segunda-feira, 10 de maio de 2010
When I am walking a dark road, I am a man who walks alone.
Credo do Ronin.
“Eu não tenho pais, faço do céu e da terra meus pais.
Eu não tenho casa, faço do mundo minha casa.
Eu não tenho poder divino, faço da honestidade meu poder divino.
Eu não tenho pretensões, faço da minha disciplina minha pretensão.
Eu não tenho poderes mágicos, faço da personalidade meus poderes mágicos.
Eu não tenho vida ou morte, faço das duas uma, tenho vida e morte.
Eu não tenho visão, faço da luz do relâmpago a minha visão.
Eu não tenho audição, faço da sensibilidade meus ouvidos.
Eu não tenho língua, faço da prontidão minha língua.
Eu não tenho táticas, faço da escassez e da abundância minha tática.
Eu não tenho talentos, faço da minha imaginação meus talentos.
Eu não tenho amigos, faço da minha mente minha única amiga.
Eu não tenho inimigos, faço do descuido meu inimigo.
Eu não tenho armadura, faço da benevolência minha armadura.
Eu não tenho espada, faço da perseverança minha espada.
Eu não tenho castelo, faço do caráter meu castelo.”
Ultimamente tenho a real vontade de mandar tudo, realmente tudo às favas e simplesmente sair por aí, sem rumo ou destino certo. Creio que este seja o sonho de fuga para quem está sufocado neste inferno que chamamos de vida urbana, especialmente se esta vida urbana ocorre em qualquer cidade grande brasileira (creio que nas pequenas também).
Estou cansado deste comportamento agressivo demonstrados por boa parte da população urbana, da repetida falta de educação no convívio social, seja em trânsito, transporte coletivo, filas, espaços públicos e principalmente nesta atitude cínica e despreocupada que alguns demonstram diante do caos institucional que esta nação vive. Isto tudo faz com que fique cada dia mais amargo.
Estou cheio de pessoas que tentam catalogar, rotular e ordenar pessoas em nichos, grupos, etnias ou na categoria que seja. Sempre há um iluminado perguntado o que você é. Odeio esta pergunta, sempre a odiei e sempre a respondo do mesmo modo: “eu não sou nada”.
Não pertenço à coisa alguma, não me sinto parte coisa alguma, não sirvo a nenhuma causa maior e não carrego bandeira alguma, na verdade sempre detestei bandos e grupos, fujo deles, nunca fiz parte de nenhum e jamais farei. Não me associo a nenhum deles, ao contrário, vejo o indivíduo com mentalidade de matilha com desprezo.
Estes dias estava exatamente pensando a respeito, ao mesmo tempo em que pesquisava em alguns velhos livros sobre bushido a origem de um golpe de Aikido, a dúvida era fruto de uma conversa com meu irmão, queria me certificar se o tal golpe era realmente originário do estilo que afirmei na conversa. Quando me deparei com este credo do ronin, obra de um autor desconhecido, estas frases foram encontradas entalhadas em uma tábua de um templo em Edo (nome antigo de Tóquio), possivelmente escritas no fim da era Tokugawa onde os ronins se encontravam em grande número, as palavras mostram o desapego pelo qual os ronins viviam, na realidade uma tortura para uma classe militar treinada para servir um senhor, empenhar sua alma e sua espada a uma casa shogunal, o texto é mais um lamento do que uma observação virtuosa ao desapego. Entretanto, calhou bem para traduzir o que realmente sinto neste momento.
Gosto de não pertencer a nada, creio que não saberia viver de outro modo, gosto da liberdade verdadeira de não dever obrigação a grupo algum, de ter que defender comportamento e atitudes escandalosas de “irmãos” de bando, de precisar fazer mea culpa ou cinicamente defender idéias torpes ou descalabros cometidos por lideres, ícones, modelos ou o que seja.
Não me ruborizo ou dou de ombros pelo ato cometido por um “dos meus”. Eu não tenho “os meus”. Não me vejo irmanado com ninguém pelo fato de nascer no mesmo local, de possuir gostos em comum ou por simplesmente viver no mesmo lugar em que vivo. Acho medonho este tipo de comportamento ele demonstra uma fraqueza sem par.
A cada dia que passa tomo a consciência que não pertenço à coisa alguma, não devo projetar meus fracassos ou meus anseios de triunfo sobre o fracasso ou triunfo de ninguém. Principalmente tenho a completa certeza que possuo muito pouco em comum com a maioria da população deste país.
Realmente tem horas que dá vontade de atirar tudo para alto e colocar o pé na estrada, não retornar nunca mais e jamais ficar por muito tempo em um lugar só.