Existe o costume, no Brasil, de esculhambar TUDO o que é brasileiro. Impossível deixar de conceder que boa parte dos nossos costumes são detestáveis. Aqui impera o favor, a covardia diante do poder, do dinheiro e da força. Os pobres obedecem e bajulam quem manda, os ricos idem. Mesmo assim, não penso que somos a pior sociedade do planeta. E tenho boas razões para tal juízo. Basta ver como operam, entre nós e com a subserviência de pobres, classe média e ricos, muitas empresas estrangeiras que para cá vieram com o sentido de enriquecer suas burras. Telefonica? Um lixo espanhol que alia modos arrogantes e incompetência absoluta. Fico apenas, por enquanto, neste verdadeiro icone da virulência ignara espanhola.
Anteontem e trás-anteontem, tive a experiência da grosseria, incompetência, e coisas afins na francesa Leroy-Merlin. "Moderna", esta empresa amealhou a fama de possuir bons produtos, de qualidade correta e preços acessíveis. E a partir daí, após desbancar a concorrência, passou a mostrar as garras. A começar dos produtos, nem tão bons nem tão acessíveis em termos de preços. Suas lojas são um amontoado de mercadorias, sem novidades tecnológicas, ajuntadas segundo lógicas que, certamente, espantariam Wittgenstein ou Aristóteles. E para economizar no orçamento próprio, ela decreta que suas prateleiras devem ser acessadas pelo cliente, no estilo "self service". Mas com a lógica ilógica (e ela veio da França, onde supostamente o cartesianismo deveria imperar) de suas distribuições, faz-se premente o "auxílio" de um funcionário.
E aí chegamos ao pior: os empregados são negligentes, grosseiros, arrogantes (afinal, trabalham numa empresa estrangeira...) e descuidados. Seu salário não deve ser grande coisa, dado o afinco com o qual se reúnem em rodinhas para namorar, contar piadas, etc. na face do cliente. que espera, sem ajuda. Trás-anteontem eu procurava um galão de massa corrida. Não encontrei o quesito em nenhuma prateleira do setor. Postei-me diante do balcão "de atendimento" e alí fiquei durante bom tempo. O rapaz que estava no interior do balcão, de quando em quando me olhava, olhava e continuava seu labor de escrever coisas num papel qualquer. Sequer o tradicional "posso ajudar ?". Passado o tempo e a paciência, perguntei se alguém poderia me ajudar na busca do produto. "Nos corredores, um dos meninos pode lhe ajudar", disse ele, sem desgrudar os olhos do que fazia. Procurei os "meninos", ninguém ou nada. Faço a ronda das prateleiras e volto ao balcão. O moço que não me atendeu ria às escâncaras com mais três colegas, que deveriam estar atendendo os clientes. Falo em tom alto : "alguém poderia me atender, por favor". A cara de nojo dos quatro tornou-se evidente. Um deles, o menos grosseiro, me perguntou o que eu desejava. "Massa corrida" (enunciei a marca pedida pelo pintor). "Por aqui", e se dirigiu o funcionário ao fundo das prateleiras, um lugar escondido e quase invisível, onde não existia a marca pedida pelo pintor. Aí, veio a "sugestão" para que eu comprasse o produto "com a marca Leroy-Merlin". Pensei com meus botões: se o produto for tão bom quanto o atendimento, melhor não levar. Desisti da compra e me dirigi para um velho e bom estabelecimento brasileiro, na Rua dos Pinheiros, onde fui, como sempre, atendido de imediato com gentileza e competência. Ufa! Enquanto a loja não tiver, nas suas proximidades, um Leroy-Merlin qualquer, estamos salvos.
Mas o drama continuou ante-ontem. Em minha casa, dadas as reformas que estamos fazendo, precisamos de prateleiras para colocar nos armários recem construídos. E vimos no Leroy-Merlin que alí existia um serviço de corte de madeiras, para ajustar ao tamanho desejado pelos clientes. O atendente foi gentil, mas sem demasiada competência, pois nos disse não possuir no estoque pranchas adequadas ao que desejávamos. Compramos, no mesmo Leroy-Merlin, outro tipo de prateleira e quando saíamos da loja, vimos que existia, sim, a prancha que queríamos. Só que seria preciso cortar. Mesmo após ter pago as prateleiras inúteis, achamos que valia a pena comprar a prancha que melhor nos atendia. Compramos a prancha inteira e pedimos que ela fosse dividida em três. O funcionário assim fez . E colocou, corretamente, na prancha a ficha com o código de barras dando o preço da peça.
No caixa "de idosos" (na frente de nós, quatro rapazes bem abaixo dos trinta anos, mas tudo bem) a encarregada pelo caixa cobra por três peças, quando o preço era apenas para uma. Dissemos que estava errado, porque se tratava de apenas uma peça. A face de ódio número 120 se acende. A nossa palavra de nada valeu, nem mesmo o código de barras, que dizia o preço exato. "O procedimento é VOCÊS trazerem um papel, atestando o preço verdadeiro". E ostensivamente chamou o fiscal, que, não poderia ser de outro modo, nos deu razão e rápido foi embora. "Não haverá", perguntei, "nenhum pedido de desculpas?". "Não, porque estou seguindo o procedimento da firma". "Firma esta" repliquei, "que se transformou, bem ao jeito francês e brasileiro de capitalismo, em cartório". Disse mais: "sou tentado a denunciar, na imprensa, os procedimentos desta firma". "VOCÊ deve vir aqui nos domingos, para ver que é bem pior". Replica minha: "minha filha, esta fila é dos idosos e tenho idade para ser seu avô, trate de me respeitar, ´você´ deve ser usado em seu círculo íntimo, familiar, não aqui". "Na minha casa, trato meu pai de senhor. Aqui, com estranhos, trato de você". Na França, tal forma de tratamento seria corrigida, por quem de direito, imediatamente, porque alí ainda existe respeito pelas pessoas, e ninguém ousa tratar de modo íntimo um cliente. Aqui...a firma Leroy-Merlin aceita tal falta. Chamo o gerente, um amaciador de situações, sem nenhuma autoridade. "O senhor pode se queixar por escrito". Deixei num papelucho mínimo, meu juízo sobre a grosseria dos funcionários. Nada mais pode ser escrito, dada a exigüidade do espaço no papel.
Assim, o que ocorre no Leroy-Merlin é a ganância, a grosseria, a falta de modos, a incompetência galo-brasílica. Um imenso acúmulo de "processos", com "procedimentos", nos quais o imperativo capitalista de atendimento respeitoso ao cliente não existe. É capitalismo ao modo absolutista, anacrônico.
Rezo para que surja um outro tipo de empresa, que dissolva nas cinzas de sua incompetência os Leroy-Merlin e quejandos. Talvez seja apenas uma utopia, mas "procedimentos" selvagens, como o que sofri, expulsam clientes, cedo ou tarde.
Não sei quanto aos demais brasileiros, dado existir certa camada de masoquismo nacional que barra protestos. Mas nunca mais comprarei um prego no Leroy-Merlin. E sempre que me pedirem minha opinião, direi clara e distintamente: "c´est de la merde".
RR
Anteontem e trás-anteontem, tive a experiência da grosseria, incompetência, e coisas afins na francesa Leroy-Merlin. "Moderna", esta empresa amealhou a fama de possuir bons produtos, de qualidade correta e preços acessíveis. E a partir daí, após desbancar a concorrência, passou a mostrar as garras. A começar dos produtos, nem tão bons nem tão acessíveis em termos de preços. Suas lojas são um amontoado de mercadorias, sem novidades tecnológicas, ajuntadas segundo lógicas que, certamente, espantariam Wittgenstein ou Aristóteles. E para economizar no orçamento próprio, ela decreta que suas prateleiras devem ser acessadas pelo cliente, no estilo "self service". Mas com a lógica ilógica (e ela veio da França, onde supostamente o cartesianismo deveria imperar) de suas distribuições, faz-se premente o "auxílio" de um funcionário.
E aí chegamos ao pior: os empregados são negligentes, grosseiros, arrogantes (afinal, trabalham numa empresa estrangeira...) e descuidados. Seu salário não deve ser grande coisa, dado o afinco com o qual se reúnem em rodinhas para namorar, contar piadas, etc. na face do cliente. que espera, sem ajuda. Trás-anteontem eu procurava um galão de massa corrida. Não encontrei o quesito em nenhuma prateleira do setor. Postei-me diante do balcão "de atendimento" e alí fiquei durante bom tempo. O rapaz que estava no interior do balcão, de quando em quando me olhava, olhava e continuava seu labor de escrever coisas num papel qualquer. Sequer o tradicional "posso ajudar ?". Passado o tempo e a paciência, perguntei se alguém poderia me ajudar na busca do produto. "Nos corredores, um dos meninos pode lhe ajudar", disse ele, sem desgrudar os olhos do que fazia. Procurei os "meninos", ninguém ou nada. Faço a ronda das prateleiras e volto ao balcão. O moço que não me atendeu ria às escâncaras com mais três colegas, que deveriam estar atendendo os clientes. Falo em tom alto : "alguém poderia me atender, por favor". A cara de nojo dos quatro tornou-se evidente. Um deles, o menos grosseiro, me perguntou o que eu desejava. "Massa corrida" (enunciei a marca pedida pelo pintor). "Por aqui", e se dirigiu o funcionário ao fundo das prateleiras, um lugar escondido e quase invisível, onde não existia a marca pedida pelo pintor. Aí, veio a "sugestão" para que eu comprasse o produto "com a marca Leroy-Merlin". Pensei com meus botões: se o produto for tão bom quanto o atendimento, melhor não levar. Desisti da compra e me dirigi para um velho e bom estabelecimento brasileiro, na Rua dos Pinheiros, onde fui, como sempre, atendido de imediato com gentileza e competência. Ufa! Enquanto a loja não tiver, nas suas proximidades, um Leroy-Merlin qualquer, estamos salvos.
Mas o drama continuou ante-ontem. Em minha casa, dadas as reformas que estamos fazendo, precisamos de prateleiras para colocar nos armários recem construídos. E vimos no Leroy-Merlin que alí existia um serviço de corte de madeiras, para ajustar ao tamanho desejado pelos clientes. O atendente foi gentil, mas sem demasiada competência, pois nos disse não possuir no estoque pranchas adequadas ao que desejávamos. Compramos, no mesmo Leroy-Merlin, outro tipo de prateleira e quando saíamos da loja, vimos que existia, sim, a prancha que queríamos. Só que seria preciso cortar. Mesmo após ter pago as prateleiras inúteis, achamos que valia a pena comprar a prancha que melhor nos atendia. Compramos a prancha inteira e pedimos que ela fosse dividida em três. O funcionário assim fez . E colocou, corretamente, na prancha a ficha com o código de barras dando o preço da peça.
No caixa "de idosos" (na frente de nós, quatro rapazes bem abaixo dos trinta anos, mas tudo bem) a encarregada pelo caixa cobra por três peças, quando o preço era apenas para uma. Dissemos que estava errado, porque se tratava de apenas uma peça. A face de ódio número 120 se acende. A nossa palavra de nada valeu, nem mesmo o código de barras, que dizia o preço exato. "O procedimento é VOCÊS trazerem um papel, atestando o preço verdadeiro". E ostensivamente chamou o fiscal, que, não poderia ser de outro modo, nos deu razão e rápido foi embora. "Não haverá", perguntei, "nenhum pedido de desculpas?". "Não, porque estou seguindo o procedimento da firma". "Firma esta" repliquei, "que se transformou, bem ao jeito francês e brasileiro de capitalismo, em cartório". Disse mais: "sou tentado a denunciar, na imprensa, os procedimentos desta firma". "VOCÊ deve vir aqui nos domingos, para ver que é bem pior". Replica minha: "minha filha, esta fila é dos idosos e tenho idade para ser seu avô, trate de me respeitar, ´você´ deve ser usado em seu círculo íntimo, familiar, não aqui". "Na minha casa, trato meu pai de senhor. Aqui, com estranhos, trato de você". Na França, tal forma de tratamento seria corrigida, por quem de direito, imediatamente, porque alí ainda existe respeito pelas pessoas, e ninguém ousa tratar de modo íntimo um cliente. Aqui...a firma Leroy-Merlin aceita tal falta. Chamo o gerente, um amaciador de situações, sem nenhuma autoridade. "O senhor pode se queixar por escrito". Deixei num papelucho mínimo, meu juízo sobre a grosseria dos funcionários. Nada mais pode ser escrito, dada a exigüidade do espaço no papel.
Assim, o que ocorre no Leroy-Merlin é a ganância, a grosseria, a falta de modos, a incompetência galo-brasílica. Um imenso acúmulo de "processos", com "procedimentos", nos quais o imperativo capitalista de atendimento respeitoso ao cliente não existe. É capitalismo ao modo absolutista, anacrônico.
Rezo para que surja um outro tipo de empresa, que dissolva nas cinzas de sua incompetência os Leroy-Merlin e quejandos. Talvez seja apenas uma utopia, mas "procedimentos" selvagens, como o que sofri, expulsam clientes, cedo ou tarde.
Não sei quanto aos demais brasileiros, dado existir certa camada de masoquismo nacional que barra protestos. Mas nunca mais comprarei um prego no Leroy-Merlin. E sempre que me pedirem minha opinião, direi clara e distintamente: "c´est de la merde".
RR