CPMI deve sacramentar queda de Demóstenes
Para analistas políticos, comissão deve expor outras figuras públicas, mas dificilmente haverá punições em larga escala
Demóstenes é o bode expiatório da CPMI do caso Cachoeira, segundo Roberto Romano
José Cruz/Agência Brasil
Fabio Mendes
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Bode expiatório
Para Roberto Romano, professor do Instituto de Filosofia e Ciências Humanas da Unicamp (Universidade de Campinas), tudo leva a crer que Demóstenes será sacrificado. “A tendência natural da sociedade política é escolher o bode expiatório. E isso deve acontecer com ele, até mesmo para preservar outros nomes”, explica.
Ele cita como exemplo o impeachment do ex-presidente e atual senador Fernando Collor, em 1992. “O culpado de todos os atos acabou sendo o Collor. E aquela imensa quantidade de deputados corruptos? O que houve com eles?”.
O professor explica que Perillo e Queiroz não devem ser incriminados pela CPI, mas ambos sofrerão um forte desgaste após as denúncias. “Eles dificilmente sairão incólumes. A quantidade de elementos que os incriminam é muito grande”.
Romano destaca ainda que a CPI pode comprometer um grande número de pessoas e que alguns desdobramentos da comissão são imprevisíveis. “A CPI deve localizar os problemas muito sérios contra figuras dos três poderes e de todos os partidos políticos”.
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Grande vilão
Maria Teresa Kerbauy, professora de Ciência Política da FCL (Faculdade de Ciências e Letras), da Unesp de Araraquara, também aposta em queda de Demóstenes Torres. “Por enquanto, ele aparece como o grande vilão da história. Todos os outros agentes, inclusive os governadores, aparecem em plano secundário”.
Para ela, ainda há dúvidas de como a CPI será conduzida, já que as denúncias envolvem políticos de vários partidos, tanto da base aliada ao governo quanto da oposição. “Esta comissão é pedagógica, no sentido de que mostra um lado da corrupção que já estava sendo investigado”.
No entanto, ela teme que muitas das irregularidades não apareçam ao final das investigações. “Muita coisa não aparece. Alguns serão punidos, para dar uma satisfação à opinião pública, mas a maioria pode não ser”.
Delta
Para ela, um ponto importante da CPI é mostrar como funciona o financiamento de campanhas políticas. “Há um interesse de certos grupos em controlar este processo e percebemos que é desta maneira que eles agem”.
Um exemplo claro, segundo a professora, é a forma como a empreiteira Delta é citada nas gravações. “O foco na empreiteira é grande e isso deve se estender ainda mais na CPI. No entanto, há outros agentes importantes que não podem ficar de fora da investigação”.
Romano concorda com a tese de Maria Teresa Kerbauy e diz que muitas outras empreiteiras podem se beneficiar da CPI. “Se a Delta for envolvida diretamente no esquema do Cachoeira, vai perder contratos. Será uma concorrente a menos para as outras empresas. Mas porque não se investigam as demais? Será que elas não têm nenhuma irregularidade?”
Sobre a CPMI
A chamada CPI do Cachoeira retomou seus trabalhos na última quarta-feira e dominou o noticiário nacional, especialmente depois que os documentos do inquérito, que corriam em segredo de Justiça, caíram na internet e foram disseminados por diversos sites e blogs.
A CPI foi montada depois que a Polícia Federal divulgou várias gravações, realizadas durante a Operação Monte Carlo, em que Cachoeira e seus assessores conversam com Demóstenes Torres e outros políticos. Alguns dos diálogos grampeados apontam, de forma indireta, ligações do bicheiro com os governadores Marconi Perillo (PSDB-GO) e Agnelo Queiroz (PT-DF). A empreiteira Delta também aparece como beneficiária de vários esquemas, segundo a P