Assédio dos Sarney faz do PT-MA um caso de polícia
José Cruz/ABr
Até aqui, a discussão era política. O PT do Maranhão decidira, em março, dar de ombros para o projeto reeleitoral de Roseana Sarney (PMDB). Em votação apertada –87 votos contra 85— a convenção estadual petista aprovara o apoio à candidatura comunista de Flávio Dino (PCdoB).
Desde então, os Sarney pegam em lanças para reverter a decisão. Querem que o partido de Lula reproduza em solo maranhense a junção nacional PT-PMDB.Em Brasília, José ‘Incomum’ Sarney pôs-se a defender, nos subterrâneos, os interesses da filha-governadora.Súbito, descobriu-se que o cerco dos Sarney ao petismo não é apenas político. O assédio é, sobretudo, monetário.Deve-se a revelação à repórter Sofia Krause. Ela levou às páginas de Veja a notícia de que operadores dos Sarney ofereceram dinheiro a petistas.
Notícia detalhada, com datas, nomes e cifras. Descobriu-se que a cotação de um petê maranhense oscila entre R$ 20 mil e R$ 40 mil. Procurada, Roseana se absteve de comentar.Quatro petês ouvidos pela repórter animaram-se a confirmar as oferta$. Juram que refugaram. Mas um fato indica que alguém pode ter aceitado.Aportou na direção PT federal um curioso abaixo-assinado. Carrega 98 jamegões. Todos se declaram a favor da aliança com Roseana.
Significa dizer que 13 petistas viraram a casaca. Já não estão dispostos a apoiar Flávio Dino, o rival comunista de Roseana. Devem ter suas razoe$. O curioso é que o estímulo financeiro já nem era mais necessário. Premido por Lula, o PT federal já havia decidido intervir no diretório maranhense.A batida de martelo está agendada para 11 de junho, dia em que o diretório nacional do PT se reunirá para dirimir as últimas pendências com o PMDB.Em afronta à decisão de Brasília, o pedaço do PT que ainda pende para o Dino convocara para este final de semana um “encontro estadual extraordinário”.Pretendia-se ratificar o apoio ao PCdoB. Em comunicado oficial, o PT federal proibiu a realização do encontro.
Assina o ofício o secretário nacional de Organização do PT. No texto, ele expõe em letras vivas a desorganização do braço maranhense do partido.Frateschi chega mesmo a mencionar que a pendenga derivou para “ameaças físicas”. Não menciona os argumentos pecuniários dos Sarney. Neste sábado, nas pegadas do noticiário acerbo, o presidente do PT, José Eduardo Dutra, veio à boca do palco para anunciar que decidiu apurar os fatos. "Vamos montar uma comissão da Executiva nacional para apurar os fatos e, quem sabe, instruir um possível processo de quebra de ética”. Quem sabe? A ficha ainda não caiu. Mas o PT do Maranhão não é problema para a Executiva partidária. É caso de polícia. A fase da política expirou no instante em que, para afagar Sarney, um aliado de conveniência, o PT jogou ao mar Dino e seu PCdoB, parceiros históricos.