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Dilma faz aceno a manifestações, mas manobra embute riscos
A
presidente Dilma Rousseff deu um passo arriscado nesta terça-feira ao
aprovar as manifestações que se espalharam pelo Brasil e tentar criar
uma empatia com o movimento que não tem lideranças e rejeita os
políticos.
As manifestações, que levaram mais de 200 mil pessoas às ruas de
diversas cidades do Brasil na segunda-feira, tiveram sua origem no
descontentamento com a elevação da tarifa do transporte públicos, de
responsabilidade dos governos regionais. Mas ao longo da última semana
ganharam força e passaram a repercutir um grande número de
insatisfações.
"O Brasil hoje acordou mais forte. A grandeza das manifestações de
ontem comprovam a energia da nossa democracia", disse a presidente um
dia após a realização do maior protesto popular em duas décadas.
Entre as insatisfações manifestadas estão o descontentamento com o
uso de recursos públicos nos preparativos para a Copa do Mundo de 2014, o
desagrado com a corrupção e até mesmo a rejeição a uma proposta que
tramita no Congresso e reduz o poder de investigação do Ministério
Público.
Em um panorama de inflação alta, baixo crescimento econômico e
pesquisas recentes que têm apontado a redução da popularidade da
presidente, essa tentativa de aproximação com as vozes das ruas
representa um risco.
"Para o político sacudir a poeira e dar a volta por cima e passar à
frente do movimento é muito difícil, porque não tem imagem correta do
movimento e não sabe quais são os movimentos (deles)", disse o cientista
político da Universidade de Brasília (UnB) David Fleischer.
"É um pouco arriscado o discurso (da presidente), principalmente
porque não tem lideranças no movimento... É complicado ter discurso com
quem você não conhece", acrescentou.
A força das manifestações, as maiores no país desde os protestos
realizados em 1992, quando a população foi às ruas para pedir o
impeachment do então presidente Fernando Collor de Mello, gerou
preocupação no Palácio do Planalto.
A principal interrogação dentro do governo versa sobre as ações a
serem tomadas daqui para frente, já que não há um rosto bem definido
liderando esses protestos que, inclusive, têm sido recheados de rejeição
à política tradicional, com palavras de ordem como "sem partido" e
pedidos para que manifestantes abaixem bandeiras de agremiações
políticas.
"Há um dito no Império Romano que dizia o seguinte: 'Se você não pode
vencer os bárbaros, una-se a eles'", disse o professor e cientista
político da Unicamp Roberto Romano.
"Se ela deixar esse movimento seguir o seu caminho sem que ela pelo
menos acene a sua aprovação, esse movimento pode se voltar contra ela",
acrescentou.
(Reportagem adicional de Maria Carolina Marcello)