Crise na Grécia fortalece partido neonazista nas eleições deste domingo
Movimento que deve ganhar cadeiras no Parlamento usa nazismo e propõe expulsão dos imigrantes
04 de maio de 2012 | 20h 40
JAMIL CHADE / CORRESPONDENTE / GENEBRA
A Europa descobre o outro lado do desespero, caos e
falência da Grécia: o fortalecimento do extremismo e de um partido
neonazista que faz o continente relembrar um dos momentos mais sinistros
de sua história. O partido Chryssi Avgi (Crepúsculo Dourado) espera
conquistar entre 5% e 8% dos votos nas eleições legislativas na Grécia
neste domingo, 6.
Yorgos Karahalis/Reuters
Eleitores gregos irão às urnas neste domingo, 6
Líderes gregos e europeus, por sua vez, apelam à população para que
evite o partido que propõe a volta dos campos de trabalho forçado, a
colocação de minas nas fronteiras e a exclusão de estrangeiros dos
hospitais.
Neste domingo, 6, a Grécia vai às urnas para o que muitos já chamam
de a eleição mais importante na história democrática do país, que
atravessa seu quinto ano de recessão e já teve de ser resgatado em duas
ocasiões em apenas dois anos. Juntamente com o dinheiro, foram feitas
exigências do FMI e da União Europeia de uma reforma e cortes de gastos
que fizeram o país parar.
Ainda que o grupo neonazista ainda não seja uma realidade no
Parlamento, já é nas ruas de Atenas, num sinal da reação à crise. O
bloco conta com voluntários que patrulham os bairros da capital,
exigindo ver a identidade de moradores. Na maioria dos casos são jovens
de cabeça raspada e vestidos de negro. Saem em busca de imigrantes que
eles acusam de serem culpados pelo desemprego recorde de 21%. Não são
poucos os incidentes em que estrangeiros são espancados, com os mastros
de bandeiras gregas, ou praças que ganham pichações.
E não é apenas a ira contra os imigrantes que tem levado o grupo a
ganhar popularidade. A frustração com partidos tradicionais e o
desemprego de 51% entre jovens vêm levando parte do eleitorado a buscar
alternativas.
Em 2009, nas eleições legislativas vencidas pelos socialistas, o
partido neonazista obteve apenas 20 mil votos, 0,2% da preferência. Em
2010, em plena crise, um primeiro deputado do movimento foi eleito em Atenas.
Neste domingo, o partido que usa uma suástica adaptada como símbolo e
não hesita em fazer a saudação nazista nos comícios deverá ganhar votos
suficientes para entrar no Parlamento. Para isso, deve obter os votos de
3% do eleitorado - que lhes daria 10 deputados. Somados, os três
partidos de extrema direita poderão ter um quinto dos votos dos gregos.
Tanto os conservadores do partido Nova Democracia quanto os
socialistas do Pasok têm apelado aos eleitores que abandonem o movimento
fascista, alertando que uma votação expressiva do grupo criaria mais
problemas para o país. Nenhum dos dois partidos tradicionais deve obter
uma maioria. Eles serão forçados a formar uma aliança.
Um dos candidatos mais populares do grupo neonazista é Elias
Panayiotaros, dono de uma loja de artigos militares, que não disfarça
sua admiração pelo regime dos coronéis, que governou a Grécia entre 1967
e 1974. Seu plano de governo é simples: em tempos de crise, a
prioridade é a expulsão de imigrantes.
Segundo ele, o custo do projeto de expulsar um milhão de pessoas da
Grécia seria equilibrado com o fato de que muitos deles seriam forçados a
ingressar em campos de trabalho, antes da expulsão. Quem não aceitar
trabalhar não receberia alimentos. No campo econômico, o partido defende
que empregos sejam reservados apenas para os gregos e todas as dívidas
externas seriam alvo de um calote.