De onde vêm as “gravações exclusivas” conseguidas pela imprensa?
Os brasileiros mais atentos estão assistindo a exposição de várias
denúncias contra políticos ligados ao contraventor Carlos Cachoeira,
dono de uma e extensa rede de influência nos bastidores do poder.
Geralmente denúncias como estas são fundamentadas em gravações
telefônicas grampeadas pela Polícia Federal, e publicadas em rede
nacional de televisão. No afã de manifestar nossa revolta contra a
corrupção no país, esquecemos de questionar esta prática, que pode
conter certas distorções.
É preciso saber qual o critério utilizado pela Polícia Federal para
divulgar estas escutas. Elas simplesmente “vazam” para a imprensa, sem
que se saiba quem é o responsável por divulgá-las? Se é vazamento
ilegal, as emissoras podem divulgar livremente? Se o vazamento é legal e
formalmente realizado, por que existe “exclusividade” para certas
emissoras e jornalistas – principalmente a toda poderosa (desde o regime
militar) Rede Globo de Televisão?
E se esta “competência jornalística” vir acompanhada de
favorecimento, o que os policiais federais responsáveis pelo vazamento
ganham com isso? Notabilidade da instituição em que trabalham?
Por outro lado, a divulgação ilegal de gravações não pode
inviabilizar a legalidade do procedimento de punição dos envolvidos –
tanto o processo penal quanto o processo administrativo que tenta provar
a falta de “ética” de um Senador ou Deputado, por exemplo. O fato é
que, sob o discurso de que está fazendo o bem de denunciar corrupções,
setores da imprensa chegam a romper com os limites de sua atuação. Neste
caso, pelo bem de seus lucros e audiências – e de terceiros que se
interessam em certas reputações destruídas, mesmo que injustamente.
Recentemente, a Rede Globo denunciou, através de gravações em vídeo
feitas por repórteres da emissora, um esquema de corrupção no sistema de
saúde do Rio de Janeiro. A Polícia Civil carioca e a própria Polícia
Federal solicitaram uma cópia das gravações, e a resposta da Globo foi a
seguinte (segundo a Revista Veja):
A Globo não atendeu ao pedido das polícias Civil e Federal para entregar a íntegra dos vídeos gravados na reportagem do Fantástico sobre corrupção na rede de saúde do Rio de Janeiro. A Central Globo de Comunicação informou que não mantém em arquivo as fitas brutas das imagens, mas apenas o que vai ao ar. A série de reportagens do Fantástico que foi ao ar no fim de março revelou um mega esquema de pagamento de propinas em instituições de saúde da União com o envolvimento de empresas como Locanty, Rufolo e Bella Vista.
Leia na Veja…
Na greve da Polícia Militar da Bahia, em fevereiro último, gravações
de conversas telefônicas do líder do movimento foram exibidas pela
emissora no Jornal Nacional, dando a entender que este incentivava danos
a viaturas. As gravações, porém, foram parcialmente publicadas,
escondendo o trecho (que consta em documento do Ministério Público) em que Marco Prisco orienta seu interlocutor que “não bote fogo” nas viaturas.
Como se vê, é preciso nos questionarmos se a sede da população por
justiça não está sendo aproveitada de maneira sensacionalista para
manipulação política. Por trás de uma bela manchete, interesses
eleitoreiros/politiqueiros e financeiros podem estar escondidos.
Autor: Danillo Ferreira- Tenente da Polícia Militar da Bahia, associado ao Fórum Brasileiro de Segurança Pública e graduando em Filosofia pela UEFS-BA. | Contato: abordagempolicial@gmail.com