quarta-feira, 29 de fevereiro de 2012

Uma excelente seleta de opinões sobre vários pontos da vida nacional e do intelecto. O autor, de modo inteligente, coligiu frases e teses sobre o Brasil, a esquerda, a exquerda, e outros temas relevantes, inclusive as ilusões e os erros de todos os opinantes, inclusive deste que vos escreve. Ao analisar as frases, com certeza eu modificaria várias delas, que brotaram de meus lábios. Errando e aprendendo. PS: mantenho todas as enunciações sobre o PT. Errei no que diz respeito ao PSDB, o valorizei em demasia, embora sempre dele desconfiasse. Enfim, seres falíveis...



Para além da Geografia: a Crise do
Pensamento Crítico no Brasil
Luis Lopes Diniz Filho
1
Para além da Geografia: a Crise do Pensamento Crítico no Brasil...................................1
Introdução......................................................................................................................2
Repensando o projeto socialista (?)...............................................................................4
Estado, mercado e sociedade no capitalismo contemporâneo.......................................7
1. Modelo de desenvolvimento e reformas estruturais..............................................7
2. Política econômica...............................................................................................10
3. Pobreza e distribuição de renda...........................................................................14
4. Políticas sociais e de meio ambiente...................................................................15
Classes, partidos e “movimentos sociais”...................................................................16
A luta política dentro do sistema democrático............................................................18
1. Projeto nacional e projeto de poder.....................................................................18
2. Democracia..........................................................................................................19
3. Relação entre governo e sociedade......................................................................21
4. As oposições........................................................................................................23
5. Política de alianças..............................................................................................24
6. Os intelectuais críticos.........................................................................................25
7. Ética.....................................................................................................................26
1 Professor do Departamento de Geografia da UFPR. Versão elaborada em 27 de novembro
de 2011.
Introdução
 
No texto “Certa Má Herança Marxista: Elementos para Repensar a Geografia Crítica”,
elaborei uma discussão sobre a crise do marxismo e a forma como ela impõe a necessidade
de repensar os pressupostos fundamentais da Geocrítica, corrente de pensamento que é
amplamente majoritária na Geografia Humana brasileira2. Naquele texto, fiz o resumo de um
debate que fora travado sobre a crise do socialismo real no Centro Brasileiro de Análise e
Planejamento – Cebrap, em abril de 1991. Basicamente, as discussões realizadas nesse
evento se estruturaram em torno de cinco temas:

1. O fracasso do socialismo real e a necessidade de repensar o projeto socialista.
2. A análise das relações entre Estado, mercado e sociedade à luz da crise do
socialismo e dos avanços sociais ocorridos nos países capitalistas desenvolvidos.
3. A pertinência ou não das teorias econômicas marxistas frente ao capitalismo
contemporâneo.

4. As dificuldades de aplicação da categoria “luta de classes” nos estudos históricos e
sociológicos.

5. A historicidade do pensamento de Marx e seus erros de previsão quanto ao futuro do
capitalismo.


Com base nessas considerações e em uma análise a respeito das influências do marxismo
sobre a Geografia, o texto concluía que o contexto histórico atual torna imprescindível
rediscutir a forma como a Geografia Crítica concebe as relações entre Estado, mercado e
sociedade em sua produção científica e também no âmbito de seus posicionamentos éticos e
político-ideológicos. De fato, as mudanças teóricas e metodológicas ocorridas na Geografia
desde a queda do Muro de Berlim consistiram basicamente na aproximação do marxismo em
relação a abordagens humanistas e pós-modernas, mas sem que houvesse qualquer
reavaliação crítica quanto à pertinência das teorias marxistas para a explicação do
capitalismo contemporâneo. Pelo contrário, esse cruzamento de perspectivas teóricas e
metodológicas bastante heterogêneas, mas que partilham de um ponto de vista
profundamente crítico em relação ao capitalismo e à economia de mercado, ocorreu
justamente para tornar possível a muitos geógrafos marxistas se adaptarem a um contexto
histórico de desgaste intelectual e político do marxismo sem abrirem mão de seu discurso
radical. Em suma, a Geocrítica tornou-se epistemologicamente mais eclética apenas
para continuar sendo o que sempre foi.

Ora, essa rediscussão ampla da Geocrítica que eu propus há alguns anos nunca foi feita! No
entanto, as mudanças ocorridas recentemente na política brasileira trouxeram ainda mais
evidências da necessidade de rediscutir os pressupostos da Geocrítica segundo as diretrizes
que apresentei em 2001, ano em que o texto foi redigido. De fato, a eleição de Lula, em
2002, foi saudada pela esquerda intelectual e política, aí incluída a maior parte da Geografia
2 DINIZ FILHO, L. L. Certa má herança marxista: elementos para repensar a Geografia Crítica. In:
KOZEL, S.; MENDONÇA, F. (org.). Elementos de epistemologia da Geografia contemporânea.
Curitiba, Ed. da UFPR, 2002. Ver também: DINIZ FILHO, L. L. A Geografia Crítica brasileira: reflexões
sobre um debate recente. Rio Claro, Geografia, v. 28, n. 3, 2003.

2
brasileira, como prova de que o sonho socialista estava vivo ou, pelo menos, de que ainda
seria viável levar adiante formas alternativas de gestão do Estado e da economia capitalistas
pautadas pelas idéias da esquerda socialista e nacionalista da América Latina. Todavia, a
prática do governo Lula acabou servindo como mais uma evidência da crise do pensamento
intelectual e político de esquerda. O autêntico estelionato eleitoral praticado por esse
governo confirmou que não é apenas a Geografia Crítica que precisa ser repensada, mas a
própria matriz de onde os pressupostos dessa corrente da Geografia surgiram, isto é, o
chamado “pensamento crítico”, nome comumente usado para designar as correntes teóricometodológicas
marxistas, mas que também pode incluir os autores que, embora não
marxistas, procedem igualmente a uma crítica radical da sociedade capitalista3.
Para aqueles que não querem se deixar convencer disso, decidi elaborar um amplo rol de
citações que servem como evidências das contradições do pensamento crítico brasileiro no
governo Lula. Portanto, este documento não é um artigo, mas sim uma compilação de
citações de políticos, intelectuais e jornalistas que expressam as contradições do discurso
historicamente socialista e esquerdista de Lula, do PT e dos intelectuais filiados ou
simpatizantes do partido em relação à prática de seu governo. Obviamente, o objetivo de
uma compilação como essa não é compor uma análise das causas e da natureza desse
descompasso, posto que as citações arroladas contêm explicações contraditórias entre si e
foram enunciadas por pessoas com visões de mundo extremamente diversas: algumas são
petistas que utilizam uma retórica cínica para justificar o continuísmo do governo Lula,
outras se dizem decepcionadas ou mesmo traídas por esse governo, outras são não petistas
que elogiam o partido por abandonar seus velhos ideais e outras, ainda, denunciam o
estelionato eleitoral praticado para cobrar uma retratação dos políticos e intelectuais petistas
em relação às críticas radicais que fizeram ao governo de Fernando Henrique Cardoso.
Sendo assim, reitero que o objetivo aqui é tão-somente apresentar uma série de evidências
recentes da necessidade de um repensar profundo da Geografia Crítica, a qual está em crise
(embora os geógrafos se recusem a enxergar isso) tanto quanto o pensamento crítico que
lhe deu origem também está. Por esse motivo, as citações apresentadas a seguir foram
agrupadas segundo os mesmos eixos temáticos que pautaram o debate realizado no Cebrap
há mais de quinze anos, debate ao qual os geógrafos nunca deram a menor atenção. Por
fim, a divisão do documento em seções e subseções permite que ele seja utilizado para
consulta, pois facilita o trabalho de encontrar análises e explicações sobre questões
específicas dentro da temática geral da crise do pensamento crítico brasileiro.
3 Não é por acaso que, já em 05 de junho de 2003, foi realizado na USP um debate público intitulado “O
Pensamento Crítico no Brasil de Lula”, no qual um grupo de intelectuais petistas formado por Paulo
Arantes, Francisco de Oliveira, Plínio de Arruda Sampaio e Emir Sader manifestou sua decepção com o
continuísmo do governo Lula em relação ao de FHC.
3
Repensando o projeto socialista (?)
Partido dos Trabalhadores
Art. 1º: O Partido dos Trabalhadores (PT) é uma associação voluntária de cidadãs e cidadãos
que se propõem a lutar por democracia, pluralidade, solidariedade, transformações políticas,
sociais, institucionais, econômicas, jurídicas e culturais, destinadas a eliminar a exploração, a
dominação, a opressão, a desigualdade, a injustiça e a miséria, com o objetivo de construir o
socialismo democrático.
• PARTIDO DOS TRABALHADORES. Estatuto do Partido dos Trabalhadores: aprovado
pelo Diretório Nacional em 11.03.01 (texto com revisão finalizada em 06.04.01).
Acessível em Acesso em 19 fev. 2006.
Luiz Inácio Lula da Silva
“Além de o PT ser um partido de esquerda, é um partido que tem um objetivo socialista”.
Afirmação feita em junho de 1981.
• Veja, 04 de julho de 2001.
“Quando chegarmos ao socialismo vamos dizer como ele será”.
Afirmação feita em janeiro de 1986.
• Veja 04 de julho de 2001.
“E a verdade nua e crua é que, hoje, a cabeça do ser humano é muito mais consumista do
que socialista. E eu não vou ficar brigando com o ser humano por causa disso. Eu quero é
fazê-lo entender que desse jeito não dá. Hoje eu nem defendo uma sociedade igualitária,
porque aí todo mundo teria de ganhar o mesmo salário. E isso é impraticável”.
• República, fevereiro de 2000.
“Eu acho que essa discussão numa campanha eleitoral, capitalismo e socialismo, está
defasada e fora de época”.
Afirmação feita em junho de 2001.
• Veja 04 de julho de 2001.
Leôncio Martins Rodrigues
“O PT surgiu carregando uma enorme confusão ideológica, onde certo consenso só aparecia
quando seus membros se pronunciavam a favor de um vago socialismo e de um
anticapitalismo em geral. Mas a confusão ideológica acabou sendo uma vantagem. O PT
nasceu e cresceu ideologicamente indefinido, capaz de permitir a coexistência de correntes
marxistas-leninistas e católicas de esquerda.
Essa junção da explicação marxista com a cristã é muito estranha, especialmente nos países
latinos, onde a esquerda costumava ser adversária da Igreja”.
Cientista político.
• Folha de São Paulo, 13 de fevereiro de 2006.
Bolívar Lamounier
Veja – “Ao desmoronar como partido ético, o PT parece ter perdido todo o resto. Por quê?”.
Lamounier – “O PT foi fundado quando o socialismo no Leste Europeu estava a ponto de
desmoronar. Assim, o socialismo que o partido sempre disse que estava inventando teria de
se distinguir do marxismo-leninismo. Nessa metamorfose da ideologia de esquerda numa
coisa mais difusa, o elemento ético foi preponderando sobre a visão da história e a teoria
econômica próprias do marxismo. Pelo lado programático, você não uniria essa federação de
grupos que forma o PT – estudantes, certo tipo de intelectuais, padres, sindicalistas,
funcionários públicos, muitos deles da extração mais perfeitamente conservadora que o país
4
havia produzido nas décadas anteriores. O que amalgamou tudo isso foi a visão messiânica
de que dentro da igreja petista estava a virtude, e fora dela o pecado”.
• Veja, 21 de dezembro de 2005.
Paul Singer
Folha – “Como fica o PT depois de perder as bandeiras da ética e do socialismo?”.
SINGER – “Precisa recuperar as duas bandeiras”.
Economista, militante petista e um dos fundadores do partido.
• Folha de São Paulo, 13 de fevereiro de 2006.
Sérgio Besserman Vianna
“O PT – e a maior parte dos intelectuais ao seu redor – constituiu um dos raros partidos de
esquerda do mundo que se recusaram a enfrentar a questão [do fracasso do modelo de
planejamento centralizado]. A existência de tendências forneceu o biombo: uns pensam de
um jeito, outros, de outro, e, na verdade, ninguém pensava nada. No mundo, alguns se
voltaram mais para a direita, para a social-democracia, outros tentaram descortinar novas
agendas. Mesmo o PPS, no Brasil, sucedâneo do PCB, tenta, a seu modo, enfrentar o
desafio”.
Economista e presidente do IBGE no segundo mandato de FHC.
• VIANNA, Sérgio Besserman. O silêncio como método. Acessível em
Acesso em 12 de fevereiro de 2006.
José de Souza Martins
“Estou entre os que não acreditam na conversão dos petistas à social-democracia, que eles
consideram, erroneamente, uma orientação ideológica de direita. Do mesmo modo, que não
acredito e nunca acreditei que Lula seja de fato socialista. Lula é um sindicalista brilhante,
que alargou enormemente sua visão social a partir da prática de enfrentamento sindical com
as iniqüidades do sistema econômico, em particular durante a ditadura. Lula não viveu
propriamente a miséria extrema, apesar de tudo que se diz, pois é de uma família de
pequenos proprietários que migrou porque foi abandonada pelo pai e saiu à procura dele.
Mas ele a conhece e conhece bem. Aliás, é um ganho para o país que o novo governante
seja um íntimo do mundo medonho que o capitalismo subdesenvolvido criou e multiplicou na
semi-escuridão das favelas e cortiços. No entanto, esses problemas podem ser resolvidos
pela própria via capitalista, como se vê nos países desenvolvidos, e Lula sabe disso”.
Sociólogo e professor de Sociologia da USP.
• Primeira Leitura, , edição de 18 de setembro de
2005.
Antonio Palocci
“A tradução de um projeto socialista hoje se dá na necessidade de desenvolver políticas de
inclusão e de proteção dos segmentos sociais fragilizados. Quando se faz um sistema de
ajuste com metas estritamente macroeconômicas, se fragiliza o pequeno produtor, o
pequeno empresário, o trabalhador, o sem-terra, o com pouca terra ou com pouco recurso.
Todos esses setores ficam desprotegidos. A grande resposta que um partido socialista pode
dar é construir um projeto de inclusão que tenha como base o desenvolvimento da nação: a
questão nacional, a questão democrática e a questão social. Esses três eixos é que dão
conteúdo para um partido de esquerda governar o país em direção a uma sociedade mais
justa. Essa é a tradução do compromisso socialista do PT. Não imaginamos a possibilidade
de uma transformação radical da sociedade num período curto de tempo, mas imaginamos a
possibilidade de alcançarmos os pressupostos de uma sociedade mais justa”.
Do então ministro da fazenda no governo Lula.
• Teoria e Debate, n. 51, jun./jul./ago. 2002. Acessível em
Acesso em 25 fev. 2006.
Fundação Perseu Abramo
5
“[...] uma política econômica dotada de fundamentos liberais é a longo prazo incompatível
com a própria natureza socialista ou mesmo social-democrata de um partido no governo.
Uma política econômica de fundamentos liberais paralisaria o próprio ethos de mudança na
cultura política, a vontade das pessoas, suas crenças, suas esperanças e, ao final,
pressionaria para a mudança da própria identidade e bases sociais do partido que a conduz”.
Análise crítica sobre o documento “Política Econômica e Reformas Estruturais”, o primeiro a
ser produzido pelo governo Lula para divulgar uma estratégia de desenvolvimento global e
de longo prazo.
• FUNDAÇÃO PERSEU ABRAMO. Os caminhos da transição. Periscópio, n. 25, Maio 2003.
Acessível em Acesso em 05
jun. 2004.
Chico Alencar
“A concepção socialista e democrática já foi para o espaço há muito tempo. [...] Os partidos
socialistas de Mário Soares, em Portugal, de Felipe Gonzalez, na Espanha, e de Lionel Jospin,
na França, nasceram de esquerda, mas acabaram se rendendo ao centro. Cometeram o
mesmo erro do governo Lula, mas não tão rápido.”
• VASCONCELOS, Paulo Eduardo de. O PT de frente para o espelho. Acessível em
Acesso em 28 de outubro de 2003.
Tarso Genro
“A esquerda esquece que o governo Lula promoveu uma nova inserção internacional do
Brasil, estabeleceu um novo diálogo social, articulou um conjunto de reformas que está
salvando o Estado e não enterrando-o, como o governo Fernando Henrique, e que retomou a
visão de um projeto nacional que estava dissolvido desde Fernando Collor de Mello. [...] É
preciso alcançar um novo patamar para se pensar o projeto socialista. Não se chega ao
socialismo com miséria e lumpesinato.”
• VASCONCELOS, Paulo Eduardo de. O PT de frente para o espelho. Acessível em
Acesso em 28 de outubro de 2003.
Francisco de Oliveira
“Mesmo a ‘jóia da coroa’ do governo [Lula], sua política externa, tem não poucos aspectos
de retrocesso: a crença no livre comércio, em áreas de mercados livres, na contramão da
rica experiência latino-americana, teorizada brilhantemente por Raúl Prebisch e Celso
Furtado”. [...] “Quando a liga que faz o partido, o projeto coletivo de poder para
transformação da sociedade no sentido do socialismo, e de mobilização da sociedade para
tanto, se esgota, então é hora de deixá-lo”.
• OLIVEIRA, Francisco de. Tudo que é sólido se desmancha em... cargos. Folha de São
Paulo, 14 dez. 2003.
Geraldo Adriano Godoy de Campos
“Sin cambiar las reglas del juego, la transformación social es sólo un sueño. Y precisamente
por eso, porque no consiguió cambiar las reglas del juego, el gobierno de Lula se encontró
reforzando el proyecto neoliberal y repitiendo la vieja máxima de Margaret Thatcher, ‘no hay
otra alternativa’, una máxima que cada vez se oye más en la periferia del sistema
capitalista”.
Professor licenciado da PUC de São Paulo e ex-integrante da tendência Democracia
Socialista, do PT.
• WAINWRIGHT, Hilary; BRANDFORD, Sue (coord.). En el ojo del huracán: visiones de
militantes de izquierda sobre la crisis política de Brasil, p. 6. Disponível em
Acesso em 06 de fevereiro de 2006.
El País
"Confuso entre seu duro passado de oposição e radicalismo de esquerda e seu presente no
governo voltado para o neoliberalismo de corte europeu, o PT já pensa em realizar sua
Perestroika”.
6
Do jornal espanhol, sobre os 25 anos do PT.
• Veja, 16 fevereiro de 2004.
Sérgio Abranches
“As sessões [da Câmara] se afogam em discussões bizantinas. Líderes governistas poderiam
ganhar o Oscar de contorcionismo verbal, defendendo teses ‘neoliberais’ com o mesmo
discurso socialista e antiimperialista usado no passado para denunciá-las. O destaque têm
sido os deputados Aldo Rebelo (PCdoB) e Professor Luizinho (PT). A oposição (PSDB e PFL)
faz discursos ‘acusando’ o governo de repetir FHC e para dizer que votará nas propostas
governistas porque elas copiam as suas próprias.”
Cientista político, ao comentar a votação do projeto de emenda constitucional 192, que
desregulamentou o sistema financeiro. Nessa votação, muitos deputados petistas se
declararam contra a medida, mas votaram favoravelmente a ela.
• Veja, 09 de abril de 2003.
Estado, mercado e sociedade no capitalismo
contemporâneo
1. Modelo de desenvolvimento e reformas estruturais
Partido dos Trabalhadores
“O modelo neoliberal patrocinado por FHC é a versão local de um conjunto de reformas
conservadoras internacionais centradas na liberalização comercial e financeira, na
desregulamentação econômica, nas privatizações, na quebra de direitos trabalhistas, na
guerra fiscal, postas em prática desde meados dos anos 80. Este processo destrói parte das
economias domésticas, jogando na pobreza populações inteiras, acentuando os movimentos
migratórios, os conflitos étnicos, o racismo e a xenofobia, gerando tensões sociais e políticas
nacionais e internacionais”.
• PARTIDO DOS TRABALHADORES. Resoluções do XII Encontro Nacional do PT. SP: Partido
dos Trabalhadores, 2001, p. 3. Disponível em . Acesso em 20 de
fevereiro de 2006.
Aloízio Mercadante
“A oposição não ajudou a aprovar as reformas. E errou. O governo anterior [FHC] deu uma
grande contribuição à agenda do país”.
Senador pelo PT-SP.
• Veja, 19 de março de 2003.
Luiz Inácio Lula da Silva
“Nem todo mundo dorme e acorda na mesma hora”.
Explicando porque só com a sua eleição o PT passou a defender as reformas.
• Veja, 21 de maior de 2003.
José Dirceu
“E se eu mudei de posição, e daí?”.
Resposta do então Ministro-Chefe da Casa Civil do governo Lula aos jornalistas que o
confrontaram com votos seus contra as reformas do governo Fernando Henrique Cardoso e
com declarações suas contra a taxação de funcionários inativos do setor público.
• Primeira Leitura. Acessível em edição de 12 de maio
setembro de 2003. Acesso em 22 nov. 2003.
Antonio Palocci
7
“Quero fazer uma autocrítica, porque naquele momento a minha bancada falhou. Nós não
apoiamos a lei. Essa foi uma falha da nossa bancada, e eu me incluo nela”.
Do então ministro da Fazenda do governo Lula, sobre o fato de o PT ter votado contra a Lei
de Responsabilidade Fiscal, durante o governo FHC.
• Primeira Leitura. Acessível em , edição de 07 de maio
de 2005. Acesso em 07 maio 2005.
Pedro Jaime Ziller
“A privatização foi um sucesso do ponto de vista do serviço. Fui um futurólogo de segunda
categoria”.
Ex-sindicalista da CUT e então presidente da Anatel indicado para o cargo por Lula,
admitindo ter errado ao prever que a venda do sistema Telebrás traria elevação de preços e
piora da qualidade dos serviços.
• Veja, 22 de dezembro de 2004.
Luiz Inácio Lula da Silva
“O povo brasileiro quer mudar para valer. Recusa qualquer forma de continuísmo, seja ele
assumido ou mascarado. Quer trilhar o caminho da redução de nossa vulnerabilidade
externa pelo esforço conjugado de exportar mais e de criar um amplo mercado interno de
consumo de massas. Quer abrir o caminho de combinar o incremento da atividade
econômica com políticas sociais consistentes e criativas. O caminho das reformas estruturais
que de fato democratizem e modernizem o país, tornando-o mais justo, eficiente e, ao
mesmo tempo, mais competitivo no mercado internacional. O caminho da reforma tributária,
que desonere a produção. Da reforma agrária que assegure a paz no campo. Da redução de
nossas carências energéticas e de nosso déficit habitacional. Da reforma previdenciária, da
reforma trabalhista e de programas prioritários contra a fome e a insegurança pública”.
• LULA DA SILVA, Luiz Inácio. Carta ao Povo Brasileiro. SP: Partido dos Trabalhadores, 22
jun. 2002, p. 1-2. Acessível em Acesso em 08 abr. 2006.
Cristovam Buarque
“O Lula vem usando a liderança dele para vender o projeto de FHC”.
Do então senador pelo PT-DF (hoje no PDT) e ex-ministro da Educação do governo Lula.
• Folha de São Paulo, 22 de maio de 2005.
Fundação Perseu Abramo
“Certamente a grande atração da estratégia do documento é fundamentar a viabilidade, a
necessidade e o sentido virtuoso de um caminho de baixa intensidade de conflito com as
forças políticas e econômicas que sustentaram o governo Fernando Henrique. Na estratégia
proposta não há um conflito aberto com o FMI (ou com as agências internacionais que se
pautam hoje pelo chamado ‘Novo Consenso de Washington’). Em relação ao capital
financeiro, estabelecem-se as mais nítidas garantias de que os seus interesses continuarão a
ser contemplados e priorizados. Ao grande capital industrial, propõe-se uma linha de
políticas desenvolvimentistas mais ativas. Aos grandes proprietários do campo, compõe-se
um roteiro de uma reforma agrária em escala reduzida”.
Análise crítica sobre o documento “Política Econômica e Reformas Estruturais”, o primeiro a
ser produzido pelo governo Lula para divulgar uma estratégia de desenvolvimento global e
de longo prazo.
• FUNDAÇÃO PERSEU ABRAMO. Os caminhos da transição. Periscópio, n. 25, Maio 2003.
Acessível em Acesso em 05
jun. 2004.
Eduardo Scolese
“Na visão dos opositores, o governo FHC não estava aplicando no país uma reforma agrária
maciça [...], e sim uma política assistencialista de assentamentos rurais. Segundo eles, a
preocupação governamental era ir à mídia anunciar o cumprimento de metas, tendo para
isso inflado seus balanços. O governo, por sua vez, respondia com as metas sempre
8
‘devidamente cumpridas’. [...] o próprio PT, um crítico fervoroso da política fundiária de FHC,
entrou exatamente no mesmo jogo”.
Jornalista.
• SCOLESE, E. De FHC a Lula: manipulações, números , conceitos e promessas de reforma
agrária. SP: Terra Livre, Ano 20, v. 2, n. 23, 2004, p. 129.
Antonio Palocci
“Para nós, o conteúdo da idéia de ruptura é com o modelo de desenvolvimento. Não temos
problema em conviver com instrumentos atualmente utilizados para o equilíbrio econômico
do país. O problema é conseguir gerar uma mudança em que o crescimento econômico
esteja casado com a inclusão social”.
Do então ministro da Fazenda do governo Lula, ao interpretar a expressão “A Ruptura
Necessária”, subtítulo do documento que apresentou as diretrizes do programa de governo
do PT em 2002.
• Teoria e Debate, jun./jul./ago. 2002. Acessível em Acesso em 25
fev. 2006.
Sérgio Abranches
“Guido Mantega definiu ruptura como sendo ‘mudar fortemente’. Não é. Romper um noivado
não é mudar a data do casamento. O verbo para ruptura é romper. O substantivo para
mudar é mudança. O compromisso com metas de inflação, responsabilidade fiscal, reforma
previdenciária, câmbio flutuante e ajuste estrutural do balanço de pagamentos é
continuidade sem continuísmo, não é ruptura. Requer a chancela da maioria partidária,
porque rompe com o que defendia no passado”.
Cientista político.
• Veja, 12 de junho de 2002.
Francisco de Oliveira
“Afasto-me porque não votei nas últimas eleições presidencial e proporcional no Partido dos
Trabalhadores, reiterando um voto que se confirma desde 1982, para vê-lo governando com
um programa que não foi apresentado aos eleitores. Nem o presidente nem muitos dos que
estão nos ministérios nem outros que se elegeram para a Câmara dos Deputados e para o
Senado da República pediram meu voto para conduzir uma política econômica desastrosa,
uma reforma da Previdência anti-trabalhador e pró-sistema financeiro, uma reforma
tributária mofina e oligarquizada, uma campanha de descrédito e desmoralização do
funcionalismo público, uma inversão de valores republicanos em benefício do ideal liberal do
êxito a qualquer preço – o ‘triunfo da razão cínica’, no dizer de César Benjamin –, uma
política de alianças descaracterizadora, uma ‘caça às bruxas’ anacrônica e ressuscitadora das
piores práticas stalinistas, um conjunto de políticas que fingem ser sociais quando são
apenas funcionalização da pobreza – enfim, para não me alongar mais, um governo que é o
terceiro mandato de FHC”.
Cientista Político e um dos fundadores do PT, em artigo no qual justifica sua desfiliação.
• OLIVEIRA, Francisco de. Tudo o que é sólido se desmancha em... cargos. Folha de São
Paulo, 14 de dezembro de 2003.
Luiz Inácio Lula da Silva
“O sentimento predominante em todas as classes e em todas as regiões é o de que o atual
modelo esgotou-se. Por isso, o país não pode insistir nesse caminho, sob pena de ficar numa
estagnação crônica ou até mesmo de sofrer, mais cedo ou mais tarde, um colapso
econômico, social e moral. O mais importante, no entanto, é que essa percepção aguda do
fracasso do atual modelo não está conduzindo ao desânimo, ao negativismo, nem ao
protesto destrutivo. Ao contrário: apesar de todo o sofrimento injusto e desnecessário
que é obrigada a suportar, a população está esperançosa, acredita nas possibilidades do
país, mostra-se disposta a apoiar e a sustentar um projeto nacional alternativo, que faça o
Brasil voltar a crescer, a gerar empregos, a reduzir a criminalidade, a resgatar nossa
presença soberana e respeitada no mundo”. “[...] Será necessária uma lúcida e
criteriosa transição entre o que temos hoje e aquilo que a sociedade reivindica. O
9
que se desfez ou se deixou de fazer em oito anos não será compensado em oito
dias”.
• LULA DA SILVA, Luiz Inácio. Carta ao Povo Brasileiro. SP: Partido dos Trabalhadores, 22
jun. 2002, p. 1-2 [sem negrito no original]. Acessível em Acesso em
08 abr. 2006 [sem negrito no original].
Primeira Leitura
“De Paris, ainda oficialmente como ministro da Educação, o novo presidente do PT, Tarso
Genro, iniciou a campanha do presidente Lula para 2006 com uma promessa de 2002 que
nunca foi comprida. ‘A questão da transição para o modelo de desenvolvimento que gere
distribuição de renda, inclusão social e combata a desigualdade é ainda uma questão em
aberto’, afirmou Tarso, que integra a comitiva presidencial à França [...]. Ele alertou que
esse ‘modelo mais justo’ e ‘mais humano’ não pode ser implementado ‘neste mandato, mas
em um segundo’. Com 25 anos de história, oito de oposição ferrenha à política econômica do
governo FHC e dois anos e meio no poder, a declaração do ministro é uma confissão de que
o partido nunca teve e ainda não tem um projeto de desenvolvimento para o país”.
• Primeira Leitura. Acessível em Acesso em 18 set.
2005.
2. Política econômica
Luiz Inácio Lula da Silva
“A sociedade está convencida de que o Brasil continua vulnerável e de que a verdadeira
estabilidade precisa ser construída por meio de corajosas e cuidadosas mudanças que os
responsáveis pelo atual modelo não querem absolutamente fazer”.
LULA DA SILVA, Luiz Inácio. Carta ao Povo Brasileiro. SP: Partido dos Trabalhadores, 22 jun.
2002, p. 1. Acessível em Acesso em 08 abr. 2006.
Sérgio Abranches
“Existem alguns problemas operacionais de mercado que foram agravados por decisões
recentes do Banco Central sobre fundos de renda fixa. Os agentes econômicos ficaram
desconcertados com o viés de baixa [dos juros] adotado pelo Copom, cuja substância técnica
lhes escapou.
Mas a maior parte do risco atual é de origem política, determinada pelo crescente
negativismo das expectativas. [...] A situação de países que precisam rolar alto volume de
dívidas e fechar a conta do balanço de pagamentos pode deteriorar-se vertiginosamente,
quando se quebra a confiança. A coabitação desconfortável entre um discurso para ‘o
mercado’ e outro, oposto, para a ‘turma de casa’ provoca perda de credibilidade. E quem a
tem perdido mais é o próprio Lula. [...] Candidatos a presidente da República e seus vices
têm de ter visão de chefe de Estado, que podem vir a ser. São co-gestores da estabilidade
monetária e da ordem pública. Têm de esclarecer seus pontos de vista para reduzir a
incerteza. Luís Inácio Lula da Silva não precisa virar um sócio da banca internacional para
cumprir esse papel. Ao contrário, deve é tornar mais explícita a ruptura econômica que
deseja. Como tratará da dívida pública? Qual será sua resposta a uma crise cambial? Que
combinação diferente entre equilíbrio fiscal, inflação e crescimento pretende adotar? Se for
uma equação consistente e franca a exposição das reais intenções, o risco pode até subir por
inconformismo ideológico, mas retornará a patamares administráveis tão logo o mercado
descubra que não é o fim do mundo”.
Cientista político, ao comentar as causas da disparada do risco Brasil em 2002.
• Veja, 26 de junho de 2002.
Antonio Barros de Castro
"O segundo semestre do ano passado [2002] foi muitíssimo pior do que se supõe. Em
virtude do pânico criado pela vantagem do PT nas pesquisas eleitorais, havia condições para
uma crise conjuntural bastante aguda. Anos eleitorais são trágicos, mas 2002 ficou acima da
média. O dólar e o risco-país explodiram”.
1
Economista e professor da UFRJ.
• Veja, 16 de julho de 2003.
Heron do Carmo
"No ano passado, isso [reajustes de preços preventivos] ocorreu quando Lula despontou
como o provável vencedor da eleição. Parte das empresas, que já esperavam um choque na
área de custos, o considerava uma força hostil na economia de mercado.”
Sobre o aumento da inflação na segunda metade de 2002.
Economista e então Coordenador do IPC da FIPE.
• Primeira Leitura. Acessível em Acesso em 26 de abril
de 2003.
José Mauro C. Delella
“A ocorrência de processo eleitoral [em 2006] dá margem a alguma preocupação, podendo
provocar momentos de maior oscilação. Nada, porém, comparável ao observado em 2002,
quando o estresse dos mercados atingiu níveis quase irreais”.
Economista-chefe da Área de Administração de Recursos do Banco Itaú, confirmando que a
eleição de Lula provocou pânico no mercado financeiro.
• DELELLA, J. M. C. Em alta. Ano 5, n. 24, dez. 2005.
Antonio Palocci
“Se for igual e estiver correto, vou continuar fazendo isso por mais dez anos”.
Do então Ministro da Fazenda do governo Lula, durante seminário realizado em
Comandatuba (BA), sobre a continuidade da política econômica do governo FHC.
• Primeira Leitura. Acessível em Acesso em 23 de abril
de 2004.
Fundação Perseu Abramo
“[...] é simplificador classificar de mero continuísmo a estratégia apresentada em relação à
política econômica do governo anterior. O mais rigoroso é dizer, como o próprio ministro
Palocci tem indicado, que trata-se de um aprofundamento e mudanças no interior de uma
mesma racionalidade, tomando como base o segundo mandato de Fernando Henrique
Cardoso.
Trata-se da mesma racionalidade em um sentido profundo. Isto é, o obstáculo central para a
retomada do desenvolvimento está no Estado brasileiro, em seu déficit e na sua estrutura de
privilégios corporativos. As reformas propostas visam criar um ambiente macroeconômico
seguro e virtuoso para as forças de mercado, em um quadro de maior inserção na ordem
econômica internacional. A maior evidência desta continuidade profunda está no convite a
economistas de formação liberal para ocupar os postos chaves da Fazenda, no Banco
Central, na Secretaria de Políticas Econômicas e na Secretaria do Tesouro Nacional. E não
são, pois, apenas retóricos os freqüentes elogios de Palocci a Malan. As críticas importantes
feitas à gestão Malan concentram-se no primeiro mandato de Fernando Henrique, à
valorização artificial do real e ao fato de não ter sido adotado uma política de superávits
primários desde 1994”. [...]
“Há experiências históricas de partidos de esquerda que foram derrotados em função de
planos voluntaristas de mudança. Mas nas últimas décadas o mais comum é o fracasso de
governos eleitos com promessas de mudanças profundas e que foram sendo
progressivamente imobilizados por racionalidades continuístas”.
Análise crítica sobre o documento “Política Econômica e Reformas Estruturais”, o primeiro a
ser produzido pelo governo Lula para divulgar uma estratégia de desenvolvimento global e
de longo prazo.
• FUNDAÇÃO PERSEU ABRAMO. Os caminhos da transição. Periscópio, n. 25, maio 2003.
Acessível em Acesso em 05
jun. 2004.
1
Luiz Inácio Lula da Silva
“Chegou o fim da era do câmbio sobrevalorizado, dos juros altos, das importações
predatórias. Esta era precisa ser trocada”.
• Veja, 02 de setembro de 1998.
“Com a política de sobrevalorização artificial de nossa moeda no primeiro mandato e com a
ausência de políticas industriais de estímulo à capacidade produtiva, o governo [FHC] não
trabalhou como podia para aumentar a competitividade da economia”.
• LULA DA SILVA, Luiz Inácio. Carta ao Povo Brasileiro. SP: Partido dos Trabalhadores, 22
jun. 2002, p. 3. Acessível em Acesso em 08 abr. 2006.
Eduardo Giannetti da Fonseca
“Artificialidade espúria”.
Economista, diretor de comércio exterior da Fiesp e presidente da Funcex, sobre a estratégia
do governo Lula de deixar o câmbio valorizar-se para conter a inflação.
• Primeira Leitura. Acessível em . Acesso em 07 maio
2005.
Partido dos Trabalhadores
“Para o novo modelo, a política fiscal deve significar, antes de tudo, a preservação da
solvência do Estado, através de uma estratégia para a política de juros internos que reduza
sensivelmente o comprometimento do orçamento, superando a política de crescentes
superávites primários, garantindo assim a ampliação de políticas públicas sociais e
econômicas”.
• Partido dos Trabalhadores. Resoluções do XII Encontro Nacional do PT. SP: Partido
dos Trabalhadores, 2001, p. 18. Disponível em . Acesso em 20 de
fevereiro de 2006.
Luiz Inácio Lula da Silva
“Sempre que chegamos às vésperas da reunião do Copom tem gente que entra numa
espécie de TPC, tensão pré-Copom”.
Dirigindo-se aos que criticavam a política de juros altos do Banco Central, em setembro de
2004.
• Veja, 22 de dezembro de 2004.
“Vamos preservar o superávit primário o quanto for necessário para impedir que a dívida
interna aumente e destrua a confiança na capacidade do governo de honrar os seus
compromissos”.
• LULA DA SILVA, Luiz Inácio. Carta ao Povo Brasileiro. SP: Partido dos Trabalhadores, 22
jun. 2002, p. 3. Acessível em Acesso em 08 abr. 2006.
Luiz Fernando Verissimo
“Meu desencanto [com o governo Lula] vem desde o começo, quando anunciaram que a
prioridade seria duplicar o superávit primário. Não votei no Lula para duplicar o superávit
primário”.
• O Globo, 11 de dezembro de 2005.
Luiz Gonzaga de Mello Belluzzo e Maria da Conceição Tavares
“Fazer uma política fiscal autônoma e digna de um setor público moderno, capaz de
sustentar e de estimular a renda, o emprego e a universalização das políticas públicas, é
incompatível com a abertura financeira e com as regras do FMI”.
Tavares é economista. Belluzzo é cientista político e doutor em Economia. Ambos atuaram
como professores titulares do Instituto de Economia da Unicamp.
1
• BELLUZZO, L. G. M.; TAVARES, M. C. “Desenvolvimento no Brasil: relembrando um velho
tema”. In: BIELSCHOWSKY, R. e MUSSI, C. (org.). Políticas para a retomada do
crescimento: reflexões de economistas brasileiros. Brasília, IPEA/Escritório da CEPAL
no Brasil, 2002, p. 169.
Luiz Inácio Lula da Silva
“O povo está saqueando para comer, porque durante dez anos o FMI saqueou a Argentina”.
Sobre a crise social e econômica que abateu a Argentina em 2001.
• Veja, 26 de dezembro de 2001.
Joseph Stiglitz
“O presidente [Lula] preferiu zerar a dívida do Brasil com o FMI do que investir em
programas sociais”.
Prêmio Nobel de Economia, ex-acessor do presidente americano Bill Clinton e crítico das
reformas liberalizantes adotadas na América Latina durante os anos 90.
• Folha de São Paulo, 07 de abril de 2006.
Reinaldo Azevedo
“No dia 10 de outubro de 2002, quando já estava certo que o PT venceria as eleições
presidenciais, ele [Tarso Genro] não economizava. Escreveu: ‘Na verdade, a disputa que
ocorre em nosso Estado é entre o Brasil que está terminando, melancolicamente, com um
modelo econômico que precisa de US$ 30 bilhões para pagar juros e serviços da dívida e o
Brasil que nasce das urnas, com Lula presidente’. [...] Que coisa, não? Entre maio de 2004 e
maio de 2005, o governo que Tarso integra pagou US$ 56,6 bilhões de juros — quase o
dobro daquele número que tanto o escandalizava!”.
Jornalista.
• Primeira Leitura. Acessível em http://www.primeiraleitura.com.br. Acesso em 19 de junho
de 2005.
Sérgio Besserman Vianna
“Não há nada demais em mudar de posição, mesmo que radicalmente. Com a Carta ao Povo
Brasileiro e a política econômica do ministro da Fazenda, Antonio Palocci, o PT mudou. E
mudou para melhor. Ok. Explicações? O ex-ministro José Dirceu (Casa Civil) ora menciona
as exigências da política de alianças, ora necessidades da transição. Palocci, ao contrário,
enfatiza sempre ser a política econômica atual a recomendada para os próximos 20 anos.
Já o ex-ministro Tarso Genro, em entrevista a esta Primeira Leitura na edição de janeiro do
ano passado, afirmava o oposto: a política econômica mudaria na segunda metade do
governo Lula. Ou não seria um governo do PT. Muitas explicações equivalem a nenhuma.
Silêncio. Preço a pagar: no caso, juros mais altos, desemprego maior e interdição do
produtivo debate entre desenvolvimentistas e fundamentalistas sobre quais reorientações
poderiam ser feitas sem prejudicar o compromisso essencial com a responsabilidade fiscal”.
Economista e presidente do IBGE no segundo mandato de FHC.
• VIANNA, Sérgio Besserman. O silêncio como método. Acessível em
Acesso em 12 de fevereiro de 2006.
Ricardo Berzoini
“Serra é visto por setores do empresariado como uma pessoa que poderia partir para uma
visão mais heterodoxa da economia, o que causa insegurança em alguns segmentos
empresariais”.
Do então presidente do PT, ao comentar uma eventual candidatura de José Serra (PSDB-SP)
à presidência em 2006.
• Primeira Leitura. Acessível em http://www.primeiraleitura.com.br. Acesso em 12 de março
de 2006.
1
3. Pobreza e distribuição de renda
Luiz Inácio Lula da Silva
“Acho muito 50 milhões de pessoas passando fome, 40 milhões, são números absurdos. [...]
O Betto [Frei Betto, ex-assessor especial do governo] outro dia disse que 5 milhões de
mulheres morrem de aborto. Eu utilizei em uma palestra na França o número de 25 milhões
de crianças de rua. É uma Argentina, é muito”.
• Declarações feitas em Entreatos, documentário de João Moreira Salles filmado durante os
últimos 30 dias da campanha eleitoral de 2002.
Ruy Martins Altenfelder
“O PT oposição afirmava haver 54 milhões de indigentes. Em menos de cinco meses de
governo Lula, o número foi reduzido em 31 milhões de pessoas. O ministro da Fazenda,
Antonio Palocci, admitiu que o número é, de fato, 23 milhões”.
Presidente do instituto Roberto Simonsen, mostrando como o governo Lula reduziu na caneta
a menos da metade a indigência brasileira.
• Veja, 21 de maio de 2003.
Partido dos Trabalhadores
“A política do atual governo [de Fernando Henrique Cardoso] não respeita as definições
constitucionais e legais e, mais que isso, aprofunda as relações clientelistas, assistencialistas
e tuteladoras, promovendo ações focalizadas, seletivas e desconectadas das demais políticas
sociais. Nosso governo, ao contrário, estará comprometido com a universalização dos
direitos, sem clientelismo nem tutelas.
“Para superar o modelo vigente, os principais desafios são: garantia de eqüidade e
universalização do acesso; responsabilidade estatal pelo financiamento da Política de
Assistência Social na gestão e execução; construção de uma relação qualificada entre
estados e municípios, fortalecendo o sistema descentralizado e participativo; unidade da
política social por meio de um esforço permanente de articulação dos programas; ampliação
da capacidade do Estado, entendendo que as entidades de assistência e ONGs são
complementares e não substitutas das ações estatais. Quanto ao financiamento da política
de assistência social, é necessário garantir o orçamento fiscal definido em lei”.
• PARTIDO DOS TRABALHADORES. Programa de governo 2002. SP: Partido dos
Trabalhadores, 2002, p. 51 [sem grifo no original]. Acessível em
Acesso em 13 set. 2002.
Ministério da Fazenda
“[...] apesar do montante de recursos alocados aos programas sociais pelo governo
central no Brasil não ser pequeno, sua eficácia em diminuir a pobreza ainda é
bastante reduzida. A efetividade dos programas sociais depende tanto da sua focalização
nos grupos de menor renda quanto do seu impacto sobre os beneficiários”.
• GOVERNO DO BRASIL. MINISTÉRIO DA FAZENDA. Política econômica e reformas
estruturais. Brasília: Ministério da Fazenda, abr. 2003, p. 15 [negrito no original].
Aziz Ab’Saber
"No começo do atual governo, quando se falou em Fome Zero, pensou-se em alguns lugares
do Nordeste para servir de piloto. Um deles foi Guaíba, no Piauí. Tudo de Fome Zero foi
então centrado em Guaíba. Acho ótimo do ponto de vista humano, assistencial e social, mas
e os outros 750 mil quilômetros quadrados de sertões diferenciados? Se vou fazer um
assistencialismo sub-regional, tenho de perceber todos os setores e não focar um só. Outro
problema é percorrer as áreas e pensar somente no voto. Isso dá certo para políticos, mas
não para o País. Lula fez propaganda do Fome Zero antes da vitória. [...] O programa está
fracassando. O próprio presidente disse que é preciso reciclá-lo”.
1
Geógrafo. Foi consultor de Lula nas eleições de 1989 a 2002.
• O Estado de São Paulo, 19 de dezembro de 2004.
4. Políticas sociais e de meio ambiente
Fundação Perseu Abramo
“Quais são as consequências do aprofundamento do superávit primário, estabelecendo-se
como piso o máximo praticado na era Malan? Há como se aumentar o salário mínimo
substancialmente, enfrentar o arrocho do funcionalismo público, melhorar qualitativamente a
saúde e a educação públicas, realizar uma reforma agrária mais ampla ou atacar de frente o
atraso nos investimento de infra-estrutura ou mesmo recuperar o atraso nos investimento
em habitação e saneamento com um tal recuo nos gastos do Estado? Qual destes objetivos
seria possível? O documento deveria deixar claro que tais objetivos não seriam alcançados
no período abarcado ou teriam suas metas fortemente reduzidas”.
Análise crítica sobre o documento “Política Econômica e Reformas Estruturais”, o primeiro a
ser produzido pelo governo Lula para divulgar uma estratégia de desenvolvimento global e
de longo prazo.
• FUNDAÇÃO PERSEU ABRAMO. Os caminhos da transição. Periscópio, n. 25, maio 2003.
Acessível em Acesso em 05
jun. 2004.
Eduardo Scolese
“[...] o ministro Rosseto chegou a anunciar aos integrantes do núcleo agrário da bancada do
PT na Câmara dos Deputados que a meta do PNRA [Plano Nacional de Reforma Agrária] seria
de 355 mil famílias até 2006. No dia seguinte, o MST, nas palavras de João Paulo Rodrigues,
chamou o número de ‘ridículo’, o que forçou o governo a inflar tal prognóstico. [...] O
‘ridículo’ do MST tinha como pano de fundo o histórico petista de, enquanto oposição,
prometer desapropriações em massa e números mais audaciosos em torno da reforma
agrária. Em 1994, o candidato Lula prometeu assentar 800 mil famílias. Em 1998, a meta
subiu para 1 milhão”.
Jornalista.
• SCOLESE, E. De FHC a Lula: manipulações, números, conceitos e promessas de reforma
agrária. SP: Terra Livre, Ano 20, v. 2, n. 23, 2004, p. 129.
Cristovam Buarque
"Peço desculpas aos pobres que acreditaram na promessa de um choque social. Peço
desculpas à oposição, à qual chamei de demagógica. [...] Perdeu muito o presidente Lula,
que fica como o chefe de um governo que não cumpre acordos, que não dialoga com
parlamentares, que nem ao menos avisa os vetos que impõe.”
Senador eleito pelo PT DF (hoje no PDT) e ex-ministro da educação no governo Lula,
desculpando-se por ter apoiado o salário mínimo de R$ 260 em troca de um pacote de
medidas sociais que o presidente Lula acabou vetando.
• Site da Revista “Primeira Leitura”, http://www.primeiraleitura.com.br, edição de 25 de
agosto de 2004.
Michael Prütz
“O crédito que o PT tinha foi perdido no recente episódio de corrupção e porque Lula não
conseguiu ter um programa social nem realizar os desejos dos que o elegeram.”
Coordenador da campanha da agremiação partidária da esquerda alemã Iniciativa Eleitoral
Trabalho e Justiça Social.
• Veja, 21 de setembro de 2005.
Aziz Ab’Saber
1
"O setor econômico, certamente, tem resultados consistentes. Isso porque o Palocci obedece
rigidamente às indicações do Fundo Monetário Internacional. Em relação à educação, à
preservação ambiental e a outros pontos, os erros são bárbaros. (...) Na área social, nota
zero. No planejamento, para atender a áreas críticas do País, também nota zero. E há as
falácias, como ‘a transposição das águas do São Francisco vai resolver o problema do semiárido’.
Nota zero, zero, zero”.
"Devemos pensar em um desenvolvimento que não agrida a continuidade da floresta. Lula
assinou comigo essa idéia. Agora diz que a Amazônia não deve ficar intocada”.
Geógrafo. Foi consultor de Lula nas eleições de 1989 a 2002.
• O Estado de São Paulo, 19 de dezembro de 2004.
Classes, partidos e “movimentos sociais”
Leôncio Martins Rodrigues
“No caso do PT, é essa aproximação íntima [entre a “explicação marxista” e a cristã] que
explica o que eu não tinha percebido quando estive na formação do partido: por que a
reunião do lançamento da legenda, um partido de trabalhadores e sindicalistas, em lugar de
se efetuar num bairro operário, preferiu o Colégio Sion, um colégio católico para meninas de
boa família situado no elegante bairro paulistano de Higienópolis?”.
Cientista político.
• Folha de São Paulo, 13 de fevereiro de 2006.
Luiz Inácio Lula da Silva
“A base originária do PT está diminuta. Quando fundamos o PT, a Volkswagen tinha 44 mil
trabalhadores, hoje tem menos de 20 mil. Hoje, tem mais gente na economia informal do
que na formal. Muitas vezes agimos como se fôssemos um partido corporativo. Temos de
mudar o partido, fazer com que haja uma evolução dos nossos companheiros sindicalistas”.
• República, fevereiro de 2000.
Paul Singer
Folha – “Há quem aponte que o partido sem ideais se tornou apenas um mecanismo de
ascensão social de seus membros. O senhor concorda?”.
Singer – “Eu não aceito que tenha acontecido com o partido. É algo que aconteceu [sic!],
mas eu não quero. Claro que não é um problema que as pessoas tenham melhorado de vida
honestamente por causa do PT, mas não criamos o PT para resolver o problema dos petistas.
O partido foi criado para ajudar nas lutas sociais e populares. O fato de o partido ter sido
usado como máquina de ascensão social hoje está mais claro para nós, militantes do PT”.
Economista e um dos fundadores do PT.
• Folha de São Paulo, 13 de fevereiro de 2006.
Leôncio Martins Rodrigues
“[Sem as bandeiras do socialismo e da ética] Sobram [ao PT], basicamente, a ambição e os
interesses pessoais, a vontade de ascensão social e de poder que, na verdade, existe em
todos os partidos e é a mola básica da atividade política. Essa motivação nunca deixou de
existir no PT. Só que estava encoberta por um manto ideológico que constituía, e constitui
em todos os partidos de esquerda, um forte incentivo para a militância gratuita, pelo menos
no começo”.
Cientista político.
• Folha de São Paulo, 13 de fevereiro de 2006.
Roberto Romano
“O principal [setor do PT] são os sindicalistas que dominaram a máquina sindical depois da
democratização. Deixaram seus empregos e passaram a exercer uma liderança política que
os promoveu socialmente. Do ponto de vista social, são arrivistas. Como a única
1
preocupação desse grupo era obter liderança política, não lhe sobrou tempo para o
necessário aprimoramento cultural. Por isso esse grupo pode ser definido como os novosricos
da política. Isso ficou claro na decisão de comprar logo um novo avião presidencial”.
Filósofo e professor de ética e filosofia política da Unicamp.
• Veja, 16 de fevereiro de 2005.
Marco Antonio Villa
"A história do PT incomoda o PT. Enquanto os velhos militantes abandonam o partido, os
oportunistas preenchem com avidez as fichas de filiação. Não precisam mais da história ou
de alguma justificativa ideológica. A adesão é pragmática: querem cargos, poder e, se
possível, alguma sinecura”.
Professor de história da Universidade Federal de São Carlos. O número de filiados do PT
saltou de aproximadamente 400 mil, em 2002, para pouco mais de 826 mil em setembro de
2005.
• Veja, 16 fevereiro de 2004.
Roberto Mangabeira Unger
“Afirmo que as bases sociais do governo Lula são os rentistas [...]”.
Cientista político, sobre a política de juros altos. Em 2007, foi nomeado por Lula para ocupar
uma nova Secretaria, destinada a tratar de “assuntos de longo prazo” .
• UNGER, Roberto Mangabeira. Pôr fim ao governo Lula. Folha de São Paulo, 15 de
novembro de 2005.
Hilary Wainwright
“Tanto Uribitan dos Santos, uno de los artífices de los experimentos participativos en el sur
del país, como Félix Sanchez, el coordinador de la iniciativa para poner en marcha el
presupuesto participativo en la ciudad de São Paulo, una de las mayores metrópolis del
mundo, habían presentado propuestas al gobierno del PT sobre cómo se podría ampliar este
proceso. Habían enviado sus ideas al ministro responsable de las relaciones con los
movimientos sociales, Luis Dulce. Ni siquiera recibieron una respuesta”.
“Esta poca confianza en la democracia participativa por parte de la dirigencia queda muy
bien ilustrada con una anécdota. Cuando Sérgio Baerlie, de la ONG y centro de investigación
Cidade de Porto Alegre, no dejaba de insistir en la presentación de propuestas de
democracia participativa en el ámbito federal, le dijeron: ‘ya tenemos democracia
participativa; tenemos a un obrero en la oficina presidencial’ ”.
• WAINWRIGHT, H.; BRANDFORD, S. (coord.). En el ojo del huracán: visiones de
militantes de izquierda sobre la crisis política de Brasil, p. 9-10. Acessível em
Acesso em 06 fev. 2006.
José de Souza Martins
“Contra o eventual pedido de impedimento do presidente Luiz Inácio, o atual presidente do
PT anuncia que os movimentos sociais serão convocados para defender-lhe o mandato.
Justamente aí está um dos aspectos mais problemáticos da história do Partido dos
Trabalhadores: a cooptação dos movimentos sociais, como se constituíssem o departamento
de agitação social do partido, chamados às ruas por decisão administrativa. [...] A
convocação dos movimentos sociais, para supostamente defender o presidente, muda a
agenda desses movimentos, que estavam planejando manifestação contra a corrupção. Esse
é um sinal de que os movimentos sociais já não existem a não ser como associações de
interesses partidários”.
Sociólogo e professor de Sociologia da USP.
• O Estado de São Paulo, 14 de agosto de 2005.
Partido dos Trabalhadores
1
“A nossa luta pela CPI da corrupção mostrou que só a ampla mobilização popular é capaz de
obrigar o Congresso a punir os que praticaram crimes contra o interesse público. O governo
FHC está esgotado e nossa principal tarefa é construir um programa democrático e popular
de esquerda e uma coalizão de forças capaz de impulsionar nossa vitória nas eleições de
2002”.
• PARTIDO DOS TRABALHADORES. Resoluções do XII Encontro Nacional do PT. SP:
Partido dos Trabalhadores, 2001, p. 2. Disponível em . Acesso em
20 fev. 2006.
Marcelo Coelho
“Passado o período das confissões e dos constrangimentos, o governo Lula e o PT adquirem
uma arrogância que não seria exagero comparar à de Maluf nos seus bons tempos: nada foi
provado, somos os perseguidos, vocês nos devem desculpas, a imprensa nos ataca e este
governo faz mais pelo país do que todos os nossos adversários juntos. [...] Da parte de um
partido antes comprometido com a moralidade pública (e hoje crítico do ‘denuncismo’), não
se nota nenhuma vontade de mudar as regras de financiamento das campanhas, de superar
o predomínio alienante dos marqueteiros, de rever as alianças espúrias do ponto de vista
ideológico, como as que associaram o PT ao PTB, ao PL e ao PP. [...] A sociedade civil só se
mobilizou quando tinha a seu lado algum interesse político-partidário bastante claro. [...]
Sem partidos por perto, e especialmente sem o PT velho de guerra, a sociedade civil se
torna órfã, entregue a uma espécie de revolta desmobilizada, que lembra os anos anteriores
ao processo de redemocratização”.
Jornalista.
• Folha de São Paulo, 16 de outubro de 2005.
A luta política dentro do sistema democrático
1. Projeto nacional e projeto de poder
Frei Betto
“A mosca azul picou uma parcela significativa do PT e do governo. Não quero individualizar.
Fujo disso. Picou em que sentido? Na medida em que um projeto de nação foi abandonado
em favor de um projeto de eleição. Criou-se um projeto de poder sem a consciência de que
este poder deveria ser instrumental, uma ferramenta para o fortalecimento das bases sociais
que ajudaram a construir o PT e o governo, os movimentos populares. Isso foi abandonado”.
Frei dominicano, ex-coordenador de Mobilização Social e ex-Assessor Especial da Presidência
no governo Lula.
• Folha de São Paulo, 12 de fevereiro de 2006.
Cristovam Buarque
“O Lula disse que não quer vender a alma. Só que tem uma coisa pior do que vender a
alma: é vendê-la sem ser em torno de um projeto de nação [...] só do poder pelo poder”.
[...] “O nosso governo está criando uma dívida muito grande com aqueles que sonhavam,
especialmente com os jovens. E hoje virou uma geléia geral. Não há mais diferença entre os
partidos. Não há razões específicas para votar no PT”.
Senador eleito pelo PT DF (hoje no PDT) e ex-ministro da educação no governo Lula.
• Entrevista ao jornal Folha de São Paulo, 22 de maio de 2005.
Leôncio Martins Rodrigues
Folha – “Muita gente deixou o PT. Isso também o enfraquece?”.
Leôncio – “Isso não deve afetar a coesão do PT. Pelo contrário. Os que saíram eram os mais
ideológicos. Agora ficam os mais pragmáticos, o que torna o partido mais homogêneo
politicamente.
Digo ‘politicamente’ porque, a essa altura, o programa, a ideologia e a motivação que
serviram para animar a militância e os eleitores têm pouco papel a cumprir”.
1
Cientista Político.
• Folha de São Paulo, 13 de fevereiro de 2006.
2. Democracia
Roberto Romano
“É preciso ler as pesquisas de opinião sobre o próprio regime democrático. No Brasil, parte
considerável do eleitorado não apóia a democracia e quer líderes autoritários. O PSDB é uma
das últimas fronteiras políticas em prol do Estado democrático de direito. [O PT] joga todas
as cartadas, lícitas ou não, para manter-se no governo. O vale-tudo é seu apanágio, e não
deveria marcar a oposição, em especial a tucana”.
Filósofo e professor de ética e filosofia política da Unicamp.
• Primeira Leitura, http://www.primeiraleitura.com.br, edição de 19 de janeiro de 2006.
Marilena Chaui
“Nunca em toda minha vida presenciei um ódio igual a esse. E sei hoje por quê: é porque
nós fomos o principal construtor da democracia nesse país. E nós não seremos perdoados
por isso nunca”.
Da filósofa da USP, durante reunião do movimento de “Refundação do PT”, ocorrida em
13.09.2005, numa referência às críticas que o partido recebeu pela crise do “mensalão”.
• Primeira Leitura, http://www.primeiraleitura.com.br, edição de 18 de setembro de 2005.
Luiz Felipe de Alencastro
“Essa frase [de Marilena Chaui] é retórica política e não deve levar a maiores
conseqüências”.
Historiador.
• Folha de São Paulo, 19 de setembro de 2005.
Roberto Romano
“O PT pode ter se enxergado assim [democrático], mas a verdade é que o partido foi
durante muito tempo uma instituição claramente antidemocrática. Há quinze anos, Lula deu
uma entrevista ao jornal Folha de S.Paulo dizendo que, se a via parlamentar não desse
certo, recomendaria ao povo a luta armada. Disse isso quando a luta armada já havia sido
abandonada. Naquela entrevista, fica clara sua pretensão messiânica”.
Filósofo e professor de ética e filosofia política da Unicamp.
• Veja, 16 de fevereiro de 2005.
Sérgio Besserman Vianna
“A professora Marilena Chaui, por exemplo, primeiro silenciou, depois, ainda mantendo o
silêncio sobre a verdadeira questão [a chamada crise do “mensalão”], emitiu uma inverdade
já suficientemente desmentida sobre o papel do PT na luta pela democracia. Em relação a
esse ponto, faltou apenas acrescentar que, no fim da década de 1970, período da anistia,
boa parte dos futuros dirigentes do PT era simples e virulentamente contra a palavra de
ordem ‘por liberdades democráticas’, à qual contrapunham a bandeira de ‘liberdade a quem
trabalha’ (sic)”.
Economista e presidente do IBGE no segundo mandato de FHC.
• VIANNA, Sérgio Besserman. O silêncio como método. Acessível em
Acesso em 12 de fevereiro de 2006.
Cristovam Buarque
“E esse projeto do conselho cria uma tentação autoritária. O autoritarismo raramente se
instala de uma vez. Ele chega sempre aos poucos, sem que as pessoas percebam. E, às
vezes, vem disfarçado de boas intenções”.
1
Do ex-ministro da educação no governo Lula e então senador eleito pelo PT do Distrito
Federal, sobre a proposta de instalação do Conselho Nacional de Jornalismo.
• Veja, 18 de agosto de 2004.
Roberto Busato
“O País assiste a um grande desmonte do serviço público, principalmente na ética”. [...]
“Nem nos tempos de Stalin, na União Soviética, se viram casos tão explícitos”.
Presidente da OAB, ao comentar o aparelhamento ideológico de Estado praticado PT.
• O Estado de São Paulo, 23 de abril de 2006.
Fernando Gabeira
Eu não vou entrar no mérito do que é mais grave, se é roubar para fins privados ou roubar
para um partido. O que eu quero é tipificar. Um partido que faz um esquema desses para se
perpetuar no poder tem um ranço totalitário muito sério. Ele está achando que é justo, ético,
legal e patriótico montar uma rede de corrupção para si próprio. O PT acredita que o
benefício dele é eticamente superior ao benefício de outras agremiações. Isso o caracteriza
como um partido não-democrático. Se é essa a justificação que o PT consegue imaginar para
esse comportamento – o de que roubava para o partido, e não para fins privados –, isso, a
meu ver, piora o soneto”.
• Veja, 21 de dezembro de 2005.
Luiz Inácio Lula da Silva
“Nenhum presidente precisou tão pouco do Congresso quanto o Fernando Henrique. Nem o
regime militar desdenhou tanto do Poder Legislativo. Ele governa na base da Medida
Provisória!”.
• República, fevereiro de 2000.
Partido dos Trabalhadores
“FHC exerce um presidencialismo imperial, com agressões seguidas à democracia e à
Constituição, tendo emitido mais Medidas Provisórias do que todos os presidentes desde a
ditadura militar”.
• PARTIDO DOS TRABALHADORES. Resoluções do XII Encontro Nacional do PT. SP:
Partido dos Trabalhadores, 2001, p. 9. Disponível em . Acesso em
20 de fevereiro de 2006.
Média Mensal de Medidas Provisórias Editadas
Governo Medidas Provisórias
Sarney 5,2
Collor 2,9
Itamar 5,2
FHC (primeiro mandato) 3,3
FHC (segundo mandato) 3,6
Lula (até novembro de 2004) 5,4
Fonte: Veja, 15 dezembro de 2004.
Luiz Inácio Lula da Silva
“Muitas vezes, as pessoas se queixam de que tem muita medida provisória, mas acontece
que não temos como parar, ou seja, independentemente de estar no processo eleitoral, os
ministros precisam que as coisas sejam votadas, aprovadas e, muitas vezes, o caminho é
uma medida provisória. Por mim, eu mandaria tudo em projeto de lei. Acontece que nem
sempre as coisas são votadas tão rápido como nós gostaríamos”.
• Site da Primeira Leitura, http://www.primeiraleitura.com.br, acesso em 27 de outubro de
2004.
2
Walter Pinheiro
“Ninguém conversa, ninguém nos ouve, o governo baixa uma Medida Provisória atrás da
outra, as decisões são indefensáveis e depois correm atrás da gente e pressionam para que
votemos logo e não deixemos que as MPs tranquem a pauta do Congresso. Ninguém defende
nada sem convencimento, e nós estamos sendo obrigados a defender o indefensável”.
• Deputado pelo PT-BA.
Primeira Leitura. Acessível em Acesso em 22 ago.
2004.
Fernando Gabeira
“Uma neutralizou o Congresso pelo medo; o outro, pelo pagamento de mesada. Ditadura e
governo Lula compartilham o mesmo desprezo pela democracia, ambos violentaram a
democracia reduzindo o Parlamento a uma ruína moral”.
Deputado Federal eleito pelo PT (hoje no PV), ao falar sobre a crise do “mensalão”.
• Folha de São Paulo, 18 de junho de 2005.
Antonio Fernando Barros e Silva de Souza
“Conspurca-se a manifestação popular, base do sistema democrático, instituindo-se sistema
de enorme movimentação financeira à margem da legalidade, com o objetivo espúrio de
obter a compra de votos de parlamentares à custa do desvio de recursos públicos”.
Procurador-Geral da República, em denúncia oferecida no inquérito sobre o escândalo do
“mensalão”.
• SOUZA, Antonio Fernando Barros e Silva de. Denúncia no inquérito n. 2245. Brasília,
Procuradoria Geral da República, 30 mar. 2005.
3. Relação entre governo e sociedade
Luiz Inácio Lula da Silva
“Se eu ganhasse a Presidência para fazer o mesmo que o Fernando Henrique Cardoso está
fazendo, preferiria que Deus me tirasse a vida antes. Para não passar vergonha. Porque
sabe o que acontece? Tem muita gente que tem o direito de mentir, o direito de enganar. Eu
não tenho. Há uma coisa que tenho como sagrada: é não perder o direito de olhar nos olhos
de meus companheiros e de dormir com a consciência tranqüila de que a gente é capaz de
cumprir cada palavra que a gente assume. E, quando não as cumprir, ter coragem de
discutir por que não cumpriu”.
• Caros Amigos, novembro de 2000.
Roberto DaMatta
“Esses discursos improvisados de Lula deixam claro uma retórica nordestina e emocional,
veemente, que se aproxima da de Sarney e de Collor”.
Antropólogo.
• Veja, 26 de janeiro de 2005.
Luiz Inácio Lula da Silva
“Possivelmente todos eles [os presidentes anteriores] leram muito mais livros do que eu,
possivelmente eram até mais inteligentes. O que não tinham era ligação sentimental e de
coração com os problemas do povo. É uma coisa chamada liga, chamada sangue”.
• O Estado de São Paulo, 11 de novembro de 2005.
Roberto Romano
“A política é feita metade de razão e metade de emoção. Você não pode deixar que ocorra a
supremacia do emocional. Ao forçar demais o pêndulo para o lado do indivíduo, deixa-se de
2
fazer política para criar uma fé. A fé é perigosa. Remove montanhas, mas também joga
bombas e impõe censura”.
Filósofo e professor de ética e filosofia política da Unicamp.
• Veja, 16 de fevereiro de 2005.
José de Souza Martins
“Há no país uma certa carência de populismo, de busca de um pai da pátria. Ou de uma mãe
da pátria, como se viu nas primeiras tendências eleitorais em favor de Roseana Sarney.
Somos um povo que ainda pratica a política como orfandade e não como um direito e como
ato de cidadania. É esdrúxulo, sem dúvida, que o eleito do partido que mais fala em
cidadania seja justamente chamado a vestir o manto sacerdotal do líder carismático e do
enviado de Deus e salvador da pátria”.
Sociólogo e professor de Sociologia da USP.
• Primeira Leitura. Acessível em Acesso em 16 fev.
2003.
Roberto Romano
“Na filosofia política, o poder despótico é definido como o poder daquele que é o pai da
família. Lula tem preferência pela metáfora de se definir como pai do povo. De todas as suas
metáforas, as mais graves são as comparações do país com uma casa e dele com um pai.
Quem lhe deu esse direito? Na Constituição, não há o cargo de ‘pai do povo’. Não aceito,
portanto, que o presidente se defina como tal. Meu pai já morreu, eu sou maior de idade e
não quero um pai cívico. Alguém precisa dizer isso a ele”.
Filósofo e professor de ética e filosofia política da Unicamp.
• Veja, 16 de fevereiro de 2005.
Luiz Inácio Lula da Silva
"O que a gente não pode é deixar a inflação subir. É como quando um sujeito se descuida,
exagera no churrasco e engorda 1 quilo no fim de semana. Para perder esse quilo, demora
meses”.
Afirmação feita em Setembro de 2004.
• Veja, 22 de dezembro de 2004.
Sírio Possenti
“A maioria dos políticos discursa para seus interlocutores, uma parcela da sociedade. Lula se
comunica com a totalidade da população. [...] O presidente faz discursos mais populares e,
de maneira pedagógica, consegue explicar temas mais complexos com facilidade à
população de menor escolaridade. Lula lembra um comunicador popular de massa do rádio
ou da televisão”.
Professor de lingüística da Unicamp, citado pelo jornalista Otávio Cabral.
• Veja, 26 de janeiro de 2005.
Paulo Arantes
“Se eu fosse fazer uma crítica direta ao presidente, diria que isso é a coisa mais execrável
que existe. Esse congelamento, essa imbecilização da opinião pública, tratada como débeis
mentais, na base desses provérbios congeladores e imbecilizadores”.
Filósofo e colaborador da campanha de Lula em 2002.
• Folha de São Paulo, 08 de junho de 2003.
Marcelo Coelho
“De minha parte, faço um mea-culpa aos leitores, ainda que muitos possam julgá-lo
insatisfatório. Fui mais simpático ao PT do que a qualquer outro partido brasileiro. Sempre
achei que havia preconceito e perseguição exagerada contra Lula; por isso muitas vezes
tratei suas tolices com exagerada simpatia. Escrevi mais artigos contra o governo FHC do
2
que contra o governo Lula, embora desde o começo tenha discordado de ambos. Arrependome
de meu ‘bom-mocismo’ com relação ao PT. Mas todas essas coisas, bem ou mal, estão
na esfera das minhas opiniões pessoais, e creio tê-las apresentado desse modo — como
pontos de vista subjetivos — nos artigos que escrevi.”
Jornalista.
• Folha de São Paulo, 25 de agosto de 2005.
Fernando Gabeira
“Faço a minha autocrítica. Blindamos o Lula com o argumento de que as pessoas que
achavam que ele dizia coisas sem sentido eram preconceituosas. Temos que acabar com o
elogio da ignorância”.
Deputado Federal eleito pelo PT (hoje no PV).
• Folha de São Paulo, 04 de setembro de 2005.
4. As oposições
Sérgio Abranches
“PSDB e PFL não sabem o que fazer. O governo está implementando, com mais
autoritarismo e inflexibilidade, a agenda de quando eles eram governo. A disputa sobre o
[projeto de emenda constitucional] 192 descambou para um bate-boca sobre a autoria da
emenda. O PSDB dizia que o governo passava o rolo compressor para fazer o PT votar a
‘emenda Serra’. O PT dizia que estava votando a ‘emenda Jefferson Peres’, para a qual o PT
contribuíra, escoimando os ‘desvios’ do projeto de Serra. Meias verdades. A verdade inteira
é que José Serra, quando senador, redigiu o projeto de emenda à Constituição para
desconstitucionalizar o artigo 192, após longo trabalho, do qual participaram senadores de
outros partidos, como o falecido Vilson Kleinübing, do PFL, e José Eduardo Dutra, do PT. O
senador Jefferson Peres, do PDT, como relator do projeto de emenda, redigiu um
substitutivo que foi aprovado no Senado, com amplo apoio”.
Cientista político.
• Veja, 09 de abril de 2003.
Fundação Perseu Abramo
“Além da governabilidade, parece-se por esta via garantir um diálogo, sem grandes tensões,
com os partidos de centro ou até mesmo conservadores, no Congresso e nos governos
estaduais. Abre-se, inclusive, a perspectiva de ir desarmando a cada passo a formação de
um bloco oposicionista incidindo mesmo sobre sua própria identidade”.
Análise crítica sobre o documento “Política Econômica e Reformas Estruturais”, o primeiro a
ser produzido pelo governo Lula para divulgar uma estratégia de desenvolvimento global e
de longo prazo.
• FUNDAÇÃO PERSEU ABRAMO. Os caminhos da transição. Periscópio, n. 25, Maio 2003.
Acessível em Acesso em 05
jun. 2004.
José de Souza Martins
“[...] se o PT vai governar com o ideário do governo de FHC, como parece, terá enganado
seus eleitores e usurpado votos que deveriam ter sido dirigidos ao candidato que esse
ideário representava. Estaríamos em face de uma fraude. Minha impressão é a de que as
oposições ao governo da aliança política articulada pelo PT estarão cometendo um erro
político se não fizerem essa cobrança, até para que as promessas feitas pelos adversários
sejam depuradas até o sumo. Os eleitores têm direito a essa pedagogia da verdade política,
que não houve na campanha eleitoral, e ao esclarecimento preciso de quem é o destinatário
do apoio e da recusa: o PT ou o PSDB. [...] Portanto, especialmente o PSDB deveria se
preparar desde já para que a próxima eleição presidencial tenha como agenda quem é que
deve ser o gestor de um programa social-democrata de governo, que é o que também
teremos com Lula: o PT, que vai atuar fora de seu campo doutrinário, ou o PSDB, que é
especialista no assunto?”
2
Sociólogo e professor de Sociologia da USP.
• Primeira Leitura. Acessível em Acesso em 18 set.
2005.
Roberto Mangabeira Unger
“Afirmo que a oposição praticada pelo PSDB é impostura. Acumpliciados nos mesmos crimes
e aderentes ao mesmo projeto, o PT e o PSDB são hoje as duas cabeças do mesmo monstro
que sufoca o Brasil. As duas cabeças precisam ser esmagadas juntas”.
Cientista político. Em 2007, foi nomeado por Lula para ocupar uma nova Secretaria,
destinada a tratar de “assuntos de longo prazo” .
• UNGER, Roberto Mangabeira. Pôr fim ao governo Lula. Folha de São Paulo, 15 de
novembro de 2005.
5. Política de alianças
Partido dos Trabalhadores
“Nosso objetivo deve ser o de construir uma aliança ampla, com forças políticas de esquerda
e de centro que estejam em oposição ao governo FHC e às políticas neoliberais e que
concordem com um programa alternativo, capaz de superar os impasses políticos,
econômicos e sociais com os quais o país se defronta. Esse programa deve ser objeto de um
amplo e mobilizador debate”.
• PARTIDO DOS TRABALHADORES. Resoluções do XII Encontro Nacional do PT. SP:
Partido dos Trabalhadores, 2001, p. 13. Disponível em . Acesso em
20 de fevereiro de 2006.
Sérgio Abranches
“A coalizão governista é frágil e minoritária. Para legislar, precisa dos votos que já foram de
FHC. Enquanto estiver implementando a agenda que o próprio PT chamava de neoliberal e
acusava de ser antipopular e contrária aos interesses do país, terá esses votos”.
Cientista político.
• Veja, 09 de abril de 2003.
“A ampliação da base de governo, com o propósito de aprovar as reformas, muda a natureza
política do governo [Lula] de forma irreversível. Enganam-se aqueles que imaginam que,
passada a fase amarga das reformas, possam retornar à via clássica e a uma prática política
mais colada nos princípios programáticos tradicionais. [...] O governo não poderá prescindir
no futuro desse apoio tão estrangeiro ao velho espírito político de seu partido, como sonham
alguns”.
Cientista político, ao analisar “a recepção do PMDB na coalizão governista”.
• Veja, 18 de junho de 2003.
Hélio Bicudo
“Eu tinha uma expectativa de que o governo do PT não seria igual aos anteriores. Lula foi
eleito com 52 milhões de votos e tinha o apoio da população. Tudo que apresentasse à
Câmara e que fosse de apelo popular seria aprovado. Ele não precisaria fabricar uma maioria
loteando o Ministério. E depois da crise do mensalão, pensei que era o momento de o partido
procurar fazer o governo ético e moral. Como não aconteceu, achei que não tinha mais
cabimento a minha permanência no PT”.
Jurista e um dos fundadores do PT.
• Primeira Leitura. Acessível em http://www.primeiraleitura.com.br. Acesso em 11 de março
de 2006.
José Dirceu
“Nós não temos vergonha desse apoio [da direita], pelo contrário: precisamos dele e
agradecemos”.
2
Ex-Ministro Chefe da Casa Civil, ex-presidente do PT e deputado cassado por corrupção.
• Veja, 22 de dezembro de 2004.
Heloísa Helena
“Não posso aceitar que alguns delinqüentes da política nacional sejam aceitos no partido
para garantir a base parlamentar, enquanto nós somos expulsos”.
Da então senadora eleita pelo PT de Alagoas (hoje no PSOL), expulsa do partido por votar
contra a reforma da previdência.
• Veja, 21 de maio de 2003.
Raul Pont
“Eu me sinto mal de ter na base de alianças os que nos torturaram, nos prenderam, nos
mataram”.
Do petista candidato à presidência do partido.
• Site da Primeira Leitura, http://www.primeiraleitura.com.br, acesso em de 09 de outubro
de 2005.
Severino Cavalcanti
"Oposição? Eu não, tá doido. Eu gosto é do governo”.
Do deputado eleito pelo PP de Pernambuco e Ex-presidente da Câmara dos Deputados, que
renunciou ao cargo em virtude de denúncias de corrupção.
• Veja, 30 de março de 2005.
Partido dos Trabalhadores
“As denúncias de corrupção foram se acumulando e, para contê-las, o governo [FHC]
transformou a relação com o Legislativo num balcão de negócios”.
• PARTIDO DOS TRABALHADORES. Resoluções do XII Encontro Nacional do PT. SP:
Partido dos Trabalhadores, 2001, p. 2. Disponível em . Acesso em
20 de fevereiro de 2006.
José Janene
“Se eu soubesse que era tão bom fazer negócio com o PT, já estaria com eles há muito
tempo”.
Deputado pelo PP-PR e líder do partido na Câmara. No governo Lula, indicou pessoas de sua
confiança para comandar a Diretoria de Abastecimento da Petrobras, a Diretoria de Riscos do
Instituto de Resseguros do Brasil (IRB) e a Secretaria de Ciência e Tecnologia do Ministério
da Saúde. Na época, respondia a 16 processos em julgamento no Supremo Tribunal Federal
e era suspeito de sonegar R$ 4 milhões de Reais. Posteriormente, foi um dos principais
acusados no “escândalo do mensalão”.
• Veja, 30 de março de 2005.
Paulo Delgado
“É uma ironia o fato de estarmos vivendo o período de maior infidelidade partidária
justamente no governo do PT, partido até então de maior fidelidade. O sistema partidário
chegou ao máximo de seu fracasso”.
Deputado pelo PT de Minas Gerais, comentando os rearranjos partidários ocorridos com a
crise do “mensalão”.
• O Globo, 01 de outubro de 2005.
6. Os intelectuais críticos
José de Souza Martins
2
“Se alguém quisesse se tornar uma figura pública consagrada bastava entrar para o PT e era
imediatamente beatificado, até mesmo com água benta. Na própria universidade, não raro
ser petista passou a ser proposto e defendido como sinônimo de competência,
discernimento, brilho e virtude acadêmica. Como se os cautos, prudentes e críticos fossem
desprovidos dessas qualidades. Vozes discordantes têm sido caladas, intimidadas ou
ignoradas pela onda vermelha do indiscutível. Nomes de acadêmicos reputados, vivos ou
mortos, têm sido usados para acobertar deficiências e problemas que os espíritos lúcidos e
independentes enxergam e analisam. Intelectuais foram freqüentemente chamados a
montar uma verdadeira fábrica de racionalizações ad-hoc para amenizar os defeitos do
partido e agravar os defeitos dos adversários, especialmente os mais próximos, os da
esquerda não-alinhada aos propósitos corporativos, estreitos e intolerantes”.
Sociólogo e professor de Sociologia da USP.
• Primeira Leitura. Acessível em Acesso em 14 ago.
2005.
Bolívar Lamounier
“O que me intriga é que o PT tem bons quadros intelectuais e não tem coragem de
abandonar idéias antigas. Ora, ninguém sabe para onde vai a globalização. Nem Fernando
Henrique Cardoso, nem Paul Krugman, nem Deus. Portanto, não sabemos o que dará certo
nas opções que estamos fazendo. Mas sabemos com clareza o que deu errado no passado. O
estatismo que vivemos, que é o ideal dessa esquerda, criou uma das sociedades mais
deseducadas do planeta e não resolveu seu principal desafio, que é o problema da
desigualdade de renda. Eles não perceberam que o discurso que adotaram não os levará a
lugar nenhum. Será um caso incorrigível de superficialidade ideológica, como acham alguns
pensadores? Ou falta de coragem de se livrar da pequena patrulha e dizer o que realmente
pensa?”.
Cientista político.
• Veja, 04 de agosto de 1999.
José Arthur Giannotti
“[A academia] falava, falava, escrevia contra [o governo FHC], mas não teve uma análise
que eu conheça que seja realmente isenta, com dados, teorias. Pelo contrário. Acho que a
ida de FHC para o centro, junto com seus intelectuais acólitos, desnorteou a academia, que
acusou uma traição, e não uma nova percepção e uma nova reflexão sobre o processo
brasileiro e mundial. Embora a gente tenha errado naquele momento, imaginando que a
situação externa seria mais favorável ao Brasil com vistas ao crescimento”.
Filósofo e ex-presidente do Centro Brasileiro de Análise e Planejamento – Cebrap.
• Primeira Leitura, julho de 2005.
Mangabeira Unger
“Afirmo que o governo Lula é o mais corrupto de nossa história nacional. Corrupção tanto
mais nefasta por servir à compra de congressistas, à politização da Polícia Federal e das
agências reguladoras, ao achincalhamento dos partidos políticos e à tentativa de dobrar
qualquer instituição do Estado capaz de se contrapor a seus desmandos. Afirmo ser
obrigação do Congresso Nacional declarar prontamente o impedimento do presidente. As
provas acumuladas de seu envolvimento em crimes de responsabilidade podem ainda não
bastar para assegurar sua condenação em juízo. Já são, porém, mais do que suficientes para
atender ao critério constitucional do impedimento. Desde o primeiro dia de seu mandato o
presidente desrespeitou as instituições republicanas [...].
Cientista político. Apoiou a candidatura Lula no segundo turno de 2002 e também na eleição
de 2006. Em 2007, foi nomeado por Lula para dirigir a recém-instituída Secretaria Especial
de Ações de Longo Prazo.
• UNGER, Roberto Mangabeira. Pôr fim ao governo Lula. Folha de São Paulo, 15 de
novembro de 2005.
7. Ética
2
Plinio A. Mendoza, Carlos A. Montaner e Álvaro V. Llosa
“Para ele [o sociólogo James Petras] Lula da Silva é um traidor do Partido dos Trabalhadores
e do ideário radical anticapitalista. Tornou-se um tipo corrupto. Por quê? Porque abraçou o
neoliberalismo. Ou seja, Lula e o PT, quando se apoderam do dinheiro alheio, ou quando
aceitam comissões, o fazem não por serem uma esquerda corrupta, mas porque são
neoliberais e globalizadores”. A volta do idiota. Rio de Janeiro: Lexikon, 2007, p. 180.
Luiz Inácio Lula da Silva
“O assassinato de Celso Daniel foi crime comum”.
• Entrevista concedida ao Fantástico, em 01 de janeiro de 2006.
Bruno Daniel
“Quem aceita a tese de crime comum aceita a tese de que não houve tortura [...] e outras
seis pessoas assassinadas”.
Irmão do prefeito assassinado Celso Daniel, no depoimento na CPI dos Bingos, em 06 de
outubro de 2005.
• Primeira Leitura. Acessível em Acesso em 09 de
outubro de 2005.
Luiz Inácio Lula da Silva
“O PT vai sangrar muito para poder se colocar diante da sociedade outra vez com uma
credibilidade que ele conquistou ao longo de 20 anos”.
• Entrevista concedida ao Fantástico, em 01 de janeiro de 2006.
“Não interessa se foi A, B ou C. Todo o episódio foi como uma facada nas minhas costas.”
Idem, ao se recusar a dizer nomes de quem o teria traído no episódio do “mensalão”.
• Primeira Leitura. Acessível em Acesso em 08 de
janeiro de 2006.
Walter Pinheiro
“Ao evitar este tempo todo dar nomes aos bois, dizer quem o traiu, ele [Lula] prejudicou
ainda mais a imagem do partido”.
Deputado eleito pelo PT-BA, ao comentar a entrevista de Lula ao Fantástico, no dia 04 de
janeiro de 2006.
• Primeira Leitura. Acessível em Acesso em 08 de
janeiro de 2006.
Bolívar Lamounier
“A corrupção que se viu neste ano é de um tipo que não tem paralelo na história do país. Eu
acho que não há dúvida de que o PT montou um esquema para o longo prazo. Tínhamos
uma rede, uma cadeia de práticas e organizações ocultas, cuja finalidade era interligar
publicidade, bancos, empresas, e provavelmente instituições no exterior também [...]”.
• O Estado de São Paulo, 29 de agosto de 2005.
Francisco de Oliveira
“Lula nunca entrou em bola dividida, sempre fez a conciliação por cima. Se desaparece a
liderança carismática que aglutina, vão sobrar os caciques. [...] O PT se tornaria uma
federação de caciques ou confederação de gangues que lutam entre si, sabotam os outros e
vão ao extremo. A criminalidade peronista é espantosa”.
Cientista político, e um dos fundadores do PT, ao falar sobre a possibilidade do petismo se
tornar um “novo peronismo”.
• O Estado de São Paulo, 29 de agosto de 2005.
2
Roberto Romano
“Dois eram os partidos nos quais a ortodoxia ética imperava enquanto ratio essendi: o PT e o
PSDB. No caso petista, a prática mostrou que o elemento ético não residia na alma, mas nos
acessórios teatrais que escondiam o rosto comum da política nacional”.
Filósofo e professor de ética e filosofia política da Unicamp.
• Primeira Leitura. Acessível em Acesso em 22 de
janeiro de 2006.
2