Ao elogiar repórteres na Síria, Casa Branca é cobrada por restrições à imprensa nos EUA
NELSON DE SÁ
ARTICULISTA DA FOLHA
O governo Obama ao lamentar a morte de jornalistas na Síria, reacendeu
críticas às restrições que vem impondo ao jornalismo nos EUA.
No fim de semana, o porta-voz da Casa Branca já havia elogiado Anthony
Shadid, do "New York Times", morto na semana passada de um ataque de
asma. Foi questionado pelo analista de mídia da Reuters, Jack Shafer,
segundo quem ele deveria "calar a boca" e só falar se elogiasse também
os jornalistas que, nos EUA, cobrem o governo criticamente.
Anteontem, o porta-voz elogiou a correspondente Marie Colvin, do "Sunday
Times", que morreu em bombardeio em Homs nesta semana, mas foi
imediatamente questionado por Jake Tapper, da ABC, perguntando:
"Como isso se ajusta ao fato de que este governo está tentando conter
tão agressivamente o jornalismo nos EUA, usando a Lei de Espionagem para
processar 'whistle-blowers' [vazadores de desvios governamentais]?"
Destacou que o governo Obama está no sexto processo contra vazadores,
contra apenas três ações anteriores, desde que a lei foi criada em 1917.
O porta-voz se recusou a comentar, levando o jornalista a reagir:
"Então a verdade deve ser tornada pública no exterior [mas] não aqui?".
Dois dos seis processos chamam mais a atenção. Um deles é contra Jeffrey
Sterling, ex-agente da CIA que teria sido fonte de James Risen, do
"NYT", num relato sobre atos de sabotagem contra o programa nuclear
iraniano. O Departamento de Justiça quer que Risen testemunhe contra
Sterling, abrindo a fonte.
Na última quarta, um abaixo-assinado das principais organizações de
mídia dos EUA, como os jornais "NYT" e "Washington Post" e as emissoras
ABC e Fox News, pediu ao tribunal que rejeite a argumentação do
Departamento de Justiça, de que a proteção de fontes não cabe em
processos criminais.
O outro processo é contra o soldado Bradley Manning, acusado de ser a
fonte do WikiLeaks no vazamento de documentos do Departamento de Estado e
do Departamento de Defesa. Ontem, em audiência, ele rejeitou se
declarar culpado ou inocente.
|