sábado, 15 de Maio de 2010
A história de um cão e a avaliação de desempenho
“E toda a realidade/É um excesso, uma violênciacia/Uma alucinação/Extraordinariamente nítida”- Álvaro de Campos.
Corre na Net a história de um cão com um fundo moral. Sem perder mais tempo, mesmo correndo o risco de ela já ser demasiado conhecida, transcrevo-a na íntegra:
“ O dono de um talho foi surpreendido pela entrada de um cão na loja. Enxotou-o, mas o cão voltou logo de seguida.Novamente, tentou enxotá-lo mas reparou que o cão trazia um bilhete na boca. Pegou no bilhete e leu: ‘Pode mandar-me 12 salsichas e uma perna de carneiro, por favor?’
O cão trazia também dinheiro na boca, uma nota de 50 euros. Pegou no dinheiro, pôs as salsichas e a perna de carneiro num saco e colocou-as na boca do cão. O talhante ficou realmente impressionado. Como já estava na hora, decidiu fechar a loja e seguir o cão. Este começou a descer a rua e quando chegou ao cruzamento depositou o saco no chão, pulou e carregou no botão para o sinal ficar verde.
Atravessou a rua e caminhou até uma paragem de autocarro, sempre com o talhante a segui-lo.Esperou pacientemente, com o saco na boca, que o sinal fechasse e a pudesse atravessar.
Na paragem, o cão olhou para o painel dos horários e sentou-se no banco à espera do autocarro. Quando o autocarro chegou, o cão foi até à frente para conferir o número e voltou para o seu lugar. Outro autocarro chegou e o cão tornou a olhar. Vendo que aquele era o autocarro certo, entrou.
O talhante, boquiaberto, continuou a seguir o cão. Mais adiante, o cão levantou-se, ficou em pé nas duas patas traseiras e carregou no botão para mandar parar o autocarro, tudo isto, com as compras ainda na boca.
O talhante e o cão caminharam pela rua até que o cão parou à porta de uma casa pondo as compras no passeio. Virou-se, então, um pouco, correu e atirou-se contra a porta. Tornou a fazer o mesmo, mas ninguém respondeu. Então, contornou a casa, pulou um muro baixo, foi até à janela e começou a bater com a cabeça na vidraça várias vezes. Caminhou de volta para a porta e, de repente, um tipo enorme abriu a porta e começou a espancar o bicho.
O talhante correu até o homem e impediu-o, dizendo:
- ‘Deus do céu homem, o que é que você está a fazer? O seu cão é um génio’. O homem respondeu: - ‘Um génio? Esta já é a segunda vez nesta semana que este cão estúpido se esquece da chave!’
Moral da história? Podes continuar a exceder as expectativas, mas…a tua avaliação depende sempre da competência de quem avalia. Quanto a isso…nada podes fazer”.
Extrapolando a história para os processos de avaliação dos alunos do ensino básico, a conclusão a tirar é a de que essa avaliação é escandalosamente permissiva a ponto de numa prova de exame de Matemática deste ano, destinada a alunos do 2.º ciclo do ensino básico, ser feita a dificílima pergunta sobre o resultado da soma de 5+2!
A notícia que nos chega não esclarece se, devido "aos complexos cálculos" a que a pergunta obrigava para o cérebro de criancinhas de mais ou menos 12 anos de idade, foi permitida a utilização da máquina de calcular a que estavam habituadas assim que transpuseram pela primeira vez os muros da antiga escola primária, hoje escola do 1.º ciclo do ensino básico.
Corre na Net a história de um cão com um fundo moral. Sem perder mais tempo, mesmo correndo o risco de ela já ser demasiado conhecida, transcrevo-a na íntegra:
“ O dono de um talho foi surpreendido pela entrada de um cão na loja. Enxotou-o, mas o cão voltou logo de seguida.Novamente, tentou enxotá-lo mas reparou que o cão trazia um bilhete na boca. Pegou no bilhete e leu: ‘Pode mandar-me 12 salsichas e uma perna de carneiro, por favor?’
O cão trazia também dinheiro na boca, uma nota de 50 euros. Pegou no dinheiro, pôs as salsichas e a perna de carneiro num saco e colocou-as na boca do cão. O talhante ficou realmente impressionado. Como já estava na hora, decidiu fechar a loja e seguir o cão. Este começou a descer a rua e quando chegou ao cruzamento depositou o saco no chão, pulou e carregou no botão para o sinal ficar verde.
Atravessou a rua e caminhou até uma paragem de autocarro, sempre com o talhante a segui-lo.Esperou pacientemente, com o saco na boca, que o sinal fechasse e a pudesse atravessar.
Na paragem, o cão olhou para o painel dos horários e sentou-se no banco à espera do autocarro. Quando o autocarro chegou, o cão foi até à frente para conferir o número e voltou para o seu lugar. Outro autocarro chegou e o cão tornou a olhar. Vendo que aquele era o autocarro certo, entrou.
O talhante, boquiaberto, continuou a seguir o cão. Mais adiante, o cão levantou-se, ficou em pé nas duas patas traseiras e carregou no botão para mandar parar o autocarro, tudo isto, com as compras ainda na boca.
O talhante e o cão caminharam pela rua até que o cão parou à porta de uma casa pondo as compras no passeio. Virou-se, então, um pouco, correu e atirou-se contra a porta. Tornou a fazer o mesmo, mas ninguém respondeu. Então, contornou a casa, pulou um muro baixo, foi até à janela e começou a bater com a cabeça na vidraça várias vezes. Caminhou de volta para a porta e, de repente, um tipo enorme abriu a porta e começou a espancar o bicho.
O talhante correu até o homem e impediu-o, dizendo:
- ‘Deus do céu homem, o que é que você está a fazer? O seu cão é um génio’. O homem respondeu: - ‘Um génio? Esta já é a segunda vez nesta semana que este cão estúpido se esquece da chave!’
Moral da história? Podes continuar a exceder as expectativas, mas…a tua avaliação depende sempre da competência de quem avalia. Quanto a isso…nada podes fazer”.
Extrapolando a história para os processos de avaliação dos alunos do ensino básico, a conclusão a tirar é a de que essa avaliação é escandalosamente permissiva a ponto de numa prova de exame de Matemática deste ano, destinada a alunos do 2.º ciclo do ensino básico, ser feita a dificílima pergunta sobre o resultado da soma de 5+2!
A notícia que nos chega não esclarece se, devido "aos complexos cálculos" a que a pergunta obrigava para o cérebro de criancinhas de mais ou menos 12 anos de idade, foi permitida a utilização da máquina de calcular a que estavam habituadas assim que transpuseram pela primeira vez os muros da antiga escola primária, hoje escola do 1.º ciclo do ensino básico.
Pergunta maquiavélica esta que corre o risco de vir a traumatizar os alunos pela vida fora, mas se bem respondida, pelos crânios mais recheados e melhor preparadas em cálculos difíceis, irá encher de orgulho os responsáveis do ministério da Educação pela percentagem de uns tantos êxitos estatísticos de um sistema educativo exigente e que assim dava uma bofetada de luva branca à crítica injusta de Vasco da Graça Moura, ao escrever sem medir as palavras: “A escola que temos não exige a muitos jovens qualquer aproveitamento útil ou qualquer respeito da disciplina. Passa o tempo a pôr-lhes pó de talco e a mudar-lhes as fraldas até aos 17 anos. (...) Vão para a universidade mal sabendo ler e escrever e muitas vezes sem sequer conhecerem as quatro operações. Saem dela sem proveito palpável”.
Em contrapartida , uns tantos quadros responsáveis pela tutela docente tratam os professores como burocratas, obrigando-os a preencher papéis sem conta e a fazer trabalho de secretaria horas a fio. Burocratas que Marx, dirigindo-se por carta a Engels, descreve “como teólogos do Estado acusando a burocracia de fazer do Estado a sua propriedade privada, com recurso ao espírito de segredo, mantida por uma hierarquia que se protege do exterior pela sua natureza de corporação fechada”. E mais acrescenta Marx que “a actividade verdadeiramente política ou criticamente científica aparecem a esta burocracia ignorante, mas poderosa, como uma traição aos seus interesses, já que a autoridade é o princípio do seu saber e a idolatria da autoridade é a sua mentalidade”.
De forma bem diferente, draconiana mesmo, ao sabor de uma madrasta avaliação para uns, embora mãe protectora para outros, os professores vão sendo avaliados em critérios de que a moral da história acima relatada nos dá conta e em que um simples pormenor pode destruir uma carreira de devoção à res publica e um magistério sem mácula.
Pelo contrário, um simples golpe de asa de sorte ocasional, premeditado, teatralizado mesmo, pode catapultar o seu bafejado autor/actor para altos voos na hierarquia do Estado num país em que “a mediocridade é a lei”, em libelo acusatório do neurocirurgião e literato João Lobo Antunes. E desta forma a história do cão se transforma em fábula de personagens humanas a serem tratadas de forma desumana!