sábado, 29 de junho de 2013

Não sou admirador de Robespierre, porque discordo de sua inspiração, Rousseau. Mas não posso deixar de reconhecer que tanto ele quanto seu mestre percebem coisas perenes numa república, a começar com a tirania dos mandatários que se transformam, motu proprio, em soberanos. É exatamente o que ocorre no Brasil, sobretudo nos últimos tempos, o que suscitou as manifestações populares. Seria bom se os líderes dos movimentos e os poucos democratas que ainda restam aqui, lessem um pouco mais Maquiavel, Robespierre, etc... mas a última coisa que eles fazem é ler algo mais sério do que as ordens emanadas das direções partidárias, dos palácios....


A fonte de todos os nossos males é a independência absoluta em que os representantes colocaram a si mesmos diante da nação sem a ter consultado. Eles reconheceram a soberania da nação e a nulificaram. Eles, por sua própria confissão, eram apenas mandatários do povo e fizeram de si mesmos soberanos, isto é, déspotas; pois o despotismo nada mais é do que a usurpação do poder soberano. Sejam quais forem os nomes dos funcionários públicos e as formas exteriores de governo, em todo Estado em que o soberano não conserva nenhum meio para reprimir o abuso que seus delegados fazem da sua potência e para deter seus atentados contra a Constituição do Estado, a nação é escrava, pois é abandonada absolutamente à mercê dos que exercem a autoridade, e como é da natureza das coisas que os homens prefiram seu interesse pessoal ao interesse público, quando podem fazê-lo impunemente, segue-se que o povo é oprimido sempre que seus mandatários são absolutamente independentes dele. (….) Colocai ao lado de um monarca rico e poderoso uma assembléia representativa que não deve prestar contas a ninguém por sua conduta, resultará sempre desta combinação apenas despotismo e corrupção”.  Robespierre, “Dos males e dos recursos do Estado” in Oeuvres de Maxilien Robespierre, (Paris, Chez l ‘Éditeur, Faubourg Saint-Denis, 13), 1840, T. I, p. 58.