London calling
Os comunistas, essa espécie em extinção que ninguém quer preservar, costumavam aconselhar o eleitor britânico a votar no Partido Conservador porque isso aceleraria o colapso do capitalismo.
Pois justamente depois do colapso do capitalismo como o conhecíamos, após sua pior crise desde os anos 1930, particularmente aguda no Reino Unido, adivinhe em quem os britânicos acabam de votar para substituir os trabalhistas no poder: o Partido Conservador.
Ou seja, não foram políticas dos conservadores que levaram ao colapso do capitalismo e colocaram os comunistas no poder, mas o contrário: o colapso do capitalismo financeiro 2.0 é que levará os conservadores de volta ao poder depois de anos de domínio trabalhista.
A eleição britânica desenrolou-se à sombra desse colapso financeiro que ameaça o futuro do Reino Unido como potência líder do Ocidente. Mas todos os três grandes partidos, Trabalhista, Conservador e Liberal-Democrata, defenderam na campanha uma receita papai-mamãe do capitalismo: equilíbrio fiscal, cortes de gastos, melhora no ambiente de negócios.
Ninguém saiu defendendo um Estado forte, como se faz por aqui, mas um Estado mais eficiente, que reduza suas dívidas e pese menos no bolso dos britânicos para que eles possam desenvolver o país novamente.
O mundo agora olha para a tragédia grega e aprende. Aposentadorias generosas a funcionários públicos, salários privilegiados aos servidores gregos, gastos irresponsáveis do governo (conservador, diga-se) foram a receita de morte súbita para a economia da Grécia depois que a crise financeira tornou insustentável a rolagem dessa roda-gigante presa no ar.
A estranha eleição britânica impôs aos três principais partidos um discurso de austeridade e corte de gastos, o oposto do que se espera de políticos em campanha, o que mostra não só a gravidade da situação econômica, mas também maturidade do sistema político e falta de propostas viáveis da esquerda diante da grande crise capitalista.
Se a crise felizmente enterrou a fé simplista nos mercados financeiros, ela também anulou a esquerda tradicional como alternativa viável de poder. O país que mais ajuda o mundo a se recuperar da crise, a China, o faz mergulhando agressivamente e de corpo e alma no capitalismo.
Assim, a vanguarda da oposição ao capitalismo hoje se deslocou dos antigos chavões esquerdistas para um conservadorismo ambiental que vê e busca limites ao desenvolvimento (capitalista).
É a "prosperidade sem crescimento", como cunhou Tim Jackson, comissário para Crescimento Sustentável do governo britânico, em relatório oficial tornado best-seller editorial. Nele, Jackson ataca a noção de que desenvolvimento significa crescimento econômico num planeta de recursos finitos e cada vez mais escassos. Um argumento essencialmente reacionário que ignora a extraordinária capacidade de adaptação e inovação tecnológica do ser humano.
Ao socialismo já demos adeus, e a eleição britânica é a última prova dessa conquista. Sem sua fantasia, na lata de lixo da história, os ex-socialistas agora se assumem como reacionários ambientais antidesenvolvimentistas.A bandeira ambientalista é justa, importante e urgente, mas essa política reacionária contra o desenvolvimento, não.
Não passarão!