segunda-feira, 9 de março de 2009

No Bog do Noblat

Enviado por Ricardo Noblat -
9.3.2009

Protógenes, a lenda!

A procederem as informações publicadas na mais nova edição da revista VEJA, que país é este onde um delegado da Polícia Federal pode espionar ilegalmente durante mais de um ano a vida pública e até amorosa de ministros, senadores, jornalistas, um governador de Estado e um ex-presidente da República?

Quem controlava o controlador? Ninguém?

Pois é isso o que resta de mais espantoso ao cabo da leitura da reportagem de capa da revista.

De pronto, ressalte-se que a VEJA se limitou a transcrever trechos do inquérito ainda não concluído pela Polícia Federal a respeito das atividades do delegado Protógenes Queiroz à frente da Operação Satiagraha – aquela que resultou duas vezes na prisão do banqueiro Daniel Dantas, dono do Grupo Opportunity. Ao apreender um dos computadores de Protógenes guardado na casa dele, os encarregados do inquérito descobriram que existiu uma Operação Satiagraha do B.Ela correu paralelamente à operação original. Alimentou-se, em parte, de informações da outra. Mas foi além, ultrapassando de longe qualquer autorização por acaso concedida pela Justiça para bisbilhotar a vida de quem quer que fosse. Em suma, foi uma operação clandestina.

Um exemplo: o ex-ministro da Casa Civil José Dirceu de Oliveira foi citado no relatório da Satiagraha oficial porque se reuniu em um hangar do aeroporto de Brasília com o ex-deputado Luiz Eduardo Greenhalg, advogado de Dantas. O relatório não esclarece o motivo da reunião. Nos documentos da Satiagraha do B, fica claro que o ex-ministro também foi investigado por conta de negócios que faz ou que facilita. Quem mandou investigá-lo? Quem mandou Protógenes destacar arapongas para seguir os passos da ministra Dilma Rousseff? Sobre a ministra foi encontrado um relatório que dá conta em termos grosseiros de aspectos de sua vida amorosa. Quem mandou Protógenes se deter sobre as relações funcionais passadas de Mangabeira Unger com Dantas? Elas datam de uma época onde Mangabeira ainda não era ministro e tinha a pior opinião possível sobre o governo Lula.

Há documentos da Satiagraha do B que a Polícia Federal ainda não conseguiu abrir, protegidos por senhas de acesso com os codinomes “Tucano”, “Serra” e “FHC”. E há o depoimento do araponga Lúcio Fábio Godoy que revela como Protógenes o recrutou para fazer parte de sua equipe. Godoy diz ter ouvido de Protógenes que a investigação interessava a Lula porque o filho dele, Fábio Luiz, fora cooptado por Dantas. Tudo indica que Protógenes pintou e bordou – ora sob o manto da Justiça, ora fora dele. Quem o tirou do comando da Satiagraha foi o governo. Quem o designou para uma função subalterna dentro da Polícia Federal foi o governo. Quem deu ordem para investigá-lo foi o governo. E, no entanto, a legião de defensores do delegado, excitada pelas palestras que ele faz país a fora, costuma atribuir sua infelicidade à mídia e à oposição. Curioso, não é?

A Câmara dos Deputados escapou por pouco do vexame de encerrar a CPI dos Grampos sem chegar a resultado algum. Está pronto o relatório do deputado Nelson Pelegrino (PT-BA) que não indicia ninguém. O destino dele deve ser a lata de lixo. A VEJA publicou um extrato do material remetido pela Polícia Federal à CPI no meio da semana passada. Salvo se preferir a desmoralização, a Câmara está obrigada a prorrogar os trabalhos da CPI. Ela terá muito que fazer daqui para frente.

Primeiro: examinar o material. Segundo: convocar para depor os colegas de Protógenes que o investigaram, e os arapongas ouvidos por eles. Terceiro: confrontar Protógenes com o que foi apurado até aqui. Quarto: promover acareações se elas forem necessárias. E quinto: jogar uma forte luz sob as circunstâncias que tornaram possível o delegado agir como agiu. Se Protógenes pode tocar uma operação ilegal dentro de outra legal quem garante que esse foi um fato inédito? Quem garante que não possa se repetir?