quarta-feira, 2 de maio de 2012

Abordagem Policial.

De onde vêm as “gravações exclusivas” conseguidas pela imprensa?



Os brasileiros mais atentos estão assistindo a exposição de várias denúncias contra políticos ligados ao contraventor Carlos Cachoeira, dono de uma e extensa rede de influência nos bastidores do poder. Geralmente denúncias como estas são fundamentadas em gravações telefônicas grampeadas pela Polícia Federal, e publicadas em rede nacional de televisão. No afã de manifestar nossa revolta contra a corrupção no país, esquecemos de questionar esta prática, que pode conter certas distorções.

É preciso saber qual o critério utilizado pela Polícia Federal para divulgar estas escutas. Elas simplesmente “vazam” para a imprensa, sem que se saiba quem é o responsável por divulgá-las? Se é vazamento ilegal, as emissoras podem divulgar livremente? Se o vazamento é legal e formalmente realizado, por que existe “exclusividade” para certas emissoras e jornalistas – principalmente a toda poderosa (desde o regime militar) Rede Globo de Televisão?

E se esta “competência jornalística” vir acompanhada de favorecimento, o que os policiais federais responsáveis pelo vazamento ganham com isso? Notabilidade da instituição em que trabalham?

Por outro lado, a divulgação ilegal de gravações não pode inviabilizar a legalidade do procedimento de punição dos envolvidos – tanto o processo penal quanto o processo administrativo que tenta provar a falta de “ética” de um Senador ou Deputado, por exemplo. O fato é que, sob o discurso de que está fazendo o bem de denunciar corrupções, setores da imprensa chegam a romper com os limites de sua atuação. Neste caso, pelo bem de seus lucros e audiências – e de terceiros que se interessam em certas reputações destruídas, mesmo que injustamente.



Recentemente, a Rede Globo denunciou, através de gravações em vídeo feitas por repórteres da emissora, um esquema de corrupção no sistema de saúde do Rio de Janeiro. A Polícia Civil carioca e a própria Polícia Federal solicitaram uma cópia das gravações, e a resposta da Globo foi a seguinte (segundo a Revista Veja):
A Globo não atendeu ao pedido das polícias Civil e Federal para entregar a íntegra dos vídeos gravados na reportagem do Fantástico sobre corrupção na rede de saúde do Rio de Janeiro. A Central Globo de Comunicação informou que não mantém em arquivo as fitas brutas das imagens, mas apenas o que vai ao ar. A série de reportagens do Fantástico que foi ao ar no fim de março revelou um mega esquema de pagamento de propinas em instituições de saúde da União com o envolvimento de empresas como Locanty, Rufolo e Bella Vista.
Leia na Veja…
Na greve da Polícia Militar da Bahia, em fevereiro último, gravações de conversas telefônicas do líder do movimento foram exibidas pela emissora no Jornal Nacional, dando a entender que este incentivava danos a viaturas. As gravações, porém, foram parcialmente publicadas, escondendo o trecho (que consta em documento do Ministério Público) em que Marco Prisco orienta seu interlocutor que “não bote fogo” nas viaturas.

Como se vê, é preciso nos questionarmos se a sede da população por justiça não está sendo aproveitada de maneira sensacionalista para manipulação política. Por trás de uma bela manchete, interesses eleitoreiros/politiqueiros e financeiros podem estar escondidos.


Autor: - Tenente da Polícia Militar da Bahia, associado ao Fórum Brasileiro de Segurança Pública e graduando em Filosofia pela UEFS-BA. | Contato: abordagempolicial@gmail.com