quarta-feira, 15 de agosto de 2012
Coronelismo nas universidades
"Agora é diferente: os Doutores e Doutoras; os Mestres e Mestras coronéis das Universidades quando exercem “seu ofício” de poder, prejudicam até a terceira geração do desafeto, por que o fazem com “conhecimento cientifico”. Para isso vale tudo: chantagem, mentira, calúnia, fofoca, fuxicos, futricas, roubo, extorsão. Menos assassinato e seqüestro (ainda).
O “diabo a quatro” que for preciso será feito para o exercício do poder desses “coronéis do asfalto” que todos os dias circulam nos campus universitários do mundo inteiro, sempre escondidos atrás de uma imagem intocável de um “cidadão acima de qualquer suspeita”. "
UNIVERSIDADE:
O CONSERVADORISMO MORA AQUÍ
Por Genival Ferreira*
Em 1974, às vésperas dos meus 22 anos de existência conheci minha queridíssima UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO.
Início de março, expectativa lá em cima, Curso de Graduação em
Economia, aula de Antropologia Cultural. De lá para cá só passei alguns
anos fora desta UFPE que adoro. Os demais todos no seu magnífico Campus,
que tanto orgulha a todos os pernambucanos. Cada vez mais bem cuidado,
apesar do descaso do Estado brasileiro com as entidades públicas em
geral, particularmente com as Universidades.
Pois bem, cá estava eu, menino pobre que vendeu picolé, bolo e cocada
nos trens de Sertânia, Sanharó, Escada e Caruaru (na Terra de Vitalino
foi melhor, pois lá eu possuía uma bomboniére), na poderosa UFPE, sonho
de muita gente e realização de poucos.
Universidade para os ricos, como de resto toda a Universidade Pública
brasileira; e eu “enxerido” filho de um pobre ferroviário,
semi-analfabeto, sem poder pagar os glamorosos cursinhos
pré-vestibulares do meu Recife (União Colégio e Cursos era o máximo!)
estava aqui junto de Carlos Wilson Campos, que viria a ser Governador
de Pernambuco, Senador; e Deputado Federal (já no segundo semestre de
1974). Havia outros filhos e filhas de celebridades na minha turma, mas
havia também Neném do DER, Aldenora, Marlene, Marilene, Zuleide (estas nem sei de onde) e Cabral da Celpe. Afinal
de contas precisávamos justificar a estatística nacional de que as
classes menos favorecidas do Patropí conseguem heroicamente preencher
cerca de 15% ou 20% das vagas nas suas Universidades Públicas gratuitas.
Tergiversei outra vez (como diria José Telles).
Cheguei na sala de aula e o que vejo assusta-me positivamente: uma jovem
de pouco mais de 25 anos sentada com as pernas em “xis” sobre a mesa do
professor falando para a turma, fumando Hollyood sem filtro.
Pensei comigo: “que moça desenrolada”! Imaginava tratar-se de colega de
minha turma, tendo concluído mais tarde que era mesmo minha professora
deAntropologia Cultural. E aí pensei: a Universidade é
extremamente “pra frente”, pois minha expectativa era ver um sujeito de
paletó e gravata, falastrão e sisudo a explicar as maravilhas das
profissões universitárias, mas ou menos assim: “os senhores precisam entender que para chegarem aonde eu cheguei, precisam estudar muito e blá, blá, blá etc”.
Qual o quê! Como diria Luiz Gonzaga, eu estava era assistindo uma tremenda de uma aula de Antropologia Cultural, proferida por uma vibrante jovem mestranda substituta da área, cujo Doutor mestre-mor encontrava-se em algum congresso de “alto interesse acadêmico” para a minha Gloriosa UFPE.
Que saudade da minha ignorância! Trinta anos depois concluo (na verdade
eu concluí isso bem antes, mas muito antes mesmo!) que todo aquele
“avanço” na prática não existe e nem existirá; que a Universidade (não
somente a UFPE), é o instrumento mais conservador que a sociedade já
produziu até nossos dias, evidentemente depois da Igreja, da qual
originou-se como Instituição. Aqui costumamos ensinar que o
conservadorismo é prejudicial à sociedade, à empresa e às pessoas; que é
necessário termos ética e responsabilidade social, mas infelizmente,
apenas poucos as praticam no dia a dia. Aprendi mais tarde que o
feudalismo e o coronelismo continuam vivos nos espaços sociais
universitários de todo o mundo (e até já fui vítima deles).
O problema maior que se apresenta nos nossos dias é que o coronelismo
praticado nas Universidades é exercido por pessoas muito preparadas – são Mestres e Mestras; Doutores e Doutoras a
serviço do domínio do poder. Enquanto que o coronelismo praticado nas
cidades do interior do país, quase sempre o era por senhores de engenhos
endinheirados, mas completamente analfabetos (pelo menos quase sempre).
Naquela época os desafetos dos coronéis eram despidos de vantagens
potenciais ou reais e o máximo que lhes acontecia era uma surra, um
castigo, um pequeno desterro (mandava-se o desafeto para uma outra
cidade e por falta de meios eficazes de comunicação nunca mais se ouvia
falar daquela figura).
Agora é diferente: os Doutores e Doutoras; os Mestres e Mestras coronéis das Universidades quando
exercem “seu ofício” de poder, prejudicam até a terceira geração do
desafeto, por que o fazem com “conhecimento cientifico”. Para isso vale
tudo: chantagem, mentira, calúnia, fofoca, fuxicos, futricas, roubo,
extorsão. Menos assassinato e seqüestro (ainda).
O “diabo a quatro” que for preciso será feito para o exercício do poder
desses “coronéis do asfalto” que todos os dias circulam nos campus
universitários do mundo inteiro, sempre escondidos atrás de uma imagem
intocável de um “cidadão acima de qualquer suspeita”.
Analise como é difícil a mudança social que se almeja, se o instrumento
de mudança NÚMERO UM de qualquer sociedade é a Universidade e esta não
se propõe praticar, não por sua culpa, nem oferecer à sociedade que ela
serve, um modelo de atitude tal que possibilite a dizermos: minha
formação se deu na Universidade Tal.
Sim, porque se existe algo absolutamente impróprio é escrevermos num Currículum Vitae: FORMAÇÃO ACADÊMICA (todos
nós o fazemos). Literalmente estamos admitindo que é a nossa FORMAÇÃO
DA ACADEMIA (Universidade), mas como a Universidade não FORMA, mas
apenas INFORMA-NOS, o mais apropriado seria escrevermos: INFORMAÇÃO ACADÊMICA, logo após de termos escrito : “FORMAÇÃO: Escola do Jardim da Infância Municipal Genival Ferreira de Sertânia” , etc ou então: “FORMAÇÃO: Família Ferreira da Silva”, etc, etc.
Caso seja verdade que a Universidade não forma um cristão sequer e se
constate que na nossa entrada na Universidade sejamos “familiarmente mal
formados” ou nossas professoras primárias não consigam nos dar tal
formação, com certeza seremos cada vez mais maliciosos e antiéticos,
pois utilizaremos a Informação que a Universidade nos dá, para o mal e
para os nossos interesses escusos e dos grupos que fazemos parte.
Lembremos que da Universidade sai a maioria dos homens públicos. Os
Vereadores, Prefeitos, Governadores, Deputados, Senadores, Empresários e
Presidentes (com raríssimas exceções). Realmente é difícil!
Depois a gente fica reclamando que são poucos os políticos sérios do
país... Quem manda a Universidade praticar um modelo de (in)formação com
matizes feudais?
*Professor da UFPE e
Presidente da Academia Pernambucana de Contabilidade
Presidente da Academia Pernambucana de Contabilidade
Para a Rádio Universitária AM 820 KHz
e Rádio Capibaribe do Recife – 1230 KHz
e Rádio Capibaribe do Recife – 1230 KHz