
presente e faz parte de movimentos sociais pode presenciar a vergonhosa
invasão de pessoas com cargos comissionados (ccs) visivelmente
orientadas para votar à favor das propostas da atual administração.
Na
abertura do evento tivemos a coerente palestra da Dra Isadora Machado
que iniciou sua fala enfatizando a necessidade de dizermos: “as
mulheres”, no plural, pois, isso significa um respeito à pluralidade via
linguagem inclusiva, já que somos muitas, somos negras, brancas,
mestiças, trabalhadoras, empresárias, mães, idosas, jovens, lesbianas,
bissexuais, etc. Palavras possuem uma força política, servem tanto para
incluir como excluir parcela da população. A linguagem inclusiva não é
novidade para as autoridades da Secretaria da Mulher, pois, já
insistimos em informá-las sobre a existência de uma Cartilha com a
proposta de uso de uma linguagem não sexista elaborada pela Unesco,
divulgada mundialmente desde os anos 1990 . Mesmo assim as autoridades
insistiram em nos chamar de “senhores”.
Será
que a insistência das autoridades em nos chamarem de “senhores” em uma
Conferencia das Mulheres não representa a reprodução dos interesses e
ideologias dos homens de seus partidos, que na maioria das vezes apontam
os problemas das mulheres como secundários? Como pode uma mulher
representar todas as outras mulheres se ela mesma não enxerga suas
problemáticas como prioridade? Como pode uma mulher representar todas as
outras mulheres se ela mesma não considera importante acabar com o
sexismo linguístico?
A Conferência teve como tema: "Prevenção e Enfrentamento a Toda Forma de Violência Contra a Mulher", de início, a plenária teve o desprazer de ouvir de uma autoridade municipal uma demonstração grotesca de racismo.
Na fala do senhor vereador Ulisses Maia, que é também presidente da
câmara de Maringá ouvimos que quando tratamos de violência da mulher,
estamos tratando do LADO NEGRO do assunto. A reação foi de repúdio, e
algumas militantes do movimento de mulheres negras se retiraram em forma
de protesto. É através da linguagem que utilizamos no dia-a-dia que
transparecemos muitos de nossos preconceitos.
No
segundo dia, as senhoras que presidiram a mesa nos violentaram pela
segunda vez quando insinuaram dentro de uma instituição laica que todas
fizessem uma oração, obviamente uma manifestação de fé monoteísta e
cristã. Questionamos então: qual mulher está sendo representada
pela Secretaria da Mulher e todas as entidades governamentais? A mulher
branca, heterossexual, cristã, classe média/alta e unicamente preocupada
com o chá da tarde?
Para
piorar a situação a secretária da mulher tentou infantilizar e tirar
todo o crédito do discurso das companheiras jovens do Coletivo Maria
Lacerda - mesmo sabendo que dentre o grupo também tínhamos presente uma
delegada – ela e, sua turma de ccs convocados para boicotar a
Conferência, desconhecendo grande parte das informações fornecidas pelas
jovens militantes foram explicitamente preconceituosas com relação ao
grupo.
Um exemplo disso foi à questão
levantada por algumas companheiras do Coletivo Maria Lacerda sobre a
Violência Obstétrica, que é tão presente no cotidiano das mulheres
grávidas e considerado tema atual nos debates feministas e de grupos de
mulheres. A mesa, composta por mulheres da Secretaria da Mulher
perguntou: "O que é violência obstétrica?". Ou seja, a própria
secretária da mulher, vale ressaltar que é um cargo de confiança, deixou
com essa pergunta explicito que não está por dentro das diversas
violências que as mulheres sofrem. Uma companheira da área da saúde se
levantou e fez uma bela fala relatando diversos casos de violência
obstétrica, e só assim o assunto foi visto com relevância e incluído na
pauta.
Mais uma vez, pudemos assistir que o
fato de ser uma jovem falando, cai no discreto. Como se a juventude não
soubesse o que estava falando. Nossas jovens companheiras se sentiram
violentadas todas as vezes que a senhora que presidiu a mesa da
conferência tentava infantilizar as estudantes e ativistas jovens!
Ainda
no mesmo evento no grupo de trabalho sobre Preconceito e Diversidade,
presenciamos falas carregadas de racismo, homofobia e preconceito. Uma
mesma senhora disparou duas pérolas: primeiro falou que as cotas são o
maior exemplo de discriminação, ressaltando - "Ah, eu sou negrinho, eu
preciso de uma cota na universidade" - além de mencionar a existência de
leis contra o racismo, contra a homofobia que no fim, as pessoas
“normais” é que são as maiores discriminadas. "Não
tenho nada contra negros e gays, até tenho amigos que são", "Ai, então
quer dizer que eu, uma mulher normal (branca, classe média,
heterossexual, cristã) tenho que aceitar que pessoas que não são normais
expressem suas opiniões?" A senhora que proferiu essas falas podia ter sido presa em flagrante sob a acusação de racismo!
Mesmo Ulisses Maia e Flor Duarte tendo pedido desculpas publicamente, insistimos que as pessoas que ocupam cargos públicos (bem) remunerados
deveriam se atualizar sobre os assuntos dos quais tratam e,
principalmente respeitar os direitos humanos e a Constituição de 1988.
Além
disso, queremos ressaltar que as representantes do Instituto de Mulheres
Negras, do Coletivo Maria Lacerda, do Coletivo Maria do Ingá, as
representantes do Fórum Maringaense de Mulheres e de muitas outras que
ficaram até o final da Conferência, merecem nosso respeito e admiração,
deram uma aula de cidadania e merecem nossos parabéns pelas falas na
assembléia denunciando as posturas racistas, homofóbicas e
preconceituosas. É preciso falar, vimos a força coletiva de quem está lá
por que luta para um mundo melhor e a turma de cargos comissionados,
pelegos do governo que estão lá loucos para irem para o conforto de suas
casas e esquecerem que existem mulheres sendo violentadas a cada minuto
nas nossas ruas. As pessoas que conduziram a Conferência não tinham
estudo sobre temas atuais feministas, por isso insistimos em dizer que a
ignorância alimenta os preconceitos. Racismo é crime, não podemos nos
calar! À luta!
Aquelas senhoras autoridades governamentais ali presentes não nos representam!
Oportunamente
convidamos à população maringaense, os grupos que militam pelo fim da
violência sexista e essas autoridades à juntarem-se à II Marcha das
Vadias de Maringá e lutarem contra todo tipo de violência,
principalmente o sexismo, racismo e homofobia.
À LUTA, COMPANHEIRAS!