quinta-feira, 6 de maio de 2010

De Rerum Natura...

sexta-feira, 7 de Maio de 2010

A contribuição árabe para o desenvolvimento da Astronomia


Post recebido de António Mota de Aguiar (na imagem, astrónomos árabes):

No século VII, o pensamento científico grego estava ainda largamente difuso no Médio Oriente, mesmo se não produzia obras originais, encontrava-se contudo emergido noutras tradições, noutras culturas, noutras ciências. Portanto, sob um manto geral de indigência cultural havia o substrato legado pela ciência grega.

É nestas condições que chegam os Árabes. Ao mesmo tempo que no Ocidente a ciência atingia o seu ponto decrépito, os Árabes, povo sem ciência, entravam repentinamente no cenário geopolítico do Médio Oriente. Em poucos decénios, este povo desconhecido, destrói os grandes impérios que dominam a região e difunde até às fronteiras da Índia uma nova religião. Entre 632, data da morte do profeta Maomé, e 646, o Islão conquista a península arábica, as regiões da Síria-Palestina, a Mesopotâmia e a Arménia, e chega às planícies do Iraque e do Irão. Logo a seguir, é a vez do Egipto ser também conquistado. Em menos de quinze anos desaparece o Império sassânida e o Império bizantino sai consideravelmente diminuído e enfraquecido.

O saber astronómico dos Gregos chega aos Árabes através da Índia em consequência das conquistas de Alexandre, o Grande. Bagdad, nos séculos IX e X, e o Cairo, nos séculos X, XI e XII, constituem grandes centros astronómicos florescentes. Os trabalhos dos gregos são traduzidos e estudados. O astrolábio é aperfeiçoado e multiplicam-se as observações. São criadas tabelas com os índices dos movimentos astrais, utilizados com fins astrológicos e, sobretudo, marítimos (com as posições das latitudes e longitudes).

Durante os séculos X e XI dão-se grandes progressos na astronomia árabe. Mesmo em 1258, quando Bagdad cai nas mãos das invasões bárbaras dos Mongóis, a investigação astronómica continua e durante a ocupação Mongol são criados novos centros de observação.

A partir do século X a ciência árabe começa a penetrar no Ocidente, nomeadamente Córdoba e Toledo tornam-se centros de estudos astronómicos importantes. Pouco a pouco as obras gregas vão ser traduzidas para latim. O emprego sistemático da trigonometria à astronomia, constitui também uma importante herança deixada pelos Árabes.

Apesar destes enormes sucessos no domínio das observações e do cálculo astronómico, os Muçulmanos não foram inovadores científicos. Quase sempre os seus trabalhos se desenvolveram dentro da tradição cosmológica herdada da Grécia Antiga. Não acrescentaram nenhuma técnica qualitativa ao sistema ptolemaico, além de não terem sabido criar um calendário que acertasse com precisão as suas festas tradicionais com as diferentes posições da Terra ao longo da eclíptica: havia portanto desfasamento nas datas de um acontecimento para o outro. O Ramadão, por exemplo, a festa religiosa muçulmana que se realiza no ano da Hégira, o calendário muçulmano, não caía na mesma altura do ano.

Além destas contrariedades científicas, a ciência astronómica islâmica também teve os seus inimigos políticos: os astrónomos/ astrólogos eram mal vistos à luz do Corão, porque a lei islâmica diz que ninguém para além de Deus pode prever o futuro. Por isso os edifícios onde se encontravam os aparelhos de medição da época - Planetários, diríamos hoje - foram muitas vezes demolidos.

Mas a cristandade soube recuperar o saber antigo a partir das traduções feitas pelos Árabes, com destaque para a obra de Ptolomeu, “O Almageste” (as traduções árabes chamam-lhe Al-Magiste cujo significado é “O Maior”; posteriormente as traduções europeias efectuadas a partir do árabe, viriam a chamar-lhe “Almageste) e, graças a eles, deu decisivos passos em frente no conhecimento astronómico.

Foi, portanto, já no fim da Idade Média, por volta do século X, que o Ocidente descobriu nos estudos árabes o saber da astronomia antiga, trabalho este que perdurará até cerca do século XII, e que será um dos principais pilares do despontar do Renascimento.