Todos os humanos erram. Só os adoecidos de fanatismo ou ideologia (não raro, as duas moléstias atacam ao mesmo tempo um mesmo cérebro) nunca erram. Vide os nazistas, os fascistas de ontem e de hoje, os stalinistas idem, etc. O jornal erra, os editorialistas erram, os leitores erram. Só os que se promovem a consciência correta do universo (os que, dizia Voltaire, conversam todo dia com o Pai Eterno e podem ler os Seus decretos no livro da vida) gozam da inerrância. Tudo certo.
Agora, uma questão lógica aos intelectuais que se dizem contrários a TODAS as ditaduras, de esquerda ou de direita, religiosas ou laicas, etc.
Se é verdadeiro o enunciado de que eles são contrários a TODAS as ditaduras, qual a sua justificativa para atenuar uma ditadura de direita, a brasileira? A luta contra as esquerdas abençoa TUDO ? O artigo do Dr. Villa é obra prima de ideologia em ato. E de propaganda sem peias. Ele me decepcionou em todos os sentidos, mas sobretudo na ordem histórica. Mudar ad Hoc fatos, mudar ad Hoc datas, mudar toda uma cronologia muito bem estabelecida, só pode ser concebido, apenas e tão somente, com uma outra cronologia, com outros fatos, com outros documentos, tudo muito bem fundamentado.
Perdoem, mas o que foi mostrado pelos referidos intelectuais é que eles não são equidistantes e contrários a TODAS as ditaduras, mas pendem em definitivo para as ditaduras da direita. E delas, como das esquerdistas, o mundo já está cansado. Combato a ditadura de Chavez. Mas não ignoro, nem os intelectuais honestos e dignos deste nome podem ignorar : os venezuelanos que deram o golpe contra ele, tentaram impor uma outra ditadura, tão ordinária quanto a dirigida por ele. Com seus decretos de censura à imprensa, suspensão de direitos, etc. eles deram a desculpa para os desmandos daquele militar autoritário. Oportunismo e seletividade (os bons e os máus ditadores) podem ter lugar na ordem política, mas não demonstram integridade no universo do pensamento teórico.
Roberto Romano
São Paulo, domingo, 08 de março de 2009
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Folha avalia que errou, mas reitera críticas DA REDAÇÃO O diretor de Redação da Folha, Otavio Frias Filho, divulgou ontem as seguintes declarações: "O uso da expressão "ditabranda" em editorial de 17 de fevereiro passado foi um erro. O termo tem uma conotação leviana que não se presta à gravidade do assunto. Todas as ditaduras são igualmente abomináveis. Do ponto de vista histórico, porém, é um fato que a ditadura militar brasileira, com toda a sua truculência, foi menos repressiva que as congêneres argentina, uruguaia e chilena -ou que a ditadura cubana, de esquerda. A nota publicada juntamente com as mensagens dos professores Comparato e Benevides na edição de 20 de fevereiro reagiu com rispidez a uma imprecação ríspida: que os responsáveis pelo editorial fossem forçados, "de joelhos", a uma autocrítica em praça pública. Para se arvorar em tutores do comportamento democrático alheio, falta a esses democratas de fachada mostrar que repudiam, com o mesmo furor inquisitorial, os métodos das ditaduras de esquerda com as quais simpatizam." Otavio Frias Filho |