Analistas: Trabalhismo de Brizola exaltado por Dilma está superado
05 de maio de 2012 • 13h47
A presidente Dilma Rousseff (PT) empossou Brizola Neto (PDT)
no Ministério do Trabalho e fez um discurso exaltando a bandeira de
Leonel Brizola e João Goulart
Foto: Antonio Cruz/Agência Brasil
Foto: Antonio Cruz/Agência Brasil
Ao afirmar que o novo ministro do Trabalho, Brizola Neto (PDT),
carrega a "importância histórica do trabalhismo na formação do País,
meio século de lutas sociais e conquista de direitos", a presidente
Dilma Rousseff (PT) tentou resgatar os ideais de Getúlio Vargas
(1882-1954) e Leonel Brizola (1922-2004) e dar um novo perfil à pasta,
marcada por escândalos recentes e perda de importância. Herdeiro
político de um sobrenome forte, Brizola Neto, 33 anos, assumiu falando
que o ministério se confunde com a própria história do trabalhismo.
Porém, analistas consultados pelo Terra acham que este legado foi superado e que o novo ministro tem de sair da sombra do avô e se adequar aos tempos modernos.
"O Brizola foi produto de uma época. Como grande político que era,
soube vestir a camisa da sua geração. O momento agora passa à margem da
orientação que seguem os netos. O trabalhismo atual não tem força
nenhuma, não existe mais como realidade. Hoje, ele se encontra muito
mais expressado no PT", afirmou o doutor em Ciências Históricas Mário
Maestri. Os netos do ex-governador gaúcho e fluminense são, além do novo
ministro do Trabalho - sobrinho-neto do ex-presidente João Goulart -, a
deputada Juliana Brizola (PDT-RS), 37 anos, e o vereador Leonel Brizola
Neto (PDT-RJ), 37 anos. O pai deles, João Vicente Goulart Brizola, foi
deputado federal pelo Rio de Janeiro (1991-1995), mas abandonou a
política.
Segundo Mário Maestri, o trio busca a "luz de seus ancestrais" para
seguir na política. "É uma coisa tradicional, os descendentes procuram
se iluminar na forte luz de seus ancestrais. É um direito, afinal de
contas, mas é uma iluminação estranha do Brizola", salientou.
Brigas internas pelo sobrenome
Brizola Neto assumiu o lugar do interino Paulo Roberto Pinto, que estava no comando da pasta desde dezembro do ano passado, quando o então ministro, Carlos Lupi, teve de deixar o cargo por causa de denúncias de irregularidades. Também estavam cotados para o posto o deputado Vieira da Cunha (PDT-RS) e o secretário-geral do PDT, Manoel Dias. A opção pessoal de Dilma Rousseff, filiada ao partido durante 20 anos, expôs a briga interna que existe pela herança do nome Brizola.
"Há uma disputa entre a nova geração política da família Brizola e
lideranças como Carlos Lupi. Ambos falam em nome do trabalhismo, mas
estão situados em posições distintas no interior do PDT. Ambos se
consideram herdeiros de Brizola", explicou o cientista político da
Universidade Federal Fluminense (UFF) Marcus Ianoni. De acordo com ele, a
força da família "está em construção e é um processo relativamente
recente, mas que já está dando frutos, sendo o maior deles o Ministério
do Trabalho."
Para o professor de Ética e cientista político da Unicamp Roberto
Romano, o PDT tornou-se um "anacronismo": "O sindicalismo brasileiro
passou para um estágio bastante diferente e hoje existe uma autonomia
muito grande dos sindicatos em relação aos partidos, ao contrário da
época de Leonel Brizola. O PDT é um anacronismo funcionando".
Prudência e jogo de cintura
O professor Roberto Romano entende que os herdeiros de Brizola podem crescer na política e se consolidarem se adotarem práticas diferentes do patrono, conhecido pelas críticas duras e defesa ferrenha de seus ideais. "O nome é sempre um capital político essencial no voto e no prestígio. Porém, não dá um bom uso automático. É possível que o Brizola Neto chegue longe na política, mas vai depender da prudência e jogo de cintura, o que ele parece não ter muito", disse Romano.
"O estilo autoritário é importante em períodos de crise, só que
levanta muita oposição. A pessoa que apenas comanda esquece que na
política todos querem comandar. A partir do Executivo, se o Brizola Neto
começar a pisar em calos de gente importante, vai criar inimigos. Pelo
perfil apresentado até agora, ele terá muitas dificuldades em subir na
vida política", completou.
Aos 33 anos, Carlos Daudt Brizola, nome de batismo de Brizola Neto, é
o mais jovem ministro do atual governo. Ele nasceu em Porto Alegre e
está em seu segundo mandato como deputado federal pelo Rio de Janeiro.
Mesmo sem vencer as últimas eleições parlamentares em 2010, Brizola Neto
voltou à Câmara dos Deputados como suplente do deputado Sergio Zveiter
(PSD). Em 2009, foi líder do PDT na Câmara. Em sua trajetória política,
exerceu ainda o cargo de vereador pelo município do Rio, em 2004. Ele
mantém um blog chamado Tijolaço (nome que o avô usava), onde escreve
artigos que lhe renderam críticas, e não é unanimidade dentro do PDT
devido aos seus posicionamentos.
O trabalhismo no Brasil
O movimento trabalhista tomou força no País após os anos 1930, sob a liderança de Getúlio Vargas. Em 1945, com o fim do Estado Novo, foi criado o Partido Trabalhista Brasileiro (PTB). Durante as décadas de 1950 e 1960, ele foi a principal vertente da esquerda moderada na política brasileira, atraindo setores e eleitores que não se identificavam nem com a direita conservadora e nem com o comunismo. Seus expoentes teóricos foram Alberto Pasqualini e Santiago Dantas.
Extinto na ditadura militar, o PTB renasceu em 1980 envolto numa
disputa entre Leonel Brizola, que voltava depois de 15 anos de exílio, e
a sobrinha de Vargas, a ex-deputada federal Ivette Vargas. Após perder a
sigla no Tribunal Superior Eleitoral, o ex-governador gaúcho fundou o
PDT, que concentrou a maior parte dos trabalhistas históricos.
A queda de Lupi
O ministro do Trabalho e Emprego, Carlos Lupi (PDT), pediu demissão no dia 4 de dezembro, cerca de um mês após denúncias de que seus assessores cobrariam propina de organizações não governamentais (ONGs) conveniadas com a pasta e de que teria ocupado cargo-fantasma na Câmara dos Deputados por seis anos. No governo federal desde 2007, Lupi culpou a "perseguição política e pessoal da mídia" por sua saída.
A crise começou no início de novembro, quando a revista Veja
publicou que funcionários do ministério estavam envolvidos em um suposto
esquema de cobrança de propina de ONGs conveniadas com a pasta
comandada pelo ministro. Segundo a publicação, entidades tinham o
repasse bloqueado após problemas com a fiscalização. Assessores de Lupi,
então, procuravam os dirigentes para resolver o problema cobrando
propinas de 5% a 15%. Na ocasião, Lupi disse que irregularidades de
funcionários, se existiam, não podiam ser atribuídas a ele, pedindo
investigação do caso.
Mas o escândalo se ampliou quando o ministro teve que ir ao Congresso
explicar uma viagem no avião do empresário dono da ONG Pró-Cerrado, que
tem convênios de R$ 14 milhões com o Trabalho, para cumprir agenda no
Maranhão. Inicialmente, o ministro negou conhecer Adair Meira, mas
voltou atrás depois de ter fotos divulgadas ao lado dele. Lupi
argumentou ter dito apenas que não mantinha "relações pessoais" com
Meira.
Na última semana antes de deixar o cargo, o jornal Folha de S. Paulo,
denunciou que o ministro foi lotado na liderança do PDT por seis anos,
mas no período exerceu atividades partidárias como vice-presidente da
sigla. As normas da administração pública dizem que ocupantes desses
cargos devem exercer funções técnicas e precisam trabalhar nos
gabinetes. Apesar do apoio do partido e da vontade da presidente Dilma
Rousseff em não perder mais um ministro para denúncias de corrupção, a
permanência de Lupi no comando da pasta se tornou insustentável após a
Comissão de Ética Pública aplicar, por unanimidade, uma advertência e
recomendar sua demissão.