09/06/2013
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02h00
O genocídio social assumido
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A equipe técnica do Fundo Monetário Internacional acaba de assumir que
praticou genocídio social na Grécia, em parceria com a Comissão Europeia
e o Banco Central Europeu.
É claro que o documento dos técnicos não usa a expressão genocídio.
Apenas afirma que o programa imposto à Grécia cometeu erros. Um deles:
foram subestimados os cálculos sobre a retração econômica que provocaria
o pacote de ajuda à Grécia (ajuda é o termo que eles usam; eu prefiro
estrangulamento).
O segundo erro: o calote afinal adotado em outubro de 2011 deveria ter vindo dois anos antes.
Choca, em particular, essa segunda descoberta. Qualquer pessoa que
tivesse concluído o curso primário e enxergasse um dedo à frente do
nariz sabia desde o início da crise que a Grécia jamais poderia arcar
com a sua dívida mesmo em circunstâncias normais.
Nas circunstâncias anormais que o país vivia, então, pagar era simplesmente impossível.
O adiamento do calote só serviu para que os credores fugissem ou, ao
cobrar juros criminosos, recuperassem antecipadamente as perdas que
viriam a ter com o "default".
Que o pacote grego levou a um genocídio social, basta ler o resumo feito
ontem para "The Telegraph" por Nigel Farrage, líder do nacionalista
UKIP (o Partido pela Independência do Reino Unido):
"A Grécia foi sacrificada no altar de uma fracassada experiência do
euro, sua comunidade de negócios dizimada, suas famílias levadas à
penúria, sua taxa de suicídio furou o teto (subiu mais de 40% no período
da crise). O desemprego quadruplicou, o desemprego juvenil está agora
em 64%. Sonhos foram destruídos, o futuro hipotecado --e as esperanças
deixadas apodrecer em campos de oliveiras não cuidados".
Se essa não é a descrição de um genocídio social, já não sei definir o que é genocídio social.
Quando a direita, em geral menos sensível às questões sociais, põe o
dedo na ferida desse jeito, dá até medo de ouvir o que diz a esquerda.
Só faltou aos técnicos do FMI estender o reconhecimento do erro aos
demais países aos quais foram impostas políticas de rígida austeridade.
Tanto houve erro nelas que, agora, a Comissão Europeia está dando mais
prazo a todos os países vítimas para reduzir a relação deficit/PIB ao
número totêmico de 3% estabelecido no Tratado de Maastricht, que
estabeleceu as bases para o lançamento do euro.
Na Itália, por exemplo, são os jovens empresários a reclamar um
horizonte. "Sem perspectivas para o futuro, a única perspectiva se torna
a revolta. As instituições democráticas passam a ser contestadas e
podem chegar à dissolução, quando não conseguem dar respostas concretas
às necessidades econômicas e sociais", diz Jacopo Morelli, presidente da
secção de Jovens Empreendedores da Confederação das Indústrias.
Quando empresários, mais preocupados com o lucro, pela própria natureza,
demonstram temor de demolição institucional, fica evidente que os
programas supostamente de ajuda roubaram o horizonte de uma fatia
considerável de sociedades antes modelo de bem-estar.