25/08/2005
Governo está em frangalhos e Lula se apóia em política econômica, diz analista Da Redação
O
presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse que ainda não sabe se será
candidato à reeleição no ano que vem e que só vai se decidir no momento
certo. Na reunião do Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social, em
Brasília, o presidente da República falou que o crescimento não será
nenhuma 'Brastemp', mas que vai ser bom. Os ministros estão trabalhando
"feito loucos" para dar conta de todos os projetos, segundo o
presidente, que repetiu não ter nada a ver com a confusão política que
assola o Brasil.
Para o professor de ética e política da Unicamp, Roberto Romano, o governo está "em frangalhos" e o presidente se mantém na credibilidade do ministro Antonio Palocci (Fazenda) e na promessa de que não haverá mudanças na política econômica. "O plano social está parado e o presidente fica se comparando a vultos históricos, aventando a possibilidade remota de uma saída, comparando-se a JK", criticou. Em entrevista a Lillian Witte Fibe, Romano comparou a atual crise política a um trem-fantasma onde, a cada nova curva, nos deparamos com um novo susto. O professor diz não ver luz no fim do túnel da crise. Roberto Romano também comentou sobre a nota assinada pelo presidente da República e os presidentes da Câmara, Senado e Supremo Tribunal Federal afirmando que, a despeito das denúncias, as instituições estão funcionando. "As instituições estão funcionando graças a Deus e não aos que dirigem o país. É estranho que Severino Cavalcanti, o ministro Nelson Jobim (STF), que tem pretensões políticas, e Renan Calheiros, notório candidato a presidente da República, assinarem uma nota junto com o presidente dizendo que está tudo certo. Não está", disse. Reféns de alianças Na opinião do professor, todas as denúncias que assolam o governo revelam que "nós vivemos reféns de alianças complicadas". "O presidente diz que o que aconteceu ao PT foi culpa de gangsteres, mas quem se juntou aos gangsteres?", questiona. Romano lembra que a oposição não apresentou nenhum veto a todas as reformas impopulares apresentadas pelo presidente. "Por que razão fazer alianças com pessoas sem escrúpulos e que nunca mostraram ética na política?" Segundo o professor, há duas respostas para a pergunta. A primeira leva ao Código Civil e a identificação de crimes de ordem particular. A outra é um projeto de poder cujo objetivo seria trazer para o governo pessoas "sem escrúpulos" que funcionariam como instrumentos para fins de ampliação e instalação de um novo tipo de poder dentro do Brasil. Essa segunda hipótese, diz Romano, não funcionou porque, como revelou um dos pivôs da crise, Roberto Jefferson, o governo tratava seus aliados como "prostitutas", com os quais não queria dividir o poder. "Seja no setor criminal ou político, nós vemos ruir um projeto de poder, de controle, que mostrou suas garras nos últimos dois anos, com o Conselho Nacional de Jornalismo, com o combate diário ao Ministério Publico. Neste sentido foi providencial ter estourado esse escândalo todo", disse o professor. "Abraço de afogados" Roberto Romano também comentou sobre o encontro entre Lula e o presidente da Venezuela, Hugo Chávez, que classificou como um "abraço de afogados". "Foi uma impropriedade, um abraço de afogados. Lula foi muito mais prudente em relação ao Chávez quando ele estava no olho do furação", disse. Na opinião do especialista, a visita do presidente venezuelano poderia conduzir a mais radicalização da crise brasileira. "Você tem todo o setor do comércio, da indústria, da classe média intelectualizada no Brasil com pesadas recusas contra o populismo de Chávez. A questão da imprensa é um dos problemas mais sérios do presidente (Chávez) em seu país. Aí esse personagem aparece para dar apoio ao presidente. Lula não precisava desse abraço de urso", disse. |