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Hélio Schwartsman
Tragédia grega
SÃO PAULO - Até que ponto as draconianas exigências impostas pela
União Europeia à Grécia são compatíveis com a democracia? É razoável,
como chegou a sugerir o ministro das Finanças alemão, que as eleições
fossem adiadas, para impedir que os gregos fizessem a escolha "errada"?
É inegável que os "Diktaten" europeus não se coadunam com a ideia que
fazemos de democracia, pela qual os povos devem ser livres para decidir
seu próprio destino.
A questão, porém, é mais complicada do que parece. Embora os helenos
sejam os protagonistas da epopeia, eles não são a única parte com
interesses legítimos nas negociações. Governos europeus, afinal, estão
colocando bilhões de euros no resgate, sem perguntar a seus cidadãos se
estão dispostos a incorrer nesses gastos. Caso aplicássemos o princípio
da consulta popular em países como Alemanha e França, talvez os gregos
nem tivessem a possibilidade de escolha.
Se a ideia é resolver a crise grega democraticamente, quem deve ser
ouvido? Além de aqueus e cidadãos da zona do euro, estão envolvidos no
"imbroglio" e poderiam ter algum tipo de voz trabalhadores cotistas de
fundos de pensão que compraram títulos gregos, países que contribuem
para o FMI e até banqueiros.
A verdade é que a democracia resolve uma série de problemas, mas não é
nem nunca pretendeu ser a solução para todas as dificuldades. Em
situações desastrosas como é a da Grécia, nas quais não há solução
indolor, os limites da consulta popular ficam um pouco menos obscuros.
Curiosamente, os norte-americanos perceberam já no século 19 que havia
assuntos complicados demais para deixar nas mãos tanto do mercado como
de políticos e, por isso, criaram as agências reguladoras.
Na contramão do assembleísmo democrático, elas são autarquias compostas
por especialistas indicados pelo Executivo e que desempenham funções
legislativas e judiciais. Ainda que com falhas, funcionam.
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