Base do governo quer convocar procurador-geral na CPI do Cachoeira
Líderes do PT e aliados querem usar o depoimento do delegado Raul Alexandre, da PF, pois entendem que ele deixou clara a existência de indícios de prevaricação por parte de Roberto Gurgel no processo
08 de maio de 2012 | 23h 51
Alana Rizzo, Eugênia Lopes e Fábio Fabrini, de O Estado de S.Paulo
BRASÍLIA - A base do governo no Congresso pretende usar o
depoimento do delegado da Polícia Federal Raul Alexandre Marques para
convocar o procurador-geral da República, Roberto Gurgel, a prestar
esclarecimentos à CPI do Cachoeira sobre sua atuação no inquérito que
investiga o envolvimento de políticos com a quadrilha do bicheiro.
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Andre Dusek/AE
Roberto Gurgel recebeu o caso em 2009, mas o manteve parado até a eclosão do escândalo neste ano
Líderes do PT e de partidos aliados vão discutir uma possível oitiva
de Gurgel, sob o argumento de que na terça-feira, 8, o delegado deixou
claro que há indícios de prevaricação por parte do procurador ao tratar
informações da Operação Vegas que incriminavam o senador Demóstenes
Torres (DEM-GO) e os deputados Carlos Leréia (PSDB-GO) e Sandes Júnior
(PP-GO).
Gurgel recebeu o caso em 2009, mas não pediu autorização para
investigá-lo ao Supremo Tribunal Federal (STF), tampouco devolveu peças
da operação à primeira instância, o que a manteve congelada até este
ano, quando foi desencadeada a Operação Monte Carlo.
De acordo com o relato de parlamentares presentes à sessão, Marques
disse que a Vegas ficou inconclusa. O inquérito foi remetido ao
procurador em 15 de setembro de 2009. A subprocuradora da República
Cláudia Sampaio foi designada para analisá-lo e, no mês seguinte,
informou ao delegado não ter encontrado elementos jurídicos que
fundamentassem um pedido de investigação ao Supremo "A partir disso, não
podia fazer mais nada", teria dito o policial à CPI.
Um dos argumentos do governo pela convocação do procurador é que,
embora não tenha encontrado indícios em 2009, Gurgel usou este ano, na
denúncia apresentada ao STF, após a Operação Monte Carlo, várias peças
do inquérito da Vegas.
"A subprocuradora, em nome do procurador, disse que não tinha
elementos que indicassem crime e (o caso) ficou parado até hoje. Foi
preciso uma nova operação para a sociedade conhecer essa organização
criminosa. Ele(Gurgel) precisa explicar por que não fez nada. Se não tem
crime, ele tinha que ter arquivado ou pedido à Justiça novas
diligências", cobrou o deputado Cândido Vaccarezza (PT-SP).
A convocação será discutida nos próximos dias por líderes
governistas. Alguns já tratam o depoimento de Gurgel como "imperativa". O
senador Fernando Collor (PTB-AL) apresentou requerimento pelo
comparecimento. A investida da base aliada desgasta o procurador no ano
em que o processo do mensalão será julgado, como informou o presidente
do Supremo, ministro Ayres Brito.
Em minoria, a oposição tenta uma saída alternativa: convocar Cláudia
Sampaio e solicitar esclarecimentos a Gurgel por escrito. É que, como
autor de uma possível denúncia contra políticos envolvidos com Cachoeira
no futuro, o procurador não poderia testemunhar à CPI por vedação
legal.
Segundo relatos de senadores e deputados, os áudios confirmam o braço
político da organização criminosa comandada por Cachoeira. As
informações levadas por Marques deixaram claro, conforme integrantes da
CPI, que Demóstenes não era um mero beneficiário de favores e dinheiro
da quadrilha, mas integrante ativo da organização do contraventor. O
senador teria colocado o mandato a disposição da máfia dos
Caça-níqueis. Segundo o delegado, o inquérito da
Vegas revela a intensa troca de informações entre Leréia e Cachoeira. Um
dos áudios indica que o tucano teria recebido R$ 100 mil do
contraventor. Além de recorrer ao bicheiro para o financiamento de uma
pesquisa eleitoral, como revelou o Estado, Sandes Júnior teria
participado de operação para fraudar licitações no município de
Nerópolis, vizinho a Goiânia e uma de suas bases
Eleitorais. O governo tentou ainda blindar a Delta
Construções, maior empreiteira do Programa de Aceleração do Crescimento,
mas a oposição saiu convicta da necessidade de convocar ex-dirigentes
da empresa. "Há indícios de que a atuação de Cachoeira era como sócio da
Delta São relações que vêm desde 2006", disse um senador.