Eleições - uma otima analise de um colunista do Co rreio, insuspeito de ter simpatia pelo Serra(Alon Feuerwerker)
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- Eleições - uma otima analise de um colunista do Co rreio, insuspeito de ter simpatia pelo Serra(A...
- Data:
- 09/05/2010 08:39
Dificuldades políticas (09/05)
Quando você começa a ter ruídos de comunicação, deve buscar as razões na política. Políticos adoram culpar os comunicadores pelos problemas que eles, políticos, criam — ou não sabem resolver
O presidente da República introduziu esta semana formalmente no discurso a variável “quando eu pedir votos para a Dilma”. Quanto realmente Lula conseguirá de votos para a candidata do PT? Eis um tema para preencher o tempo até, pelo menos, a chegada do horário eleitoral no rádio e na televisão.O assunto vem sendo tratado aqui, sempre com cautela. A verdade deve estar em algum ponto entre o ufanismo oficialista e o desdém oposicionista. Resta esperar pelos números.
Há porém um fato a analisar: Luiz Inácio Lula da Silva ter vindo a público para fazer a declaração. Ele poderia optar pelo trivial, o de hábito. “A campanha vai bem, exatamente como planejamos. Cada coisa tem sua hora. Liderança nas pesquisas é importante, mas o que decide mesmo é o eleitor no dia da eleição.”O cardápio de frases feitas é conhecido e está disponível para todos os candidatos. De graça. Mas o presidente deu-se ao trabalho de dar uma explicação. Ou seja, admitiu a existência de um problema. Quem se explica já está errado por definição. Eis uma verdade absoluta.
O comportamento público de Lula não é o único sintoma. De semanas para cá, nota-se a necessidade de ajustes na campanha de Dilma. Como também é hábito, a responsabilidade acaba lançada sobre os bodes expiatórios de sempre. São os supostos “escorregões da candidata”, ou os inevitáveis “problemas na comunicação”.O desempenho pessoal de Dilma tem correspondido na essência, e ela está em visível evolução. Como falta bastante tempo para a urna, a ex-ministra tem espaço para corrigir as insuficiências. E a comunicação? Qualquer um que tenha colocado os pés numa campanha eleitoral sabe: esta anda em sintonia finíssima com a política.
Quando você começa a ter ruídos de comunicação, deve buscar as razões na política. Políticos adoram culpar os comunicadores pelos problemas que eles, políticos, criam — ou não sabem resolver.O governo tem um desafio no plano do discurso. Foi detectado por Elio Gaspari: preparou-se para uma linha de debate, sem antes combinar com os adversários. O PT/governo pode ainda empurrar o PSDB/oposição para a armadilha de fixar-se na defesa do passado, deixando para o petismo a bandeira do futuro? Sim, mas não está sendo fácil.
O enigma maior talvez esteja em outra área. Sempre é bom esperar o desfecho das articulações, mas a campanha governista enfrenta desafios incômodos no estados. Esta coluna é pequena para fazer a lista, basta dar uma olhada no noticiário.Um caso é São Paulo. Ontem no pré-lançamento de Geraldo Alckmin (PSDB) a governador viu-se algo inédito no último quarto de século: as diversas facções e alas tucanas absolutamente unidas, coesas com o PMDB e também com o Democratas. E com a simpatia velada do PP nos bastidores. É um paradoxo: na eleição em que tem formalmente mais alianças em São Paulo, o PT nunca esteve tão perto de ficar isolado de todas as demais correntes históricas de São Paulo.
Outro exemplo é Pernambuco, onde o senador Jarbas Vasconcelos (PMDB), em meio de mandato, aceitou uma disputa dificílima contra o governador Eduardo Campos (PSB) para dar um palanque forte ao PSDB nacional e um alicerce para as chapas locais. Assim, Campos deve enfrentar, unida, a aliança que derrotou seu avô, Miguel Arraes. O socialista larga como favorito e tem Lula, mas eleição é eleição. A oposição conseguiu um palanque forte também no Rio de Janeiro. Está a caminho de consegui-lo no Rio Grande do Sul e no Paraná. No Ceará, a condução amadora e tosca do assunto Ciro Gomes por Lula realavancou a liderança do senador Tasso Jereissati (PSDB). No Amazonas, há uma crise potencial no governismo, dividido entre duas candidaturas, detalhe que pode levar uma delas a deixar de ser governista. Na Bahia, o PT vai conseguindo forjar uma liga inédita contra ele, entre o DEM, o PSDB e o PMDB. Vitaminada por outros herdeiros políticos do carlismo. Se você conhece a Bahia sabe o tamanho do problema do PT na eleição dali. A situação geral é bem descrita pelo deputado federal Paulo Delgado (PT-MG), há muito tempo um outsider no establishment petista. “Entre os políticos, mesmo quem é Lula não é PT de jeito nenhum.”
E voltamos ao início desta coluna.
O presidente da República introduziu esta semana formalmente no discurso a variável “quando eu pedir votos para a Dilma”. Quanto realmente Lula conseguirá de votos para a candidata do PT? Eis um tema para preencher o tempo até, pelo menos, a chegada do horário eleitoral no rádio e na televisão.O assunto vem sendo tratado aqui, sempre com cautela. A verdade deve estar em algum ponto entre o ufanismo oficialista e o desdém oposicionista. Resta esperar pelos números.
Há porém um fato a analisar: Luiz Inácio Lula da Silva ter vindo a público para fazer a declaração. Ele poderia optar pelo trivial, o de hábito. “A campanha vai bem, exatamente como planejamos. Cada coisa tem sua hora. Liderança nas pesquisas é importante, mas o que decide mesmo é o eleitor no dia da eleição.”O cardápio de frases feitas é conhecido e está disponível para todos os candidatos. De graça. Mas o presidente deu-se ao trabalho de dar uma explicação. Ou seja, admitiu a existência de um problema. Quem se explica já está errado por definição. Eis uma verdade absoluta.
O comportamento público de Lula não é o único sintoma. De semanas para cá, nota-se a necessidade de ajustes na campanha de Dilma. Como também é hábito, a responsabilidade acaba lançada sobre os bodes expiatórios de sempre. São os supostos “escorregões da candidata”, ou os inevitáveis “problemas na comunicação”.O desempenho pessoal de Dilma tem correspondido na essência, e ela está em visível evolução. Como falta bastante tempo para a urna, a ex-ministra tem espaço para corrigir as insuficiências. E a comunicação? Qualquer um que tenha colocado os pés numa campanha eleitoral sabe: esta anda em sintonia finíssima com a política.
Quando você começa a ter ruídos de comunicação, deve buscar as razões na política. Políticos adoram culpar os comunicadores pelos problemas que eles, políticos, criam — ou não sabem resolver.O governo tem um desafio no plano do discurso. Foi detectado por Elio Gaspari: preparou-se para uma linha de debate, sem antes combinar com os adversários. O PT/governo pode ainda empurrar o PSDB/oposição para a armadilha de fixar-se na defesa do passado, deixando para o petismo a bandeira do futuro? Sim, mas não está sendo fácil.
O enigma maior talvez esteja em outra área. Sempre é bom esperar o desfecho das articulações, mas a campanha governista enfrenta desafios incômodos no estados. Esta coluna é pequena para fazer a lista, basta dar uma olhada no noticiário.Um caso é São Paulo. Ontem no pré-lançamento de Geraldo Alckmin (PSDB) a governador viu-se algo inédito no último quarto de século: as diversas facções e alas tucanas absolutamente unidas, coesas com o PMDB e também com o Democratas. E com a simpatia velada do PP nos bastidores. É um paradoxo: na eleição em que tem formalmente mais alianças em São Paulo, o PT nunca esteve tão perto de ficar isolado de todas as demais correntes históricas de São Paulo.
Outro exemplo é Pernambuco, onde o senador Jarbas Vasconcelos (PMDB), em meio de mandato, aceitou uma disputa dificílima contra o governador Eduardo Campos (PSB) para dar um palanque forte ao PSDB nacional e um alicerce para as chapas locais. Assim, Campos deve enfrentar, unida, a aliança que derrotou seu avô, Miguel Arraes. O socialista larga como favorito e tem Lula, mas eleição é eleição. A oposição conseguiu um palanque forte também no Rio de Janeiro. Está a caminho de consegui-lo no Rio Grande do Sul e no Paraná. No Ceará, a condução amadora e tosca do assunto Ciro Gomes por Lula realavancou a liderança do senador Tasso Jereissati (PSDB). No Amazonas, há uma crise potencial no governismo, dividido entre duas candidaturas, detalhe que pode levar uma delas a deixar de ser governista. Na Bahia, o PT vai conseguindo forjar uma liga inédita contra ele, entre o DEM, o PSDB e o PMDB. Vitaminada por outros herdeiros políticos do carlismo. Se você conhece a Bahia sabe o tamanho do problema do PT na eleição dali. A situação geral é bem descrita pelo deputado federal Paulo Delgado (PT-MG), há muito tempo um outsider no establishment petista. “Entre os políticos, mesmo quem é Lula não é PT de jeito nenhum.”
E voltamos ao início desta coluna.